quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Pílulas Cinematográficas, Edição 8

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Nessa edição das Pílulas, realmente nada em comum entre os filmes. Um deles é uma obra-prima do horror de um dos maiores gênios do cinema. O outro, uma interessantíssima reflexão sobre a representação cinematográfica. O último, finalmente, é uma envolvente e emocionante história passada na França do século XVIII. E um recado: semana que vem, o blog volta à programação normal. Cinema, agora, só às quintas-feiras. Pelo menos até a próxima onda de filmes...
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O Iluminado (The Shining, Stanley Kubrick, 1980): Em diversos rankings, O Iluminado consta como um dos melhores filme de terror de todos os tempos. E não é difícil perceber o porquê: em primeiro lugar, foi adaptado do livro mais assustador de Stephen King, mestre do horror na literatura. E em segundo, foi adaptado para a tela grande por um dos maiores e mais importantes cineastas de todos os tempos, Stanley Kubrick. Utilizando-se de seu talento completo, Kubrick compôs uma obra ambígua, misteriosa e que dá muito, muito medo. Por um lado, o enredo ajuda muito: ficamos o tempo todo com a dúvida sobre se Jack Torrance está enlouquecendo sozinho ou sendo atormentado por espíritos malignos. Por outro, a realização é primorosa: as atuações são todas espetaculares, a iluminação cria um clima fantasmagórico, a música é precisa em seu intuito de incomodar... enfim: Kubrick criou com este filme uma obra de horror única (que não se utiliza da escuridão, por exemplo), referência para todos aqueles que quiserem meter medo em alguém.
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O Desprezo (Le Mépris, Jean-Luc Godard, 1963): O filme já começa surpreendendo pelos créditos: ao invés de aparecerem escritos na tela, são narrados, pelo próprio diretor, enquanto vemos uma equipe realizando algumas filmagens. No fim, a câmera se volta para nós, e somos sugados para o mundo da imagem. As primeiras cenas mostram um casal na cama, mas têm algo de peculiar: ao invés de vermos a imagem colorida, com os três filtros sobrepostos, vemos somente a que foi filmada com o filtro azul, e depois a que utilizou o vermelho. Com isso, Godard deixa bem claro qual é o tema de seu filme. À medida que o enredo se desenvolve, vemos que aquele casal está envolvido nas filmagens da Odisséia, por Fritz Lang (interpretado pelo próprio), e, mais sutilmente, está sofrendo dos mesmos problemas (em certa medida) que Ulisses e Penélope têm (ou os personagens supõem que eles têm) na obra de Homero. Com o tempo, essa confusão entre o filmado (por Godard), o filmado (por Lang) e o vivido (por todos) vai se tornando mais profunda, e a linha que divide cada segmento, se tornando mais tênue, até o final trágico e inconclusivo. Enfim, uma obra essencial. E não era pra menos: com Jack Palance, Brigitte Bardot e Fritz Lang atuando sob a tutela de Jean-Luc Godard, tinha como dar errado?
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Ligações Perigosas (Dangerous Liaisons, Stephen Frears, 1988): Tenho que confessar uma coisa: a ambientação “nobres no século XVIII” me dá nos nervos. As perucas, o pó de arroz, os tons pastéis: todos esses elementos provocam em mim um certo sentimento de repulsa. Entretanto, isso não me leva a desgostar imediatamente de um filme ambientado na época. Foi o que aconteceu com esse longa. Embora, em seu início, tenha chegado a temer pela minha opinião, ao ver as carruagens com cavalos enfeitados e as sapatilhas, logo fui fisgado pela trama e as duas horas do filme passaram voando. O filme de Stephen Frears é, de fato, perfeito: o enredo, as atuações, o ritmo. Tudo se encaixa perfeitamente para contar a história das intrigas amorosas de alguns nobres franceses, baseada no romance epistolar de Chordelos de Laclos. Glenn Close, em especial, está espetacular, mas John Malkovich não fica muito atrás. Um desses filmes que podem ser vistos muitas vezes, descompromissadamente, mas sempre nos mantém ligados do primeiro ao último segundo.
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Extra: Chegada do Trem à Cidade (L'Arrivée d'un Train à La Ciotat, Auguste e Louis Lumière, 1895): Primeiro filme exibido publicamente, Chegada do Trem à Cidade é lendário. As pessoas, diz-se, pensaram que o trem sairia da tela e adentraria a sala de projeção, saltando sobre todas elas. Imaginem o fascínio, o medo e a surpresa de quem estava lá. Nas palavras de George Meliès, monstro sagrado do cinema: "A mostra começou com uma fotografia estática que depois de alguns segundos começou a se mover. O trem apareceu e acelerou em direção ao público. Nós estávamos estonteados por este espetáculo." Sem mais palavras, fiquem com o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=1dgLEDdFddk
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