segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Crepúsculo dos Deuses

Hollywood é uma terra muito fértil. Não só para artistas em potencial, que lá buscam seus sonhos, ou para os de fato, que lá os realizam, mas também para as mais diversas histórias sobre o efeito que aquele lugar causa nas pessoas. Com efeito, histórias passadas em Los Angeles são uma constante no cinema americano, e aquelas que tem a indústria do show business local ou da meca do cinema como pano de fundo também são freqüentes.

Contudo, se essas histórias podem ser cômicas, ou inspiradoras, elas também são, muitas vezes, trágicas. É o caso de Crepúsculo dos Deuses, obra-prima do diretor Billy Wilder. No filme, acompanhamos em princípio a história de Joe, roteirista fracassado que sequer consegue pagar o aluguel, e pensa em voltar para sua terra natal. Logo, porém, Joe encontra, por acaso, a mansão onde vive a antiga diva cinematográfica Norma Desmond, ícone do cinema mudo que, com o advento do cinema falado, caiu no ostracismo.

Norma, porém, não se conforma com essa situação. Aliás, vai ainda mais longe: não só ela não a aceita como de certo modo a ignora, crendo ainda viver em seus tempos de glória, quando era desejada por todos, diretores, estúdios e fãs. Como se não bastasse sua própria auto-enganação, essa realidade ilusória é sustentada pelo mordomo Max, na verdade ex-marido de Norma, que teme o que poderia acontecer caso ela caísse na realidade e se descobrisse esquecida.

Tragado pelo redemoinho que é a atriz, Joe não tem escolha senão permanecer em sua mansão, ajudando-a a escrever o roteiro daquele que, ela acredita, será seu grande filme. Ao mesmo tempo, a mulher apaixona-se pelo roteirista, e praticamente o obriga a aceitar seu amor possessivo. Cada vez mais enredado na teia da antiga diva, Joe não vê saída por nenhum lado: começa um relacionamento profissional com a mulher de um amigo, que aos poucos parece querer se tornar algo mais. Norma, porém, não o quer longe de si, e só o que o roteirista pode fazer é ver a loucura da mulher aumentar cada vez mais.

No fim das contas, Joe acaba morto, alvejado pelas balas de uma Norma que ele estava prestes a abandonar. Ela, porém, como o choque, afunda ainda mais em sua loucura, em sua ilusão. Permanece acreditando que todos querem vê-la, todos querem filmá-la. Vira-se para a câmera das TVs que ali estavam para cobrir o assassinato e proclama: “Estou pronta para o meu close-up.”, mas o que vemos em seus olhos transtornados nem de longe lembra a glória de sua antiga fama.
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Um comentário:

João G. Viana/Pudim disse...

Você acaba de...contar o final?