Já há um certo tempo, para um filme ser bom, na visão, sobretudo, dos executivos, é necessário seguir ao menos uma de duas prerrogativas: ou ele ganha muitos prêmios, ou faz muito dinheiro. Com isso, pode-se dizer que tornou-se mais difícil a vida daqueles filmes descompromissados, que querem simplesmente divertir, mas sem apelar ao clichês dos arrasa-quarteirão. Por outro lado, o aumento do investimento em filmes e o alto retorno das bilheterias possibilitou coisas que antes não poderiam sequer ser sonhadas. E quem ganhou com isso foram os bons e velhos nerds, que puderam finalmente ver nas telas o que antes ou eles imaginavam, ou viam em imagens estáticas. Isso porque os filmes mais alardeados atualmente são aqueles de temática fantástica, ficção científica, ou adaptações de quadrinhos e épicos de fantasia. Com efeito, a esmagadora das produções de Hollywood atualmente, ou ao menos as dos grandes estúdios, são adaptações (de livros, quadrinhos, séries de TV etc.), remakes (de filmes antigos ou estrangeiros - lembrem-se que os americanos não gostam de legendas) ou continuações (Duro de Matar, Rambo, Rocky, Indiana Jones). Devido a isso, poderia se dizer que Hollywood vive uma crise criativa.
Por outro lado, nunca os filmes arrecadaram tanto. A cada ano, os rankings de bilheteria se renovam, e são anunciadas novas grandes produções. Os filmes são gerados pensando-se numa história que seja divertida, fantasiosa, e permita a maior inserção possível de impressionantes efeitos especiais. Vivemos na Era do Blockbuster, e é especialmente significativo falar disso hoje, o dia em que o mito-fundador desta Era, o clássico absoluto Star Wars (com o posterior acréscimo Episódio IV - Uma Nova Esperança) foi ultrapassado na arrecadação de bilheteria em todos os tempos nos EUA pelo filme do ano, Batman - O Cavaleiro das Trevas, que assumiu o segundo lugar, atrás apenas de Titanic, do qual falarei mais adiante. Star Wars mantém o posto, e um ainda mais importante, de segunda maior bilheteria de todos os tempos, no mundo todo (atrás apenas de ...E o Vento Levou), quando os valores de ingresso são corrigidos pela inflação, mas o fato de Batman tê-lo ultrapassado no outro ranking é algo extremamente representativo.
Antes de prosseguir, vamos ao ranking prometido no post:
1. Titanic (Idem, James Cameron, 1997)
2. O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (The Lord of the Rings: The Return of the King, Peter Jackson, 2003)
3. Piratas do Caribe: O Baú do Homem Morto (Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest, Gore Verbinski, 2006)
4. Harry Potter e a Pedra Filosofal (Harry Potter and the Sorcerer's Stone, Chris Columbus, 2001)
5. Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (Pirates of the Caribbean: At World's End, Gore Verbinski, 2007)
6. Harry Potter e a Ordem da Fênix (Harry Potter and the Order of the Phoenix, David Yates, 2007)
7. O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (The Lord of the Rings: The Two Towers , Peter Jackson, 2002)
8. Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma (Star Wars: Episode I - The Phantom Menace, George Lucas, 1999)
9. Shrek 2 (Idem, Andrew Adamson, 2004)
10. Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, Steven Spielberg, 1993)
(Fonte: Box Office Mojo)
Analisemos-na: Dos dez filmes da lista, dez são dirigidos por nerds (James Cameron, para quem não sabe, dirigiu os dois primeiros Exterminador do Futuro, o segundo Alien e um filme chamado Piranhas II), nove tem temática fantástica, de fantasia ou ficção científica (tirando Titanic, claro), cinco são adaptações literárias (Senhor dos Anéis e Harry Potter, além de Jurassic Park), dois foram baseados em um brinquedo de parque de diversões (Piratas do Caribe), um dá sequência há uma saga que começou nos "muito, muito distantes" anos 70 (Star Wars), e somente dois partem de premissas originais, sendo que um deles é, a bem da verdade, uma grande paródia (Shrek), e o outro é baseado num acontecimento real (Titanic).
O filme mais antigo da lista é de 1993, mas também pudera: Jurassic Park inaugurou a era do CGI (computer-generated imagery - computação gráfica) no cinema, além de ter sido revolucionário no uso de animatronics. Dois dos filmes são de 2007, ano passado, e apenas outros dois, além de Jurassic Park, são da década de 90. Outro detalhe interessante: apenas dois não são continuações, ou fazem parte de uma saga. E, tirando Titanic, são todos um combo de comédia, drama, e aventura.
(Titanic, aliás, é um caso a parte, uma verdadeira aberração. Ficou meses em cartaz, mesmo!, e arrecadou 600 milhões nos EUA, além de outro 1,2 bilhão no resto do mundo. É virtualmente impossível superar a arrecadação de Titanic nas bilheterias, ainda que, é fato, nas arrecadações "periféricas", como brinquedos, jogos, DVD, enfim, produtos derivados, o filme não seja tão forte, e Star Wars seja imbatível.)
O que podemos concluir, daí? Que o lema de Hollywood atualmente é olímpico: Citius, Altius, Fortius - mais rápido, mais alto, mais forte. Faz-se um filme pensando-se em sua continuação (geralmente em forma de trilogia), que terá mais efeitos especiais, mais batalhas, mais aventura, e, frequentemente, muito menos cérebro. Claro que isso às vezes resulta em coisas extasiantes como O Senhor dos Anéis. Porém, resulta também em fiascos, em filmes absolutamente vazios, débeis, idiotas. Espero, enfim, que não seja necessário um colapso de Hollywood (a concorrência com o DVD e a internet está cada vez mais difícil) para que os executivos e produtores acordem e resolvam fazer, juntos com os grandes e divertidos filmes de fantasia, filmes mais próximos de nós, mais originais, mais diferentes.
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Hummus
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