quinta-feira, 20 de novembro de 2008

2001: Uma Odisséia no Espaço

Entre todos os adjetivos que Stanley Kubrick pode carregar, o principal talvez seja versátil. Embora o diretor tenha sido, sim, um gênio, e também um grande contribuidor para a evolução da sétima arte, sua característica mais marcante, observando o geral de suas obras, é a versatilidade. Kubrick fez de tudo: distopia, drama histórico, horror, comédia, guerra... e, em seu filme mais conhecido, ficção científica.

2001: Uma Odisséia no Espaço, causou comoção por onde passou. É difícil dizer qual de seus elementos é o mais revolucionário. O mais visível, por certo, são os efeitos especiais: é quase impossível acreditar que Kubrick fez tudo aquilo que o filme mostra antes de existir computação gráfica. A parte técnica do filme é, incontestavelmente, perfeita. A inventividade de seu mundo espacial e o detalhismo que ele imprimiu nas naves e nos elementos tecnológicos do filme se tornaram referência.

Por outro lado, o conteúdo do filme, embora igualmente revolucionário, não foi tão apreciado. Pouquíssimos, entre o público e a crítica, gostaram do filme à época do lançamento. Consideraram-no, em geral, chato, presunçoso e confuso. Entretanto, logo começaram a enxergar no filme seu valor, e ele se tornou um marco do cinema, quiçá a maior ficção-científica que já houve.

2001, como qualquer ficção-científica que se preze, trata das coisas humanas, e, nesse caso, as coisas humanas adquirem um espectro enorme. A história da humanidade, o sentido do que criamos e descobrimos, nossa relação com a tecnologia: tudo isso é escrutinado, de forma não-óbvia, pela lente de Kubrick.

O diretor fez desse filme, concebido junto ao mestre da ficção-científica Arthur C. Clarke, uma jornada poderosa, que começa no surgimento da humanidade e termina no instante em que ao menos um de nós é capaz de transcender, de se tornar algo mais que uma consciência elétrica presa num corpo material limitado.

Interpretar o filme é uma tarefa interessante e divertida, e que tem a bênção do diretor. Kubrick disse que todos poderiam ficar à vontade para ponderar sobre o significado alegórico e filosófico do longa, e que ele e Clarke trabalharam para que não fosse possível decifrá-lo por completo.

De fato, só o que se pode ter de 2001 são idéias sobre o que ele representa (essa e essa são especialmente interessantes), mas seu significado pleno ou não existe ou está além de nossa compreensão racional, o que no fim das contas dá na mesma. Para nós, cinéfilos ou espectadores casuais, assistir a 2001 é deleitar-se pela experiência visual e sonora que ele proporciona, sem ficar tentando, a todo segundo, apreender algo de seu sentido. Ou, em outras palavras, 2001: Uma Odisséia no Espaço é uma enorme viagem, dessa que a gente faz mais para apreciar a vista que para chegar ao destino.
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Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...

Hoje descobri que 2001 não é legal apenas pela trilha sonora e pelos efeitos especiais. Pra mim, o filme foi um belo momento de epifania, um monolito preto que apareceu inesperado na minha noite.