
O filme, enfim, está cheio de imagens, frases, personagens e situações que já transcenderam a fonte e se juntaram à nuvem misteriosa da cultura popular. Benjamin é um jovem de classe média alta que acaba de se formar (o “graduado” do título original) e não sabe o que fazer da vida. Na festa que os pais dão para comemorar seu retorno, ele é seduzido pela mulher do sócio de seu pai, a sra. Robinson, e acaba entrando com ela em uma rotina de encontros secretos e silenciosos, onde a única forma de comunicação que funciona é o sexo. A chegada da filha de mrs. Robinson, Elaine, porém, irá quebrar essa rotina, e jogar a vida de Ben num frenético torvelinho.
Com esse enredo, o diretor Mike Nichols constrói uma comédia romântica estranha, com momentos engraçados que nos fazem rir e outros momentos engraçados que não provocam sequer um sorriso, todos eles envoltos pelas belíssimas músicas de Simon & Garfunkel, tão ilustres quanto o filme, que ajudam a tornar tudo ainda mais melancólico.
Com sutileza, Nichols toca em vários temas que seriam extremamente significativos para a sua geração. Ben e mrs. Robinson não conseguem se comunicar a contento, eles quase não conversam, a única linguagem entre eles é ao mesmo tempo instintiva e “protetora”, já que mrs. Robinson é uma espécie de “professora” de Ben, e o ensina certas condutas da sedução e do sexo, que depois eles mesmo utilizará em outra(s) pessoa(s). Assim, o aluno abandona o mestre e vai viver sua vida, o filho abandona o pai e torna-se independente. Benjamin larga sua família e sua antiga “tutora” para ficar com Elaine, que era como ele, aprendiz de uma geração passada.
Mas o choque de gerações não é o único tema do filme. Aproveitando-se desse enredo em que o abandono do mestre, do passado, do convencional, está sempre presente, o filme é um singelo e simples (sem a fúria revolucionária dos anos seguintes) manifesto libertário, uma história envolvente, engraçada e poética sobre seres humanos que após vagar presos a dogmas e convenções “necessários” se soltam e tomam um rumo próprio.
A Primeira Noite de um Homem, com seus personagens sem rumo, suas histórias pessoais, suas situações desafiadoras, é uma marco inaugural de uma nova era do cinema americano, em que as pessoas comuns e as histórias com as quais podemos nos identificar se tornaram cada vez mais presentes, e necessárias.
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Um comentário:
adoro a cena (que já repeti mil vezes) em que ela solta a fumaça do cigarro depois de beijá-lo. clássica mesmo.
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