trabalha com ótimos atores, e os dirige magnificamente. É, em suma, um cineasta completo.
Em sua cena inicial, vemos a câmera passear por uma cidadezinha americana, essas tradicionais de filme. Ela é quase irreal de tão perfeita: o caminhão dos bombeiros passa na rua, mas não para combater um incêndio e sim meramente fazendo ronda. Crianças atravessam calma e ordenadamente a linha de pedestres. Aqui, o azul é mais azul, o vermelho é mais vermelho, o verde é mais verde. Um senhorzinho rega sua grama com uma mangueira enquanto um cachorrinho brinca ao seu lado.
Nem tudo, porém, é alegria. Na sala, a mulher do homem vê filmes de violência e mistério. E, apesar de todo o clima pacífico, o velhinho tem um ataque cardíaco e desaba no gramado. A câmera então como que penetra na grama e chafurda, até encontrar um amontoado de besouros, ocultos numa semi-escuridão.
Depois disso, conheceremos as personagens: o filho do homem, que volta da universidade para ver seu pai, encontra em um terreno baldio uma orelha, e a leva para o xerife da cidade. Depois, reencontra a filha dele, amiga de infância, agora já crescida. Sua curiosidade sobre a orelha o levará finalmente a conhecer uma cantora e um criminoso demente, que o farão descobrir um mundo que ele jamais imaginou existir.
“It’s a strange world”, diz um dos personagens, no filme. Sim, é um mundo estranho, muito mais do que se poderia supor, e nele coexistem as pessoas mais estranhas. Sem fazer concessões, Lynch conta sua história de uma maneira profunda, forte, incômoda. Genial. Mas, após esse mergulho num mundo de trevas, todos voltam para a superfície, onde o final os reserva um melhor destino. Superados, pois, os dilemas desse mundo paralelo (chame-o como quiser), pode-se desfrutar mais uma vez do sol brilhante e do azul irreal, de tão azul.
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