domingo, 27 de abril de 2008

A Rosa Púrpura do Cairo

O cinema é uma arte extremamente auto-reflexiva. Junto à pintura e à literatura, creio que seja a que mais esquadrinhou o ato de praticar a arte. De fato, é uma área tão explorada que constitui um gênero. Já falei aqui sobre dois filmes que se enquadram nessa categoria: os magníficos A Noite Americana, de François Truffault, e Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore. Cada um a seu modo, eles homenageiam a Sétima Arte. Aquele, esmiuçando a prática de filmar, e tudo que isso envolve e acarreta. Este, mostrando como o cinema perpassa a vida de alguém, e qual o significado que adquire.

A Rosa Púrpura do Cairo guarda semelhanças com o último. Fala sobre como o cinema pode ser uma fuga de uma realidade indesejada, e qual é a linha que separa a imaginação e o desejo dessa realidade. Dirigido por Woody Allen, o filme conta a história de Cecília (Mia Farrow), garçonete que, em plena era da Depressão nos EUA, é apaixonada pelo cinema hollywoodiano e explorada pelo marido, o vagabundo Monk (Danny Aiello). Começa então a passar no cinema do bairro “A Rosa Púrpura do Cairo”, filme bem ao estilo dos anos 30, com pessoas ricas se amando em lugares exóticos.

É aí que, subitamente, o filme muda de rumo: um dos personagens da história, por quem Cecília suspirava de amores, salta da tela ao seu encontro. Ele se diz encantado por ela e ambos fogem da sessão. Isso causa um grande constrangimento. Os demais personagens do filme ficam confusos e começam a discutir com a platéia, o dono do cinema tem ataques quando as pessoas começam a pedir seu dinheiro de volta e o produtor do filme é chamado. Preocupado com a repercussão negativa que um fato desses teria, ele e o ator Gil Shepherd (Jeff Daniels), intérprete de Tom Baxter, o personagem fujão, começam a procurar o foragido, para tentar convencê-lo a retornar para o celulóide.

No decorrer do filme (que é curtinho, só 80 minutos), a dicotomia entre o Real e o Fictício será vastamente explorada. Baxter, especialmente, descobrirá as diferenças entre o mundo real e o celulóide, que vão muito além da liberdade de fazer escolhas, como quando descobre que seu dinheiro é falso e os carros precisam de chave para ser ligados no mundo real. Já perto do final, ele dirá: “[Cecilia], eu te amo. Eu sou honesto, carinhoso, corajoso, romântico e beijo muito bem.”, ao que Gil responderá: “E eu sou real.” A escolha de Cecília, e o que disso decorrerá, dizem muito sobre a mensagem do filme. Mas são mesmo os olhos dela brilhando arregalados ao fitar uma tela de cinema no fim do filme que explicam tudo sobre a natureza da sétima arte.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu adoro o final desse filme o__o