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Quem visita o blog há algum tempo sabe que eu sou afeito a comemorar datas e efemérides por aqui. Foi assim com o centésimo post, foi assim com o aniversário do blog, e é assim agora, um dia após ir ao ar a centésima crítica de filme (se considerarmos O Poderoso Chefão como um só) que eu escrevi para o Amortescimento. Quando eu penso na quantidade de filmes que 100 representa, fico um pouco espantado de, após somente um ano, já ter chego a isso, mas fico ainda mais espantado, e maravilhado, ao perceber a quantidade de filmes que ainda falta ver, a quantidade de filmes que todos os não vistos representa, e como 100 é um número tímido e quase desprezível em comparação a ela.
Mas esses 100 são os que eu vi, e os que eu tive vontade de escrever a respeito. E por isso eles se afiguram especiais, para mim. Sobre eles, escrevi o que fui capaz a cada momento. Muitas vezes, uma segunda audiência me traz idéias novas, uma visão mais completa, mais fresca do filme, mas aí já é tarde demais: ao menos por enquanto. As minhas críticas às vezes atingem um sucesso razoável em sua análise, mas às vezes falham miseravelmente. Se por vezes detalho simbolismos, personagens e enredos, outras vezes me limito à sinopse e a uma constatação genérica sobre o tema do filme, sem destacar seu discurso. A falha, aí, pode estar em minha visão do filme, em meu texto, em minha boa vontade, mas ela nunca está no filme, por um simples motivo: só posto aqui críticas de filmes dos quais eu gosto um mínimo. Às vezes vejo defeitos, limitações, etc., mas nunca escreverei uma crítica que destrua um filme aqui no blog, pois mesmo que eu odeie alguma obra, o que é difícil, preferirei ignorá-la a falar mal de sua criação.
Isso porque a lide cinematográfica é um ofício que me desperta paixão. O cinema, a emoção em movimento, é um sonho a 24 frames por segundo. O último fade-out é o susto, o primeiro abrir de pálpebras após o sono, e o subseqüente maravilhamento que sentimos à medida que as luzes da sala se acendem e os corpos começam a se mover nas cadeiras é análoga à confusão mental do pós-sono que lentamente se dissipa na claridade da manhã. A imagem e o texto convergem na tela, após serem repetidos incontáveis vezes até se encontrar o registro perfeito, após o roteiro dar lugar ao storyboard dar lugar ao ensaio dar lugar ao take dar lugar à mão do cineasta que com cuidado e perícia monta tudo isso e transforma na ilusão definitiva.
Os grandes gênios são incontáveis, tanto os vistos quanto os não vistos. Aquele para quem o mundo dos sonhos não tinha segredos, o grande Tarkovski. Bergman, que com humildade negou sua importância inigualável para a arte, sua importância como a mente que vê no mundo maravilha e horror, e questiona e se aprofunda na alma do homem. Fellini, progenitor do bizarro, do absurdo simbólico, do humor que se transforma em drama que se transforma em verdade. Kurosawa, o agregador, sempre disposto a construir seus filmes como se constrói outras artes, todas elas, o feitor de “óperas” eternas singelas, de artes plásticas, música, literatura, dança e teatro se confundindo e se tornando uma só coisa sob o olhar da câmera. Buñuel, que trouxe o horror e o surreal que se escondem lá no fundo para bem perto dos nossos olhos. E tantos outros que cito e continuo a citar aqui, para que sejam apreciados, Ford, Hitchcock, Welles, Kubrick, Capra, Wilder, Chaplin, Coppola, Truffaut, Herzog, Wenders, Antonioni, Scorsese, Person, Sganzerla...
Os gênios pioneiros, Eisenstein e Griffith e Vertov, e os contemporâneos, Lynch, P.T. Anderson, Joel e Ethan Coen... do primeiro filme de todos, Chegada do Trem à Cidade, até uma obra-prima do ano passado, Wall-E, os 100 filmes que já vieram parar naquela coluna ali à esquerda são representantes da melhor arte que o ser humano produziu no último século. Se ainda há lacunas terríveis ali, como o expressionismo alemão, mais coisas do cinema mudo, etc., o que me move é o desejo de preenche-las. Pois o cinema, a despeito dos recorrentes discursos apocalípticos, é uma arte viva, capaz de surpreender, e que possui ainda uma longa história de triunfos e obras sublimes. Ontem, dia do meu aniversário, o número de filmes comentados no blog chegou a 100. Mas eu sou novo. Hoje, começa a nova centena, e com os anos e as décadas que estão por vir se multiplicarão os nomes que hoje ali se mostram. Sempre em movimento: assim é o cinema, arte implacável do tempo. E assim pretendo ser, quanto a isso, não deixando nunca arrefecer o fogo que em meu peito arde de sede da arte que nunca pára. Luzes, câmera, som...
Ação!
P.S.: Perdoem o desfecho brega. E esse mês não tem leituras, mas mês que vem tem! Voltem dia Primeiro de Abril para as críticas de livros, queridos. Ou não.
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Um comentário:
Que venham mais 1.000!
Grande abraço, amigo. Continue nesse caminho!
Abraços.
Do seu leitor,
elienai
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