quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A Primeira Noite de um Homem

Alguns filmes se tornam famosos por terem uma história inovadora. Outros por terem personagens marcantes. Alguns filmes se tornam famosos porque tem uma estrutura diferente, um roteiro provocador, uma trilha sonora inesquecível, frases que ficam marcadas no imaginário popular. Alguns filmes se tornam famosos porque têm tudo isso – e muito mais. Esse é o caso de A Primeira Noite de um Homem, classicão preferido dos ianques, epítome e fonte de vários ícones do imaginário norte-americano, o 7º na lista de melhores filmes em inglês da AFI, 9º entre as comédias.

O filme, enfim, está cheio de imagens, frases, personagens e situações que já transcenderam a fonte e se juntaram à nuvem misteriosa da cultura popular. Benjamin é um jovem de classe média alta que acaba de se formar (o “graduado” do título original) e não sabe o que fazer da vida. Na festa que os pais dão para comemorar seu retorno, ele é seduzido pela mulher do sócio de seu pai, a sra. Robinson, e acaba entrando com ela em uma rotina de encontros secretos e silenciosos, onde a única forma de comunicação que funciona é o sexo. A chegada da filha de mrs. Robinson, Elaine, porém, irá quebrar essa rotina, e jogar a vida de Ben num frenético torvelinho.

Com esse enredo, o diretor Mike Nichols constrói uma comédia romântica estranha, com momentos engraçados que nos fazem rir e outros momentos engraçados que não provocam sequer um sorriso, todos eles envoltos pelas belíssimas músicas de Simon & Garfunkel, tão ilustres quanto o filme, que ajudam a tornar tudo ainda mais melancólico.

Com sutileza, Nichols toca em vários temas que seriam extremamente significativos para a sua geração. Ben e mrs. Robinson não conseguem se comunicar a contento, eles quase não conversam, a única linguagem entre eles é ao mesmo tempo instintiva e “protetora”, já que mrs. Robinson é uma espécie de “professora” de Ben, e o ensina certas condutas da sedução e do sexo, que depois eles mesmo utilizará em outra(s) pessoa(s). Assim, o aluno abandona o mestre e vai viver sua vida, o filho abandona o pai e torna-se independente. Benjamin larga sua família e sua antiga “tutora” para ficar com Elaine, que era como ele, aprendiz de uma geração passada.

Mas o choque de gerações não é o único tema do filme. Aproveitando-se desse enredo em que o abandono do mestre, do passado, do convencional, está sempre presente, o filme é um singelo e simples (sem a fúria revolucionária dos anos seguintes) manifesto libertário, uma história envolvente, engraçada e poética sobre seres humanos que após vagar presos a dogmas e convenções “necessários” se soltam e tomam um rumo próprio.

A Primeira Noite de um Homem, com seus personagens sem rumo, suas histórias pessoais, suas situações desafiadoras, é uma marco inaugural de uma nova era do cinema americano, em que as pessoas comuns e as histórias com as quais podemos nos identificar se tornaram cada vez mais presentes, e necessárias.
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Um comentário:

tati fadel disse...

adoro a cena (que já repeti mil vezes) em que ela solta a fumaça do cigarro depois de beijá-lo. clássica mesmo.