terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Pílulas Cinematográficas, Edição 9: Especial O Poderoso Chefão

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Falar sobre a maior trilogia de todos os tempos não é uma tarefa fácil. A saga da família Corleone, contada com maestria nos três O Poderoso Chefão por Francis Ford Coppola, tem tantos fãs e admiradores – Kubrick o considerava o maior filme de todos - que torna-se difícil falar algo que já não tenha sido dito, ou de que ninguém discorde. Assim, opto por apresentar aqui minha visão pessoal sobre os filmes, e abro o tema para diálogo.

Os filmes são, basicamente, a história de Michael Corleone como chefão da máfia, desde o começo relutante até a morte. Cada um dos filmes dá conta de um momento particular de sua vida. O primeiro retrata a ascensão de Michael, o segundo a derrocada de sua vida pessoal – preço a ser pago pelo poder -, e o terceiro sua redenção e morte. Juntos, formam um painel impressionante da vida de um homem que é levado a descobrir que suas vontades superficiais podem não condizer com sua verdadeira personalidade e com o mundo exterior, e que sempre se perde algo quando se quer muito alguma coisa.
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O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972): O primeiro filme da trilogia é também o melhor. Não desmerecendo os outros dois, que são também obras-primas, mas a primeira parte da saga dos Corleone apresenta um equilíbrio interno ideal. Nada sobra nem falta no longa: ele é, no sentido mais pleno da palavra, perfeito. Desde as atuações, com Marlon Brando insuperável, Al Pacino extraordinário e o resto do elenco também sublime, passando pela ambientação – referência para todos os filmes de época posteriores -, pela música – composta por Nino Rota e magistralmente conduzida por Carmine Coppola – e chegando enfim ao próprio enredo do filme, adaptado brilhantemente do ótimo romance de Mario Puzo, tudo se encaixa: O Poderoso Chefão é um símbolo, da união entre o cinema de estúdio e o autoral, do embate entre a ambição e a honra e nossos sentimentos, de tudo que a sétima arte pode dizer...
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O Poderoso Chefão, parte II (The Godfather, part II, 1974): Após a primeira parte ter ganho o Oscar de melhor filme, Coppola nos brinda com mais um ganhador da estatueta, uma nova obra-prima que continua a saga de Michael, embora com um enfoque claramente diferente. Mais longo e lento que o filme anterior, a parte II tem tons mais dramáticos, que seguem em dois caminhos: em primeiro lugar, o do preço que Michael começa a pagar por seu poder e ambição, e em segundo, o da comparação entre ele e Vito, seu pai, que também ascendeu como chefão da máfia. O filme tece de forma brilhante e paciente essas relações, mostrando cenas simples mas significativas da vida de Vito quando era jovem, e de tudo que ele fez para se firmar, ao mesmo tempo em que acompanha Michael por seu inferno pessoal de encarar traições e separações dentro de sua família e se safar da Lei e de seus inimigos que o perseguem. O rosto sombrio e acabado de Al Pacino expressa perfeitamente essa situação. A cena final do filme, em especial, tem uma força raras vezes vista, que sai tanto da situação mostrada em si quanto da expressão que o fantástico ator mantém no rosto.
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O Poderoso Chefão, parte III (The Godfather, part III, 1990): Feita muitos anos depois das outras duas, essa terceira parte acabou não agradando tanto, embora seja um final épico e digno para a saga. A atuação de Sofia Coppola como filha de Michael de fato atrapalha, mas o próprio Al Pacino, Talia Shire e o estreante (na saga Corleone) Andy Garcia mantêm o nível. Dessa vez, Michael busca a redenção, pois percebe o que a busca pelo poder lhe causou, e está cada vez mais obstinado em legalizar suas operações. Sair do jogo, porém, não é fácil, e ele vai descobrir isso da pior maneira possível. De certa forma, a mensagem de Coppola é um pouco pessimista: mesmo para se salvar, Michael é obrigado a recorrer aos velhos métodos, e depois dele sempre haverá outros para continuar a fazer o que ele fez. Entretanto, a redenção para o indivíduo é possível, e a cena final dessa saga, de Michael velho, fraco e abatido, lembrando-se de seus amores e enfim morrendo, traz para a vida amargurada desse “padrinho” um pouco de poesia e graça, e termina de forma formidável, e insuportavelmente triste, essa que foi uma das maiores histórias já contadas no cinema.
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Um comentário:

cottonmouth disse...

tuma.. vc eh sempre incrível em suas visões e este filme consegue me arrepiar por inteiro. incrivelmente lindo , poético,dramático, complexo como é o ser humano.