segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Grandes Desfechos de Livros 2 (de 5)

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Dando sequência à lista de melhor desfechos de romances, vem hoje o ubíquo Joyce. Ao contrário do final da semana passada, recapitulador e conclusivo, o final de hoje é de uma natureza bem diferente, único, eu diria. Finnegans Wake, como já tratei aqui no blog, é um romance singular, então nada mais adequado que seu final ser singular também.

Acontece que, nesse colossal labirinto ainda por ser desvendado, a última frase de suas linhas é nada menos que o começo da primeira frase do livro. Ou, em outras palavras: a última frase termina na primeira página, e a primeira frase começa na última página. Joyce, assim, dá ao livro um aspecto circular, interminável, perfeitamente adequado às idéias do filósofo Giambattista Vico, das quais Joyce tirou um pouco da estrutura do romance.

Além disso, como é marcante no escritor, que fez isso tanto em Ulisses quanto neste Finnegans Wake, o romance termina numa torrente, um fluxo de consciência feminino, e nesse caso, literalmente um rio caudaloso desaguando no mar. ALP, Anna Lívia Plurabelle, o espírito do Liffey, a consciência feminina do ser humano, do mundo, de todo o universo, flui nas páginas entre nossos dedos, e por fim une suas águas às de seu pai, o mar, desintegrando-se e dando lugar a um novo começo que se personifica em sua filha, e na primeira linha do romance, que volta a fluir, reiniciando o ciclo. De deixar boquiaberto qualquer um não?

No Brasil, o título foi traduzido como Finnicius Revém pelos irmãos Campos, que também traduziram alguns trechos em seu Panaroma de Finnegans Wake. Anos depois, o gaúcho Donaldo Schüler tomaria para si a tarefa de traduzir o livro integralmente, tarefa que executou de forma sublime. Deixo aqui, portanto, as últimas linhas do Finnicius Revém, a "versão brasileira", de Donaldo Schüler, para a odisséia lingüística, simbólica, filosófica e artística de Joyce.
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Finnegans Wake, de James Joyce. Tradução de Donaldo Schüler.

“Estou de partida. Que amargo fim! Sorrateiramente partirei antes que acordem. Não vão me ver. Nem saber. Nem recordar-me. E é velha e velha é triste e velha é triste e exausta volto a ti, velhegélido pai, velhegélido indômito pai, meu velhegélido indômito, patético pai, até a mara vista da mera forma dele, as miolhas e miolhas dele, monotonando, me ressalgam, me ressacam e me arremesso, meu início, em teus braços. Eisque seelevam! Salvem-me desses tríveis dentes! Dos más uno dos homomentos mais. Só. Avelaval. Minhas folhas derivam de mim. Todas. Só esta me resta. Paro e porto comigo. Pra remembrança de. Lff! Suave esta manhã, tanto, a nossa. Sim. Leva-me contigo, papito, como quando quedos percorremos a feira dos brinquedos! Se eu o visse baixar sobre mim sob suas alvestendidas asas como que vindo de Arkângelos, penso que pensa findaria a seus pés, húmil, dúbil, débil, laudante. Sim, tá em tempo. Cá estamos. Início. Passamos pastagens, basculhem o bosque a. Vvôo! Gaivvota. Gaivvootas. Apelos do pai. Já vvou, pai. Eis o fim. Nós então. Finn, revém! Toma. Serenamente, remememora-me! Té que thausentes. Lps. As chaves a. Cá tens! A via a lenta a leve a leta a long a”
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Um comentário:

Sib disse...

eu não sei se conseguiria ler esse livro.