sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Citação de Sexta: Ambigüidades covalentes


“Na última terça parte de sua vida, Laszlo Jamf adquiriu – era a impressão que tinham os que, nas arquibancadas de madeira do anfiteatro, viam suas pálpebras pouco a pouco tornar-se granulosas, manchas e rugas estampar-se em sua imagem, desintegrando-a em direção à velhice – uma hostilidade, um estranho ódio pessoal dirigido à ligação covalente. A convicção de que, para que a síntese tivesse futuro, era necessário aperfeiçoar – alguns alunos chegavam a entender que o sentido era “transcender” – a ligação. Para Jamf, a idéia de que uma coisa tão mutável, tão frágil, quanto um compartilhamento de elétrons constituía o âmago da vida, da sua vida, parecia uma humilhação cósmica. Compartilhar? Era tão mais forte, tão mais duradoura, a ligação iônica – em que os elétrons não são compartilhados e sim capturados. Tomados! – e aprisionados! polarizados, positivos ou negativos, esses átomos, sem ambigüidades... como ele amava aquela clareza: sua estabilidade, sua teimosia mineral!”

- Thomas Pynchon, O Arco-Íris da Gravidade
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2 comentários:

Sib disse...

que DEMAIS! (você definitivamente me convenceu a lê-lo)

Juka disse...

tenho estado ausente dos comentários, me desculpe.
mas sempre leio o blog, ok?
eu não te abandonei.

o títlo da citação me deixou muito curiosa, e me fez ler tudinho com atenção.
e não é que eu [b]não[/b] me arrependi?

muito bom, Tuma.
cada dia melhor *-*

queria ser assim... aushusa