quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Os Sete Samurais

A influência do cinema ocidental em Kurosawa foi enorme, assim como é enorme a influência de Kurosawa no cinema ocidental. Dizer, porém, com veneno nos lábios, que “Kurosawa é o mais ocidental dos diretores japoneses” é ignorar a freqüência com que ele retratou os costumes e tradições do Japão, além de seus problemas, histórias, e afins. Kurosawa de maneira alguma deixou suas raízes pra trás, mas simplesmente reuniu uma gama maior de influências, juntando Shakespeare, Dostoievski e os westerns à sua bagagem cultural nipônica.

Em Os Sete Samurais, provavelmente seu filme mais famoso, Kurosawa reuniu elementos que vez ou outra ecoam influências ocidentais, mas no geral o filme é uma grande obra puramente japonesa, e nada mais, que retrata costumes, valores e dilemas da sociedade japonesa do final do século 16, mais especificamente de suas figuras mais emblemáticas: os samurais.

O enredo do filme é bem simples: um vilarejo de lavradores miseráveis é constantemente atacado e pilhado por bandidos. Desesperados, os camponeses vão até à cidade em busca de samurais que possam defendê-los em troca de comida. Acabam encontrando um velho ronin, e com sua ajuda reúnem um grupo de seis samurais e um suspeito. Depois, segue-se a preparação da defesa, a convivência com os habitantes do vilarejo e por fim a última batalha. Tudo isso filmado com uma fotografia espetacular, cheio de imagens belíssimas e cenas de batalha primorosas.

O épico tem três horas e vinte e possui um ritmo um pouco lento. Mas isso não o torna chato, de maneira alguma, e para alguns o filme passa até rápido demais. De qualquer maneira, o ritmo é essencial para que Kurosawa possa apresentar com calma e desenvoltura as motivações de cada personagem e as relações entre eles. Afinal, só os protagonistas samurais são sete, e adicionando mais três ou quatro camponeses essenciais para a história, fica fácil entender porque o filme é tão grande, mesmo tendo uma história que, numa obra mais comercial, seria contada em até menos de duas horas.

Obviamente, mesmo entre esses protagonistas, há aqueles que recebem mais atenção. O principal é Kikuchiyo, um samurai beberrão, engraçado e expansivo que na verdade é filho de camponeses, interpretado pelo gênio Toshiro Mifune. Além dele, temos Kambei, o velho ronin que representa a idéia principal da história, e Katsushiro, seu aprendiz, o único a viver uma história de amor no longa.

Os questionamentos do filme, como em qualquer obra-prima, se multiplicam. Em princípio, temos os cavaleiros andantes, os “pistoleiros” solitários do Japão feudal, os samurais sem senhor, ronins, que saem de suas vidas auto-suficientes para proteger a coletividade, o grupo interdependente de uma aldeia de lavradores de um ataque de bandidos. No aspecto sócio-econômico, o filme é um pouco pessimista, conquanto simplesmente retrate com perfeição o Japão da época: embora uns ataquem, outros entrem em desespero e outros lutem honradamente, todos são miseráveis: lavradores, samurais e bandidos, que fazem o que fazem, cada um deles, simplesmente para sobreviver.

A partir dessa premissa, contudo, Kurosawa desenvolve as personalidades e motivações dos personagens para além do instinto de sobrevivência. Não é só por comida que eles lutam. Eles lutam pelo dever, pela honra, por compaixão. Eles lutam por companheirismo, que por sinal é outro mote importante do filme. É a amizade e a admiração que motiva, de modo geral, a união dos sete guerreiros.

O último aspecto importante, talvez o mais importante, seja aquele com que o filme encerra: dos sete samurais, quatro morrem, e Katsushiro, o mais novo, perde (não pela morte) a pessoa por quem estava apaixonado. Kambei dissera, logo no começo do filme, que já estivera em muitas batalhas, mas nunca do lado vencedor. E na última cena, conversando com seu amigo Shichiroji, um dos samurais, em frente aos túmulos dos mortos, diz novamente que aquela foi mais uma batalha perdida. Mesmo que os bandidos tenham sido todos mortos, e a aldeia salva, quem ganhou a batalha foram os lavradores. Os samurais, os guerreiros solitários, companheiros e honrados mais uma vez perderam. Pois a História não é justa, e mesmo quem vive honradamente acaba ficando para trás.
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2 comentários:

Anônimo disse...

Perfeita a resenha, Tuma.
Kurosawa deve ser visto, revisto e reestudado. Sua obra extrapola o cinema, atingindo os cumes da estética e até mesmo questões importantes da filosofia.
Por falar em filosofia, estou lendo O CINEMA PENSA: UMA INTROD. À FILOSOFIA ATRAVÉS DOS FILMES, do Julio Cabrera, prof. de Fil. na UnB. Cara, se ainda não leu, leia!
O prato cheio pra quem se amarra na dobradinha filosofia-cinema.
Obra pra ser degustada aos poucos.
Depois nos falamos sobre ela.
Ah, o último filme que vi foi O Conformista, do Bertolucci. Já o viu?
Penso em fazer uma resenha. Mas ainda não me decidi...

Abraços e que venham as novidades por aqui!

See you, buddy!

Bruna disse...

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