terça-feira, 25 de novembro de 2008

Persona

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Ocasionalmente, voltarei a postar sobre filmes fora da quinta-cinematográfica. Não necessariamente será de terça, mas em geral sim, ou de segunda, no máximo.
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Persona é um filme ao qual não se assiste em vão. Uma das obras mais ilustres de Ingmar Bergman, é também seu filme mais enigmático. Concebido enquanto este estava no hospital, devido a uma pneumonia, Persona é uma obra de arte emblemática e significativa, um marco de expressão e linguagem cinematográfica.

Embora seja chamado de “poema visual”, definição clichê, pelo próprio diretor, esse é somente um dos títulos que Persona pode receber. Chamá-lo de revolucionário, sofisticado, hipnotizante e perfeito também é cabível.

O filme, em princípio, conta a história de uma enfermeira que tem de cuidar de uma atriz que sofreu um colapso nervoso durante uma apresentação e parou de falar. Como ela não responde ao tratamento, as duas vão para a casa de campo da médica responsável, e começam a ter uma curiosa convivência, baseada na palavra de uma e no silêncio da outra.

Basicamente, o resto do filme transcorre ali, mas falar disso assim tão levianamente é um crime contra a complexidade do filme. Justamente porque ele trata da confusão: a confusão de identidades, a confusão entre nossa identidade e o mundo. O filme trata das máscaras (personas) que vestimos, sejam elas nossas ou de outras pessoas. E trata também de muitas outras coisas, num nível subconsciente e profundo.

Sonho, ilusão, realidade: tudo se funde. Mas isso não faz deste um filme etéreo, pelo contrário: ele é denso e pungente, capaz de nos atingir dolorosamente mesmo que não o tenhamos compreendido por completo. Essa, afinal, é a tarefa da arte. E Bergman, como artista genial que era, um dos maiores do século XX, soube executá-la com perfeição.
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Se sentiram algo de familiar nessa resenha, ou sentirem-no no filme, saibam que eu também senti: David Lynch bebeu muito na fonte de Bergman, e Cidade dos Sonhos é praticamente a versão dele para Persona, embora incorporando outros elementos. Isso não é oficial, mas assistir aos dois filmes causa sensações muito parecidas, e os temas, a forma e o subtexto são semelhantes (o que não faz do filme de Lynch menos original). Assistam aos dois e comprovem.
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