Não assisti, infelizmente, ao segundo filme, mas o primeiro despertou em mim reações diversas. Basicamente, o longa conta a história de Carlos (Walmor Chagas, em seu primeiro grande papel), jovem que vai do Rio para São Paulo no boom da indústria automobilística do final dos anos 50, e suas três mulheres. A terceira, Luciana (Eva Wilma), é a certinha patricinha, com quem se casa e tem um filho. A segunda, Ana, é uma mulher jovem e despreocupada, mais interessada em seu próprio prazer e lucro pessoal. Hilda, a primeira, é meio amiga, meio amante, uma mulher intelectual, de ideais elevados, que aparece pela primeira vez no filme morta, após se suicidar.
O filme versa sobre o desespero dos indivíduos frente à euforia da industrialização e do desenvolvimento. A falta de escrúpulos de uns, que simplesmente abandonam todo e qualquer fundamento moral em troca do novo. A falta de esperança de outros, que vêem seus amores, seus ideais, suas felicidades irem por água abaixo sem que nada possam fazer. E a falta de sentido de uns poucos, como Carlos, que simplesmente não conseguem se encaixar ou aceitar o estado das coisas da sociedade e da própria vida.
Para Carlos, só o que lhe resta é “Recomeçar, recomeçar, recomeçar. Recomeçar de novo. Recomeçar sempre.”, como uma máquina que segue sempre as mesmas rotinas automáticas. E Person desenvolve esses dramas com maestria excepcional. Lembrei-me às vezes do mestre Luchino Visconti, por seus preto-e-brancos, seus enquadramentos, etc. A trilha sonora é outro espetáculo à parte. Tudo num filme que funciona numa lógica muito particular. Com flashbacks e saltos temporais sem advertência, é preciso que nos concentremos um pouco para entender a ordem dos acontecimentos. Mas o prazer de ver um filme de tamanha qualidade – e ainda falado em português – compensa qualquer esforço.
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