Não dá para confiar em comentários e sinopses publicitários de filmes, especialmente se eles estiverem na capa do DVD. Um exemplo clássico é o DVD de Amarcord, do Fellini, pela Versátil, em que no verso se apresenta uma história totalmente surreal, mas que não tem absolutamente nada a ver com o filme do mestre.
Digo isso porque, no verso do DVD da coleção Superbit de Lawrence da Arábia, consta que a obra é “Pura performance. Puro entretenimento.”, o que, após assistir ao loooonga (que é longo mesmo, mas até que passa rápido), posso chamar de uma gritante inverdade.
Assim é pois, embora Lawrence da Arábia seja uma obra que entretém, e com performances espetaculares, não se resume a isso. Obviamente, ao se analisar a sinopse do filme, é muito possível imaginar que seja mesmo puro espetáculo: um épico sobre a vida de um inglês que ajudou a libertar a Arábia? É claro que esperamos um herói intocável e mitológico, que vem do mundo desenvolvido para tirar os bárbaros das trevas, e no caminho luta em batalhas grandiosas e alcança feitos impressionantes.
As batalhas e os feitos estão lá, mas todo o resto é bem diferente. O diretor David Lean joga com a questão do preconceito, ao mostrar que os ingleses e árabes são muito parecidos, têm problemas parecidos, e talvez somente qualidades diferentes. Ao mesmo tempo, faz um filme de fundo político, criticando a posição das nações imperialistas para com aqueles que os ajudaram.
Mas o grande trunfo do filme é mesmo a atuação e o personagem de Peter O’Toole, um Lawrence da Arábia humano, falho, tangível. Ele pode ser inteligente, corajoso e forte, mas também é por vezes cruel, arrogante, e parcialmente louco e descontrolado. O que se prova, afinal, é que foi uma personalidade intensa, que viveu sua vida de guerreiro e nela fez grandes coisas, mas não foi capaz de superar as seqüelas que ela deixou, e quando a perdeu acabou se isolando.
Apesar de suas quatro horas, é um filme que merece ser visto, e talvez revisto, pois proporciona não só uma grande diversão e espanto, mas também faz pensar um bocado em tudo o que já aconteceu e continua acontecendo lá naquelas terras, no centro exato entre o ocidente e o oriente.
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quinta-feira, 9 de outubro de 2008
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