quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Pulp Fiction

A obra prima de um gênio pop. Assim eu defino este filme de Quentin Tarantino, segundo de uma série de longas explosivos que deixaram a marca do cineasta na história do cinema. Tarantino, como diretor e roteirista, introduziu no cinema um aspecto autoral bizarro, composto de uma colagem de referências culturais populares. Assim, tornou-se diferente tanto dos cineastas autorais, que carregam um sentimento de mundo próprio – pois o dele é composto por fragmentos dos filmes e séries a que assistia quando trabalhava como balconista de uma locadora – quanto dos de estúdio – pois sua visão é única e particular.

Em Pulp Fiction, Tarantino não chegara ainda à viagem estilística e referencial de Kill Bill, mas já botava as manguinhas de fora para contar uma história extremamente original e divertida. Pulp Fiction é composto de, basicamente, duas linhas narrativas. Uma envolve os capangas do gângster Marsellus Wallace, Jules Winnfield e Vincent Vega, brilhantemente interpretados por Samuel L. Jackson e John Travolta, respectivamente, em atuações que fizeram explodir a carreira do primeiro e renovaram a do segundo. A outra acompanha Butch Coolidge, vivido muito bem por Bruce Willis, um boxeador mediano que recebe de Wallace uma grana para perder uma luta (e assim dar muito dinheiro para quem apostasse na vitória do outro boxeador).

Essas histórias, porém, possuem diversas ramificações (especialmente a primeira), e são contadas de uma maneira absolutamente não-linear e fragmentada, indo e voltando no tempo sem ficar confuso nem tampouco didático. O filme trata-se de histórias acontecendo, pequenos acontecimentos fechados que, contudo, se interligam. O estilo narrativo foi inspirado, como diz o título, nas revistas pulp dos anos 20-50, impressas em papel barato (de “polpa”) e que continham histórias tão baratas quanto, contos de fantasia, ficção-científica, terror e policiais, entre outros, que acabaram revelando diversos autores famosos.

Essa inspiração fica clara no tom “neo-noir” da história, povoada sobretudo por mafiosos e as pessoas ao seu redor. Esses mafiosos, porém, são retratados de uma maneira originalíssima, o que nos leva a um dos principais destaques do filme: os diálogos. Magnificamente escritos por Tarantino, eles tratam quase sempre de coisas completamente alheias ao que está acontecendo na história. Entre um crime e outro, os gângsteres não conversam sobre os planos que irão seguir, ou sobre quando vão usar drogas, mas sim sobre a influência do sistema métrico na nomenclatura dos lanches do McDonald’s, massagens no pé e séries de TV canceladas. Desse modo, Tarantino os transforma em gente completamente comum, cujo único diferencial dos outros mortais é ter um emprego criminoso.

Assim, Pulp Fiction não revela nenhuma verdade metafísica ou algum aspecto sombrio da personalidade humana, nem tampouco algum lado alegre e admirável. Mas constrói histórias divertidíssimas e envolventes sobre seres humanos, num filme preciso e impecável, colorido e sangrento, violento e engraçado. Do jeito que Tarantino gosta.
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Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...
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