quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Pílulas Cinematográficas, Edição 6

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Nessa edição das pílulas, o que há de mais em comum entre os filmes é uma verve alternativa: os dois primeiros são de cineastas indies, que fazem seus filmes fora do mainstream (embora a diretora do segundo seja filha de um dos maiores diretores americanos de todos os tempos). Já Woody Allen, diretor do terceiro filme, não é um cineasta alternativo, mas faz os filmes que quer (embora problemas com financiamento o tenham levado a filmar seus últimos filmes na Europa) e, diferente dos outros, é uma lenda viva do cinema.
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Os Excêntricos Tenenbaums (The Royal Tenenbaums, Wes Anderson, 2001): Wes Anderson tem feito bonito desde seu primeiro filme, mas foi com Os Excêntricos Tenenbaums (tradução ruim do título original, renegada até pelo próprio diretor) que ele finalmente alcançou o prestígio. Contando a história de uma família disfuncional (o tema preferido dos cineastas indies), Anderson faz um filme adorável, brilhante, com momentos trágicos e momentos cômicos, mas sempre conduzidos com uma leveza e despretensão dignas do diretor.
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Encontros e Desencontros (Lost in Translation, Sofia Coppola, 2003): Sofia Coppola, também fez um filme estréia elogiado (As Virgens Suicidas), mas foi com Encontros e Desencontros que ela atingiu o reconhecimento. Indicado ao Oscar de melhor filme e diretor (além de ganhador de melhor roteiro original), entre outros, Encontros e Desencontros é um conto tocante sobre a solidão em um mundo desconhecido e sobre o amor que pode nascer sem depender de idade ou desejo sexual. O final do filme é particularmente brilhante: não nos deixando conhecer o que Bob diz para Charlotte, Sofia concede aos seus personagens um momento de intimidade, não se intrometendo nem permitindo que os espectadores voyeurs nos intrometamos naquele momento tão particular, e ainda deixa no ar a pergunta sobre o que foi dito ali, fomentando desse modo o mistério, que diz infinitamente mais do que o conhecido.
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Desconstruindo Harry (Deconstructing Harry, Woody Allen, 1997): Muitos filmes de Woody Allen são parecidos: têm o próprio diretor atuando como protagonista, um homem judeu de meia idade neurótico e depressivo (cuja vida é movimentada por “cinismo e niilismo, sarcasmo e orgasmo”), que acaba usando o filme como uma espécie de sessão de psicanálise na qual nós, espectadores, somos o médico. Esses filmes, porém, não são iguais, como alguns gostam de falar. Em Desconstruindo Harry, por exemplo, está presente um fator fortíssimo de metalinguagem, eco de Oito e Meio, em que Allen aparece como um escritor com bloqueio criativo que conta nos livros por ele escritos versões de sua própria vida. Na minha visão, o filme funciona como uma espécie de “última sessão de análise”, uma catarse em que Allen justifica todos os filmes que fez sendo personagem principal e ainda se livra, de uma vez por todas (ao menos no mundo da arte) de todas as neuroses e obsessões que marcaram sua carreira (e porque não, sua vida).
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