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Um início perfeito para um livro sem fim. O Homem Sem Qualidades, obra prima inacabada do alemão Robert Musil, é apresentada num tom delicioso, uma mistura um pouco irônica do positivismo do fim do século XIX/começo do XX, das correntes ideológicas nacionalistas que se fortaleciam e do estilo literário do autor.
O capítulo I, "Do qual singularmente nada se depreende", é exatamente assim: uma apresentação rigorosa e divertida do que virá pela frente. Descrevendo de uma forma original e completa as condições do dia em que a narrativa começa, Musil nos brinda com uma parágrafo nada menos que extraordinário.
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Um Homem Sem Qualidades, de Robert Musil. Tradução de Lya Luft e Carlos Abbenseth.
"I - Do qual singularmente nada se depreende
Uma pressão barométrica mínima pairava sobre o Atlântico; dirigia-se para leste, rumo à pressão máxima instalada sobre a Rússia, e ainda não mostrava tendencia de se desviar dela para o norte. As isotermas e isóteras cumpriam suas funções. A temperatura do ar estava numa relação correta com a temperatura média do ano, a do mês mais frio e a do mês mais quente e a oscilação aperiódica mensal. O nascer e o pôr do Sol e da Lua, a variação do brilho da Lua, de Vênus, do anel de Saturno, e outros fenômenos importantes transcorriam segundo as previsões dos anuários de astronomia. O vapor d'água no ar estava na fase de maior distensão, a umidade era baixa. Numa frase que, embora antiquada, descreve bem as condições: era um belo dia de agosto de 1913."
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