quinta-feira, 21 de agosto de 2008

8 1/2

Há filmes que nos emocionam, filmes que nos fazem rir, filmes que nos encantam, e mesmo aqueles que nos assombram. Há, porém, poucos filmes, para cada pessoa, que podem levá-la além. Na primeira vez em que são vistos, já a tomam de assalto, a deixam indefesa, prostrada. Para mim, até alguns dias atrás, só dois filmes haviam me levado para esse estágio além do encanto e do espanto. Duas quintas-feiras atrás, porém, um terceiro filme foi acrescentado a essa lista. Ele foi me envolvendo, envolvendo, envolvendo, e de tal maneira, que, em seus trechos finais, mal conseguia piscar, meus olhos tragados pelas imagens em movimento, não querendo perder sequer um frame.

Tal filme, como é evidente pelo título desse post, trata-se de Oito e Meio, a obra-prima maior do cineasta italiano Federico Fellini. É complexo explicar do que se trata esse filme. Basicamente, é a história de um cineasta em crise, que organiza as filmagens de um épico de ficção-científica mas nunca chega a consumá-las. Ao mesmo tempo, encontra sua vida pessoal totalmente conturbada, com a amante e a mulher o rodeando o tempo todo e uma atriz que não sai de sua cabeça.

Este filme é especialmente querido pelos cineastas, posto que apresenta, de certa forma, as dificuldades criativas de um diretor de cinema, e muitas das coisas pelas quais ele tem que passar. Mas, apesar disso, é um filme extremamente pessoal. Guido, o protagonista, é claramente o próprio Fellini, sendo assaltado por todos os lados pelos mais diferentes algozes: os produtores, a equipe e os atores de seus filmes; seus amigos; suas mulheres; e sua infância. Sem nenhuma intenção de soar compreensível ou contar uma história linear, Fellini joga seus personagens do passado para o futuro rapidamente, e vice-versa, e mal distingue a diferença entre realidade e sonho. Nos flashbacks, é interessante reconhecer temas e personagens que voltariam a aparecer em sua obra-prima posterior, Amarcord, especialmente Saraghina, uma das mulheres da vida de Guido.

Mas a história geral é um mero detalhe, aqui. O que importa são as cenas, os fragmentos, os estilhaços de memória, de sonho e de vida que Guido carrega dentro de si, e, sobretudo, as imagens que Fellini cria. Pois Oito e Meio é pura magia do cinema. A trilha sonora (de Nino Rota), a fotografia, o andamento das cenas, tudo: tudo é belíssimo, perfeito, cada fotograma transpira uma “cinematez” tamanha que só nos resta, mesmo, ficar de olhos arregalados e orar aos Deus da Sétima Arte para que aquilo não termine nunca.

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