segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Uma Rua Chamada Pecado

Há um bonde chamado Desejo, e outro chamado Cemitério, que levam até os Campos Elíseos, em New Orleans. Pois é, nenhuma Rua chamada Pecado aqui. Os mistérios da tradução de títulos no Brasil ainda hão de ser desvendados. Enquanto conseguimos criar títulos infinitamente melhores que os originais, sobretudo nos faroestes, como Onde Começa o Inferno (Rio Bravo, Howard Hawks), Quando Explode a Vingança (Duck, You Sucker, Sergio Leone) e Meu Ódio Será Sua Herança (The Wild Bunch, Sam Peckinpah), acrescentamos os famigerados subtítulos “sessão da tarde”, com coisas como “deu a louca em alguém”, “qualquer coisa muito louca”, “do barulho”, “da pesada”, etc. Mas enfim! Esse não é o assunto desse texto.

O assunto desse texto – agora sim – é o filme Uma Rua Chamada Pecado, dirigido por Elia Kazan e baseado na peça Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams. Esse filme se destaca por ser uma faceta de um clássico em não uma, mas três artes: a literatura, o teatro e o cinema. Escrita por Williams com um realismo inédito no pós-guerra, a peça conta a história de Blanche Dubois, que chega à casa da irmã, Stella, em New Orleans, e se vê surpreendida pela vida que esta leva com o marido, Stanley Kowalski. Os cunhados iniciam então um conflito de poderes dentro da casa, que se tornará ainda mais explosivo com o relacionamento de Blanche com um amigo de Stanley, Mitch, e a descoberta por aquele de fatos sombrios de seu passado.

Infelizmente, o filme foi prejudicado pela censura da época, e acabou deixando extremamente subentendidas certas coisas da peça. É bom notar que a censura nos EUA, nessa época (e em todas as outras, a bem da verdade), se dá de fato com o consentimento da população. Não que o governo proíba as obras (a não ser em casos extremos), mas órgãos religiosos e políticos as classificam segundo seus índices, levando muito dos possíveis telespectadores a ignorarem o filme, livro ou o que for por questões moralistas.

Ainda assim, esse prejuízo no caso é mínimo. As principais idéias da peça estão lá, gritando, e se tornam ainda mais perceptíveis pelos olhos de hoje, ainda que talvez não causem o mesmo impacto. O mesmo impacto não por ser menor, e sim por ser diferente. Como diz um estudioso nos extras, as peças de Williams não tiveram ainda uma versão definitiva, nem provavelmente vão ter. A cada época, suas interpretações e seu recado mudam.

Entretanto, essa versão, com Marlon Brando, Vivien Leigh, Kim Hunter e Karl Maden nos papéis principais, chega bem próximo disso. Houve depois outras versões, em filmes para TV, mas essa sem dúvida é a mais notória e, a parte as adaptações teatrais, é um verdadeiro clássico imortal da sétima arte. O desejo e a luxúria ardem a cada linha de diálogo, a cada cena. As imagens psicológicas de cada personagem saltam da tela. Não há concessões. O que se mostra é puramente a realidade, as coisas como elas são. E ponto final.

Um comentário:

Anônimo disse...

aeaeaeae Tuma

belo comentário sobre o filme! vc conseguiu resumir bem...

beijos