quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O Informante

O mundo é muito mais complexo do que supõem os idealismos, e está regido por forças às vezes imperceptíveis que não conhecemos. Assim nos ensina Michael Mann em um de seus grandes filmes, O Informante. O épico de quase três horas sobre o cientista demitido que tem informações importantes sobre a indústria do cigarro e o jornalista que luta para veicular essas informações é soberbo, um fantástico filme com tudo que o tema pode oferecer.

O Informante é, pois, ultradiversificado, no sentido em que não se detém em um determinado aspecto do enredo, mas expande suas aspirações e, mais importante, as preenche por completo. O longa é dividido em duas partes. A primeira é focada em Jeffrey Wigand (Russel Crowe), o cientista que trabalhava para uma empresa de tabaco, e seus conflitos sobre se deve ou não contar o que sabe, a despeito das conseqüências. A segunda é focada em Lowell Bergman (Al Pacino), respeitado produtor do programa 60 Minutes, e na sua luta para que a entrevista de Wigand, após ser gravada, vá ao ar.

O enredo é cheio de acontecimentos e detalhes, mas a mão de Mann impede que o filme se torne confuso ou chato. Ao imprimir a dramaticidade e o ritmo certos para cada cena, ele constrói um thriller, uma obra em que a tensão fica nas alturas a maior parte do tempo. No entanto, o talento do diretor e dos roteiristas (Eric Roth, de Forrest Gump, e o próprio Mann) impede que O Informante se resuma a isso, a um thriller. Sem perder o elemento da tensão, temos várias passagens em que o psicológico dos personagens é aprofundado, e acompanhamos de perto os conflitos, medos e erros tanto de Wigand quanto de Bergman. O cientista, por exemplo, só resolve contar tudo após ser demitido. O jornalista, por sua vez, embora crie a ilusão de que a decisão de tudo está nas mãos de Wigand, manipula as emoções e valores do cientista para que ele fale. Desse modo, mesmo os “heróis” da vez são vistos não como santos, mas como pessoas reais, que nem sempre fazem a coisa certa pelo motivo mais louvável, ou da maneira mais correta.

Além disso, há a velha história das verdadeiras forças que movem o mundo. Ou da verdadeira força que o faz, desde sempre, e que todos nós com certeza conhecemos muito bem. Sem recair nas armadilhas do vilanismo ou do preto-e-branco, O Informante expõe os mecanismos, cuja matéria prima é o dinheiro, que impedem as informações de vir à público, que tolhem a justiça, que fazem mesmo os mais valorosos e audaciosos jornalistas pensar duas vezes antes de embarcar em um desafio a uma grande corporação. Não se trata de suborno e corrupção, e sim das armas que alguém abastado possui para se proteger e atacar os menos providos que o desafiarem.

Denso e eletrizante, O Informante é uma obra moderna, e essencial para compreender o “mundo em que vivemos”.
.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei este filme!!!