sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A Roda #11 - Tratado Universalizante da Xurepa, Introdução


por Lobato Légio

Xurepa é o que eu escrevo. Xurepa é o que você fala. Xurepa é o que nós pensamos. De fato, qualquer idéia organizada ou expressão comunicativa, queira por palavra - escrita ou dita -, queira por pensamento, é a Xurepa. A Xurepa é o espírito do convívio social e da civilização. Contudo, não só do “convívio” ou “civilização” em termos humanos, e sim em termos de qualquer ente que possua dois princípios, quais sejam: existir e se relacionar com outros entes que possuam as mesmas duas premissas no espaço alcançável e imaginável. Ver-se-á, no entanto, que as duas premissas são em verdade a mesma, e que é impossível uma ser válida sem que a outra também o seja. Analisemos, pois, ambas as características, de modo a demonstrar esse conceito.

Comecemos, portanto, pela Xurepa em si. Definir a Xurepa é o exercício de metalinguagem supremo, o que o torna extremamente importante e nada trivial. Como se vê por esse próprio texto, a Xurepa tem muitas definições, e cada uma delas é válida. Descrevê-la por completo seria uma tarefa exaustiva, quiçá interminável, então procurar o cerne de todas as definições, o que todas elas têm em comum, é o único meio praticável de definir a Xurepa. Arrogo-me o direito de tentar fornecer essa definição, ainda que ela possa ser, ainda, outra faceta, e não o âmago definitivo.

Para começar, partiremos de definições mais genéricas da Xurepa, para depois tentar extrair delas um aspecto comum. Quando um ser humano fala com outro, ocorre um processo de comunicação. Há um ente que diz e um ente que ouve. Mas o processo, a relação entre eles, é a Xurepa. Do mesmo modo, quando se escreve, a caneta faz pressão no papel, e o papel cede, sendo então marcado pela tinta. Ocorre aí um processo mútuo. Isso é Xurepa. Ao se olhar para o céu à noite, vê-se estrelas, e as estrelas são vistas. Isso é Xurepa. Ao se sentar em uma cadeira, a parte animada entra com o traseiro e a inanimada, com o assento. Isso é Xurepa. Uma árvore cai na floresta. Não há ouvidos para ouvir sua queda, mas esta continua provocando o deslocamento do ar, deslocado por ela. Aí também está a Xurepa. A Xurepa é, portanto, uma troca - ainda que inconsciente, posto que pode ser realizada por seres sem consciência. É o equilíbrio das forças comunicativas no universo. A linguagem mais básica de comunicação, de relação entre entes, uma espécie de Kether lingüística da qual emergem todas as outras formas de se relacionar no Universo.

Pois bem, isso posto, qual a relação que isso tem com a existência em si? Não é matéria para esse estudo questionar as filigranas e questiúnculas sobre o que é realidade, mas isso não o impede de fazer uma proposição a respeito de pergunta geral: o que significa, exatamente, existir? Descartes sugeriu o famoso postulado Cogito ergo sum – Penso, logo existo -, mas essa relação obviamente só é válida para seres racionais. Sobre isso ele erigiu a tradição do ceticismo, de duvidar de tudo até níveis paranóicos. Entretanto, não se pode dizer que a fala de alguém - essa combinação etérea de pensamento, vibrações das cordas vocais e ar – existe? Não se poderia dizer que a imagem de uma pedra em nossa imaginação também existe, enquanto imagem de uma pedra na imaginação?

A verdade é que prerrogativas como tangibilidade e consciência são mancas para explicar a qualidade de algo existente. São extremamente arbitrárias ao condenar a imaginação, a ilusão, o pensamento, até mesmo a música, à categoria de não-coisas, de coisas que não existem por não serem tangíveis ou imagináveis. Mas, se não for isso, pergunta-se: o que poderia justificar ou caracterizar a existência? E se responde, prontamente: a Xurepa. O estado de estar se relacionando com outras coisas.

Essa visão é, por certo, fonte de esperança mesmo em frente à desolação do vazio. Um átomo largado no vácuo é algo que existe, assim como o nada ao seu redor existe também. Somente o nada absoluto, livre de qualquer contraste, não-existe. Mesmo que toda a história da humanidade fosse o sonho de um deus adormecido, isso não retiraria a solidez do fato de que existimos.

É uma definição abrangente, mas definições tem o costume, raramente contrariado, de serem abrangentes. Se fosse algo específico, não seria definição, e sim descrição. A Xurepa tem muitas descrições, mas a definição, sobre o que ela é, acima de tudo, é só uma. Existir e se relacionar, portanto, é uma única e mesma coisa, e a Xurepa é o caminho entre o nada e a existência.

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Nesse estudo, analisaremos mais a fundo outras facetas da Xurepa, com exemplos, histórias e descrições, e forneceremos um painel abrangente de como ela foi tratada e retratada pelo gênio humano, na arte e na filosofia, durante a história, focando-se especialmente em seu aspecto de linguagem que expressa idéias, sentimentos e abstrações.
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4 comentários:

Sib disse...

"Ao se sentar em uma cadeira, a parte animada entra com o traseiro e a inanimada, com o assento. Isso é Xurepa."
*rindo*

Anônimo disse...

Interessate, gostaria de ler outros tratados sobre a zurepa e também de possível, sobre a mufuca.

Sib disse...

e a citação de sexta? :(

Anônimo disse...

AHAHAHAH XUREPA MANO