
Essa característica se reflete no próprio estilo do cineasta, que era, praticamente, não ter “estilo”. Mas isso seria uma bobagem de se dizer, visto que sua obra é muito marcante e própria, e possui sim a marca de seu próprio estilo de fazer as coisas. O que ocorre é que ele tentava contar suas histórias de maneira simples, sem um estilo visual marcante ou rebuscado. E isso ele fazia muito bem, o que o credencia entre os grandes cineastas de todos os tempos.
Onde Começa o Inferno é, pois, um filme fantástico. O título brasileiro, embora soe maravilhosamente, não tem lá muito a ver com a história do filme, o que de resto se tornou clássico nos títulos de faroeste (e de outros tipos de filme, também) no Brasil. O título original (Rio Bravo), embora mais simples, é direto e eficiente: na cidadezinha de Rio Bravo, Joe Burdette se envolve numa confusão e acaba matando um homem desarmado. O xerife local, John T. Chance (John Wayne, em mais um papel memorável) o prende na delegacia, à espera do delegado regional passar e levar o criminoso para a forca. O problema é que o irmão de Joe, Nathan, é um homem rico e poderoso, cheio de pistoleiros contratados, que fará de tudo para libertar o irmão. E o problema maior é que, para defender a cidade e manter Joe preso, Chance conta com apenas um pequeno grupo de ajudantes, quais sejam: Dude (Dean Martin, numa excelente atuação dramática), antigo auxiliar de xerife que, após fugir com uma mulher, volta só e desolado, e torna-se um bêbado; Stumpy (Walter Brennan, vencedor de três Oscar de melhor ator coadjuvante, simplesmente espetacular no papel, que por si só já é ótimo), um velho resmungão e irascível que acaba funcionando como principal personagem cômico do filme; Colorado (Ricky Nelson), um jovem pistoleiro que não tem muita vontade de se envolver mas acaba ajudando muito o xerife; e Feathers (Angie Dickinson, carismática e provocadora), mulher bela e desbocada que se envolve com Chance.
Como se vê, é uma situação tensa, que Hawks administra primorosamente. De modo singular para um faroeste, ele desenvolve exemplarmente o psicológico dos personagens, dando espaço tanto para o cômico (as cenas com Stumpy e o dono do hotel) quanto para o dramático (o problema com o álcool de Dude), tanto para a ação (os tiroteios e perseguições) quanto para o romance (a relação de Chance e Feathers), além das diversas cenas extremamente tensas que pontuam o longa, com o suspense nos fazendo prender a respiração. Isso torna o filme um pouco longo (2:20h), mas nada cansativo, justamente por essa alternância de momentos e ritmos distintos. O cinema, afinal, não é feito só de fotografia ou enquadramentos excepcionais. É feito também de montagem, direção de atores, e, principalmente, de roteiro e personagens, e Hawks foi um contador de histórias como poucos.
No fim, embora não terminemos o filme com uma “mensagem” propriamente dita, ou uma idéia instigante que foi revelada, saímos dele para a realidade com uma sensação reconfortante de ter visto uma ótima história ser contada, uma história do velho tipo, sobre amizade, lealdade e coragem, além de amor, claro, e outras coisinhas mais. E o que é melhor: tudo isso contado no mais natural e fluido estilo cinematográfico, desses de dar água na boca.
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Um comentário:
Falou tudo! Põe em sua lista os filmes do Leone. São os melhores faroeste, no nível de hawks, ford...
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