quarta-feira, 9 de julho de 2008

Os Esquecidos

Buñuel é conhecido como o grande cineasta do surrealismo. Entretanto, nem todos os seus filmes apresentam uma entrega completa ao gênero. Alguns, como O Anjo Exterminador, apresentam somente algumas características surrealistas. Outros, como esse Os Esquecidos, não são nem um pouco surrealistas. Sendo, pelo contrário, extremamente realista, esse filme é mais uma obra-prima do diretor, além de um contundente e feroz retrato do encontro da miséria e da juventude. Difícil não estremecer em algumas das cenas, e mais difícil ainda é não se sentir extremamente perturbado ao final do filme, uma daquelas obras de arte “malditas” que representam ao mesmo tempo um soco no estômago.

Basicamente, o filme acompanha a vida de um bando de moleques miseráveis na Cidade do México, especialmente após o retorno de um conhecido, fugido do reformatório. O filme vai construindo lentamente nossa relação com os personagens, para depois subverter nossas expectativas e entregar situações que, se não farão muitos se emocionar, com certeza farão todos prenderem a respiração. O filme se diz baseado em histórias reais. De fato, elas podem estar acontecendo, de forma semelhante, em qualquer cidade do planeta. Mas, para além da universalidade da miséria, essas histórias dão humanidade surpreendente para os pobres diabos. O personagem Pedro é um dos mais bem construídos e interpretados que eu vi nos últimos tempos.

O surrealismo do diretor dá as caras em somente uma cena, que representa justamente um sonho, mas cujo apuro técnico me surpreendeu. É uma cena perfeita, e assustadora, nada demais também para o gênio deste que é um dos grandes cineastas de todos os tempos. Os Esquecidos deve ser visto, enfim, por muitos motivos: por sua análise da miséria; por seu retrato arrasador da vida desses jovens; e por seu imenso valor artístico. Wilde disse que toda forma de arte é completamente inútil. Certo, talvez um livro ou filme não tenha o poder de mudar o mundo. Mas, como já foi dito, eles podem mudar as pessoas, e essas podem por sua vez mudar o mundo. Que esta obra de arte, em especial, se não mudar o mundo, pelo menos nos faça pensar profundamente sobre as questões importantes que apresenta, e aí então seu papel já estará mais que cumprido.

2 comentários:

Sib disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sib disse...

manda bala que o trem tem combustível :D