segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Os Incompreendidos

Filmes sobre crianças são freqüentemente um problema. Em geral, ou eles são comédias, ou assumem tons de tragédia, melodrama: enfim, um clima muitas vezes piegas e forçado, cheio de comiseração pela desgraça dos pequenos seres humanos.

Difícil, mesmo, é um filme tratar crianças/adolescentes de uma maneira realista, sem recair no drama pesado ou na comédia leve. Os Incompreendidos é um dos filmes que alcançam esse nível. O longa de Truffaut traz um olhar sobre o mundo adolescente que, embora não procure se demorar no lado divertido ou no lado triste da infância, lança sobre todos os eventos dessa fase da vida um olhar carinhoso, compreensivo.

Também, não poderia ser diferente: o filme é densamente autobiográfico, e inclusive parte de sua imagética voltará a aparecer em outros filmes do diretor. O protagonista, Antoine Doinel, alter-ego de Truffaut, interpretado por Jean-Pierre Léaud, aparecerá ainda em outros quatro filmes do mestre da nouvelle vague.

Por isso, o que aparece na tela é uma sucessão de acontecimentos da infância, alguns mais tristes, outros mais divertidos, mas todos com um ingrediente essencial, quando se fala de crianças e adolescentes: a compreensão. Truffaut, lembrando-se de sua própria vida, compreende o mundo infantil, e, apesar de ser esta uma obra um pouco melancólica, nunca deixa a tristeza dominar o tom, e então constrói uma obra-prima de enorme sensibilidade e inigualável beleza.
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