domingo, 20 de janeiro de 2008

Rocco e Seus Irmãos

Em seu livro Os 100 Melhores Filmes do Século XX, o crítico e cinéfilo Rubens Ewald Filho afirma que “[Rocco e seus Irmãos (Rocco e i suoi Fratelli, 1960)] é um daqueles filmes que trespassam a alma, emocionam-nos, até acima das meras lágrimas.” Ele não poderia estar mais certo. O filme vai muito além de nos causar tristeza. Ele arrebenta o peito e mergulha nosso coração em uma angústia intraduzível em palavras.

Dirigido pelo mestre italiano Luchino Visconti e estrelado por ícones como Alain Delon e Claudia Cardinale (numa participação mínima), o filme conta a história de uma mulher, Rosaria Parondi, que leva seus cinco filhos – Vincenzo, Simone, Rocco, Ciro e Luca – da Sicília para Milão, afim de que eles encontrem uma vida melhor. As coisas não começam muito bem, mas à medida que elas entram nos eixos começam a cair as pedrinhas que futuramente vão causar um terremoto, uma avalanche na vida de todos eles.

Esteticamente, o filme é perfeito. A fotografia em p&b é primorosa, e os ângulos, as tomadas, lembram inclusive a nouvelle vague. As atuações são impecáveis, a começar pela da lenda Alain Delon, pela primeira vez colaborando com o diretor italiano. A música também é primorosa, entrando para passar a emoção nos momentos de necessidade, e se ausentando quando fosse contrária aos propósitos da cena. A trilha foi composta pelo maestro Nino Rota, mas tem direito até a Tintarella di Luna no meio do filme.

O grande mérito do filme, porém, reside mesmo na história: a forma como ela é contada e tudo que ela envolve. Diversos questionamentos se sucedem, seguindo porém a óbvia máxima de que você não precisa contar o que está mostrando. A história, nua e crua, necessita somente de um pequeno esforço mental para interpretar o que nos atinge, para ir além da história pela história.

Os vícios e vicissitudes da cidade grande, em contraste com o campo, “terra do arco-íris”, se introduzem na vida dos irmãos, mas também não fazem nada mais do que atiçar o que já está dentro de cada um deles. Ele mostra, claramente, que “não importa o que fizeram com você, e sim o que você fez com o que fizeram com você.” Mostra, também, que o perdão e compreensão, as armas da justiça Divina, dos Santos, em contraponto à dos homens, podem, quando em excesso, fazer sucumbir de vez o perdoado.

O filme contrasta, finalmente, a desgraça e o sofrimento, a ruptura, o egoísmo, a violência, com a própria essência da família e a fraternidade. Como as atitudes de cada um em frente às atitudes de cada outro faz com que as atitudes de cada um mudem ou não e quais as conseqüências disso para os envolvidos. Complicado? Não liguem, é só um exercício de retórica. Palavras nunca traduzirão o que a imagem diz, e vice-versa, assim como traduzir a alma é um desafio que todos continuaremos nos impondo até o fim dos tempos, e além.

Ainda assim, arrisco dizer que Rocco e seus Irmãos realmente alcança a alma. Ele faz sentir, lá dentro, uma angústia tão profunda quanto indefinível. Ódio? Inconformidade? Tristeza mesmo? Como saber? No fundo, bem no fundo, todas as coisas se fundem, se mesclam. E é lá que esse filme vai tocar.

Um comentário:

Jeh/JK disse...

Meu Deus!!
Odeio profundamente filmes que me tocam... XD Não sei exatamente por quê... Acho que posso até falar que simplesmente "acordei odiando" XDD
Depois da sua crítica que mostra que o filme é impecável e digno, estou em dúvida se ele vai pra lista ou não xP
Dou uma chance? Ahh dúvida cruel HUAHuAHUAhHAUHUHAu XD

x**