quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Alien, o Oitavo Passageiro

A nave está tomada pelo silêncio e não se vê nenhum ser vivo. Os corredores vazios permanecem inescrutáveis, e o ar não acusa nenhum movimento. De repente, surge em uma tela até então apagada uma mensagem. Imediatamente os sete tripulantes da nave, que até então hibernavam, são acordados, e contentes começam a conversar, imaginando que, se a nave os acordou, é porque estão perto da terra, perto de casa. Mas a verdade é diferente: o computador que pilota a nave chama o capitão e avisa que eles desviaram da rota para atender a um chamado de origem desconhecida. Prontamente eles se dirigem até o planeta fonte do chamado, e ali descobrirão algo que nenhum (nenhum?) deles esperava...

Alien, o Oitavo Passageiro, é uma união de gêneros, influências e talentos. O diretor Ridley Scott, trabalhando sobre o roteiro de Dan O’Bannon, utilizando um visual criado por ele e pelo ilustrador H. R. Giger, misturando terror e ficção-científica, criou um aterrorizante filme, uma obra hipnótica, fascinante e única. Na fase de divulgação do filme, a frase estampada nos pôsteres resumia bem o clima do filme: “No espaço, ninguém vai ouvir você gritar”. Pois, nesse filme, não é só o personagem título que nos deixa com medo.

Quanto aos aspectos exteriores do filme, dois chamam a atenção. Um deles é a ambientação/visual. Scott sempre teve um apuro enorme na concepção visual de seus filmes, e em Alien não foi diferente. O filme praticamente inaugurou o uso de um visual sujo e escuro em naves espaciais, em forte contraste com a brancura e limpeza de filmes como 2001. Todo o design do Alien e do que o envolve (a nave em que ele é encontrado, suas várias fases de desenvolvimento) foram concebidos por H. R. Giger, cujo estilo único, surreal, obsceno casou perfeitamente com a criatura que atormenta os tripulantes da Nostromo.

Tudo isso foi muito importante para o terror que o filme provoca, mas mais importante ainda foi o clima criado por Scott. A música, mínima, aparece muito pouco. Mais presente, e opressor, é o silêncio da nave (e do espaço), cenário perfeito para os gritos, gemidos, respiração ofegante e ranger de dentes dos pobres tripulantes. E mais: a criatura do título pouco aparece, mas sua presença é sentida (e temida) o tempo todo. De fato, o Alien só aparece na metade do filme, uma hora após o início, e após isso faz pequenas incursões, sempre surgindo do escuro para atacar alguém. Essa ausência do personagem, assim como acontece em Tubarão, é ponto fundamental para o suspense e o medo gerados.

No plano interior, para além do medo/emoção/diversão (enormes, por sinal) provocados pelo filme, não é exagero de interpretação enxergar alguns simbolismos no monstro-título e no enredo do filme. O Alien é, visto de um certo ângulo, personificação do desconhecido que nos aguarda Lá Fora. Nós o tememos, e por causa dele, somos desviados de nossa rota, afastados de casa, e submetidos às piores agruras. Por causa dele, nós, humanos, somos capazes de descartar outras vidas, somente para alcançá-lo, para tê-lo em mãos.

Decerto, o plano mais rico do filme não é simbólico. Entretanto, pelo tempo usado por Scott na trama de Ash, e pela construção em si do filme, somos levados facilmente a acreditar que as coisas mais aterrorizantes para o ser humano não aguardam lá fora no espaço infinito, mas sim aqui, bem perto, dentro do nosso coração.
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