quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Desanuviar, um vislumbre

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Há tempos que não posto nada de minha produção dita "literária". Assim, aproveito a falta de tempo para colocar aqui um trecho, na verdade o inicial, uma espécie de intróito de meu conto-bizarro Desanuviar, que escrevo há muito tempo. Ainda hei de terminá-lo, em breve espero, mas por ora, não havendo um inteiro, fique o fragmento.
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Cobrem as terras quem cobrem o sol que acobreia o translúcido vitral que acorda o despertar matinal. Imprime-se espelho o narciso reflexa-se no espelho miosótis diáfano diafanando a sombra diáfana do espelho que elas cobrem. No vento e na cor; no tempo e no amor: multiforma.

Ontem mesmo. Quatro, cinco, seis vezes nunca a mesma. Vento, ventania: vaaaagaaaaroooosaaaameeeeentee elas s e s e p a r a m eseunem novamente. Durante anos jogam-se umas contra as outras imaginando novas possibilidades: e se mas e por que seria quando então se nós; Para depois começarem a bordar, a bordar, a bordar.

Elas mesmas não se vêem como você. Por que elas se movem? Por que elas se vêem? Fazendo sombra são assombração. Deitando luz são desilusão. E nós aqui, no meio das sombras delas, correndo movendo suando morrendo, até que, num instante telúrico tudo se encaixa e, beleza das belezas, vem o vento desassociar seu desenho.

Para compreender é preciso estar dentro. Para contemplar é preciso estar fora. Para entender é necessário estar fora. Para enxergar é necessário estar dentro. Para estar dentro é preciso entender. Para estar necessário é necessário contemplar fora. Para ver dentro é preciso vaticinar. Para estar dentro é necessário estar fora. Para contemplar é preciso entender. Para enxergar é preciso compreender. Para compreender enxergar entender contemplar é necessário e preciso estar dentro e fora. Distancie-se e observe. Recolha-se e veja. O entendimento das fôrmas das formas é tão importante quanto a contemplação das formas das fôrmas.

Se não fosse assim, todos seriam poetas. Se fosse diferente, muitos veriam o futuro e viriam do passado. Mas sendo como seja, é compreensível que nem todas as formas sejam apreensíveis pelos meio sinestésicos. Necessário e preciso será que haja uma outra maneira. De enxergar aqui e lá ao mesmo tempo, dando esperanças de que no transcorrer nada se perca. Somente um caminho é o caminho das nuvens. Não o sensível, mas o sensitivo. O de entender que as paixões dos anjos são como as formas das nuvens: tão fugazes quanto perfeitas.
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Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.