quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Pílulas Cinematográficas, Edição 10: Especial Charlie Chaplin

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Ao lado de Buster “Cara de Pedra” Keaton, Charlie Chaplin foi o grande ícone das comédias do cinema mudo. Chaplin, porém, tornou-se muito mais famoso e reconhecido que o colega. Talvez seja por causa de Carlitos, o vagabundo mais querido do planeta, figura reconhecida por virtualmente qualquer ser humano (do ocidente, ao menos), mas creio que o maior motivo seja justamente a grande marca registrada de Chaplin: a graça. Não a graça do riso, que Keaton também sabia provocar muito bem, mas a graça da leveza, a graça de ser ao mesmo tempo triste pra caramba e engraçadíssimo/feliz demais, uma mistura adorável e simplesmente irresistível. De fato, para Charlie, a única maneira de superar o “sistema”, qualquer que seja ele, não é substituí-lo por outro sistema, e sim enfrentá-lo com um riso no rosto e paz no espírito, algo que ele expressava divinamente em seus filmes. Humor e humanidade: marcas registradas desse gênio que escrevia, dirigia, atuava, compunha, e ainda jogava xadrez e dançava balé, um homem que não pode ser esquecido.
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Em Busca do Ouro (The Gold Rush, 1925): Carlitos aparece mais uma vez em um filme bastante alegre e engraçado, com um final feliz e cheio de cenas clássicas. A dança dos pãezinhos, o banquete de sapato, a alucinação do frango... ao mesmo tempo em que são terrivelmente engraçadas, essas cenas evidenciam o tema principal do longa: a miséria de uns em contraste com a ganância de outros. Duas versões foram lançadas: a primeira, de 1925, muda. A segunda, de 1942, reeditada e com trilha sonora.
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O Grande Ditador (The Great Dictator, 1940) : Contra a tirania e a favor da vida, Chaplin fez um filme visionário e ousado. Parodiando o nazismo e o fascismo numa época em que eles ainda não eram impopulares (havia simpatizantes mesmo em Hollywood), Charlie criou mais uma obra essencial e inesquecível. A cena em que o ditador dança com o globo terrestre é uma das mais tocantes que eu já vi no cinema, e o discurso final de Chaplin, nesse que foi o primeiro filme falado do diretor, simplesmente saltou da tela para a História, palavras antológicas e cada vez mais necessárias a medida que passa o tempo e muito do que ele acusou se torna cada vez mais presente.
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O Garoto (The Kid, 1921): O “filme com um sorriso, e talvez uma lágrima”, O Garoto sintetiza a carreira e o modo de fazer filmes de Chaplin: um grande tino para a comédia aliado a uma profunda sensibilidade para o ser humano. Entretanto, apesar das antológicas cenas engraçadas, esse é talvez o filme mais triste de Chaplin. O filho recém-nascido do gênio morreu no início das filmagens, e isso afetou o tom do filme, que acabou cheio de cenas de uma beleza que dói. Jackie Coogan, o garoto, tornou-se a primeira celebridade juvenil do mundo, embora não tenha feito uma grande carreira após esse filme. Como o próprio Chaplin disse, ao receber seu Oscar honorário (e ser ovacionado por vários minutos), palavras são fúteis para descrever, então vejam O Garoto, e entendam do que eu estou falando.
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Tempos Modernos (Modern Times, 1936): Filme de transição na carreira de Chaplin, meio mudo/meio falado, e também o último filme de Carlitos. Dez anos depois do advento do cinema falado, Chaplin ainda resistia, e faz um filme em que o som aparece somente em rádios, máquinas, efeitos sonoros e canções: Carlitos resiste bravamente, permanecendo mudo e enfrentando a modernidade com obstinação. A única vez em que ouvimos sua voz, vejam só, é quando ele canta uma música totalmente non-sense em um restaurante, situação em que o importa de fato, afinal, são seus gestos. Embora retrate uma luta de indivíduos contra uma espécie de sistema opressor, Chaplin insiste ainda assim em sua máxima, com a canção tema que se tornou clássica, Smile: “Smile though your heart is aching/ Smile even though its breaking”. Ouçamos seu conselho.
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2 comentários:

Diego Rodrigues disse...

Todos os filmes adoráveis. Aliás, Carlitos é sensacional no Em Busca do Ouro e Tempos Modernos é fascinante. Ainda assim, também adoro o sensível e tocante O Garoto. E quanto a O Grande Ditador, por incrível que pareça, é o único filme dele que eu não assisti! Não sei porquê até hoje, mas já está nas minhas prioridades!

Diego Rodrigues disse...

E pode ter certeza que eu voltarei aqui mais vezes.

Blogue até linkado ;D