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Esse mês, eu pretendia ter lido mais, mas um monte de coisas acabou reduzindo meu tempo - entre elas, o próprio blog, que tem tido posts quase todos os dias e... bem, esperem que logo haverá novidades - e eu acabei lendo só dois livros. Um deles, ainda no finzinho das férias/começo das aulas, e o outro durante umas duas semanas depois. Além disso, fiquei só na quase-leitura. Mas enfim, sou assim mesmo: tem épocas em que leio freneticamente, e épocas em que mal consigo tocar num livro. De qualquer modo, os comentários sobre os dois livros que eu li no último mês precisam estar aqui. E aqui estão.
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O General do Exército Morto, de Ismail Kadaré
A Segunda Guerra é o tipo de tema que as pessoas vão explorar até o fim dos tempos. Se há uma “Lei” que diz que, quanto mais se prolonga uma discussão, maiores as chances de alguém citar o nazismo, deveria haver uma também que pregasse o fato de a curtos períodos sempre aparecer uma obra de arte, entretenimento ou informação que tem a Segunda Guerra como tema ou pano de fundo. Pois esta guerra é o grande cenário trágico de nossa era, de modo que, seja em filmes sobre os soldados negros (próximo filme de Spike Lee) ou criminosos (próximo filme de Tarantino) na Europa durante a guerra, seja sobre os “heróis” americanos de volta pra casa ou sobre os “mártires” japoneses resistindo e morrendo numa ilha de areias negras (A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood), ou em tantos, tantos outros, inumeráveis, filmes, haverá sempre espaço para uma outra abordagem, uma nova visão. Na literatura, também, o tema se multiplica. E, em pelo menos um caso especial, ela revela essa “chaga indelével”, que permanece em nossos corações e mentes, e ainda mais nos daqueles que sofreram de perto as agruras da guerra. É o caso de O General do Exército Morto, de Ismail Kadaré, ilustre autor albanês. No livro, um general italiano, acompanhado de um padre, retorna à Albânia, mais de 20 anos após o término da guerra, para recolher os restos mortais dos soldados italianos que ficaram enterrados no solo daquele país após o fim da guerra. Numa narrativa sombria e melancólica, Kadaré acompanha seus personagens, esmagados entre a súplica das mães e famílias na Itália, as dificuldades logísticas de levar o intento a um termo, e a opressão da presença de tantos mortos, de tantas histórias, de tantas lembranças. O padre e o general chegam recebidos pelo inverno e, dois anos depois, partem enxotados por ele, com muitas cinzas presentes mas muitas faltando, e a sensação de que o fracasso era inevitável, e sempre o será, na contagem dos corpos de uma guerra.
O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald
Pouco antes da Segunda Guerra, e logo após a Primeira, os Estados Unidos da América entravam em um período conhecido como Grande Depressão. Um pouco antes do crack da bolsa de Nova York em 1929, porém, os cidadãos americanos, ou, mais especificamente, aqueles pertencentes às classes mais altas, já viviam permanentemente na melancolia. E F. Scott Fitzgerald retratou como ninguém a solidão e a tristeza dessa geração perdida, que viveu na Era do Jazz em meio ao florescimento do sonho americano e às lembranças dos horrores da Grande Guerra. Em O Grande Gatsby, especificamente, Fitzgerald conta a história de Jay Gatsby, homem riquíssimo envolvido com o tráfico de bebidas, e de seu amor por Daisy, mulher rica casada com um homem ainda mais rico. E, no meio deles, o narrador, Nick, que acaba levado pelos humores e anseios de seus amigos. O final é, paradoxalmente, ao mesmo tempo trágico e indiferente, como se os próprios personagens sobre os quais a tragédia recai não se importassem muito com o que lhes acontecera. Com isso, Fitzgerald buscava mostrar o esvaziamento moral dessa classe rica e isolada, ao mesmo tempo em que retratava, com precisão literária milimétrica, a que vales escuros o sonho americano levara aquelas pessoas.
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