segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Grandes Desfechos de Livros 1 (de 5)

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Em Novembro passado, fiz um top semanal com cinco dos Inícios de Livros que eu mais gostava. Agora, tomo o lado oposto, fazendo uma lista com cinco dos melhores finais de livros (romances) para mim. Com certeza, colocar o final de um livro em uma lista é bem diferente de colocar o começo, mas eu adoro desfechos de livros e acredito que, tendo um destino como os que eu colocarei nesse top, a viagem torna-se ainda mais agradável. E além do mais, não é um último parágrafo que vai estragar nada de uma história.

Para começar a lista, um final clássico, do tipo conclusivo. Um dos livros da trilogia Os nossos antepassados, O Barão nas Árvores, que já foi analisado por esse blog, tem um enredo interessante: o barão Cosme Chuvasco de Rondó, após discutir com a família, sobe em uma árvore e de lá não desce nunca mais - mesmo. Entremeando o livro, narrado pelo irmão de Cosme, há várias passagens digressivas, sobre as florestas, as pessoas, o estado antigo das coisas...

É uma característica comum da trilogia de Italo Calvino: gente que presenciou de perto os acontecimentos narrados lembrando e contando algo que faz parte de sua própria história, embora os narradores não sejam os personagens principais. É uma trilogia que, embora engraçada, divertida e aventuresca, é sobretudo melancólica, um painel pitoresco e delicado de uma Europa durante a Idade Média até o fim do século XVIII, uma Europa que se perdeu. Assim, nada mais adequado para encerrar um livro (ou a trilogia) do que um parágrafo como o que posto a seguir.
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O Barão nas Árvores, de Italo Calvino. Tradução de Nilson Moulin.

“Penúmbria não existe mais. Olhando para o céu vazio, pergunto-me se terá existido algum dia. Aquele recorte de galhos e folhas, bifurcações, copas, miúdo e sem fim, e o céu apenas em clarões irregulares e retalhos, talvez existisse só porque ali passava meu irmão com seu leve passo de abelheiro, era um bordado feito no nada que se assemelha a esse fio de tinta, que deixei escorrer por páginas e páginas, cheio de riscos, de indecisões, de borrões nervosos, de manchas, de lacunas, que por vezes se debulha em grandes pevides claros, por vezes se adensa em sinais minúsculos como sementes puntiformes, ora se contorce sobre si mesmo, ora se bifurca, ora une montes de frases com contornos de folhas ou de nuvens, e depois se interrompe, e depois recomeça a recontorcer-se, e corre e corre e floresce e envolve um último cacho insensato de palavras idéias sonhos e acaba.”
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