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É mesmo impossível prever o futuro. Mesmo que se possa adiantar fatores vindouros, adivinhar as conseqüências é muito mais complexo. Na Idade Média, não existiam crianças, somente adultos, maiores ou menores. Depois, a infância se instituiu mais fortemente, como um curto período que levava logo à idade adulta. Em meados do século XX, finalmente, a adolescência se instituiu como um período intermediário, de preparação e transição. Nas décadas de 60 e 70, enfim, houve a ruptura final, quando os jovens buscaram a liberdade e a autonomia em oposição ao mundo conservador de seus pais.
Os filhos desses revolucionários, entretanto, parece que pouco herdaram dos sentimentos e ideais libertários de seus pais. Toda a efervescência daqueles anos estagnou e se converteu em uma acomodação cínica. O progresso tecnológico tomou o lugar do ideológico, e veio como um instrumento para garantir o alongamento dos períodos da vida. Se antes se morria com 40 anos, hoje os 80 são uma idade razoável, e o efeito colateral disso é um completo paradoxo.
Por um lado, em uma sociedade cada vez mais rápida, o tempo nunca é suficiente. Por outro, procura-se alongar a fase da vida sem preocupações e problemas. Os jovens dos anos 60 e 70, tendo lutado por sua liberdade, a garantem aos filhos de uma maneira completamente desproporcional. Com isso, os adolescentes se acomodam nesse período, pois tem toda a liberdade que precisam e nenhuma preocupação séria. Levam a vida no mais indiferente descompromisso, o que criou uma espécie de câncer, pois a adolescência começa cada vez mais cedo e se alonga indefinidamente.
A um filhote dessa geração, falar em “descompromisso” como algo ruim parece reacionário. Na verdade, trata-se de uma tentativa de reencontrar o equilíbrio, pois com a multidão de “filhos-cangurus” se multiplicando, a sociedade não passará incólume.
Filhos-canguru acabam tendo seus filhos, e passam os mesmos costumes a eles. Essa bola-de-neve pode ter como conseqüência, no futuro, gerações perdidas. Mas, no presente, os efeitos já são ruins o suficiente.
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