segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Avatar (Avatar, James Cameron, 2009)

.
Falar sobre Avatar agora, um mês após a estréia, poderia parecer atrasado, fora do timing, não estivesse ainda o filme tão em voga, tão na “boca do povo”. Os que acusam o filme de não ser a revolução que prometia parecem não perceber que ainda agora, um mês após o lançamento, um filme supostamente básico dá tanto o que falar. E há ainda uma outra vantagem nessa posição de comentar Avatar um mês após a estréia: tanto já foi dito sobre o filme que eu posso escrever muita coisa só comentando a visão que o público, a crítica e outras entidades abstratas tiveram dele.

A verdade é que os detratores de Avatar o acusam principalmente de ser um amontoado de clichês, uma história previsível e que não acrescenta nada, de fato, à evolução do cinema. Mas um filme não pode ser chamado de ruim somente por apresentar clichês: clichês-míticos como aqueles de que Avatar se vale são formas de provocar uma identificação imediata com o público. O enredo de Avatar, cheio de informações novas e complicadas (transferência de consciência, todo o panorama social do filme), é exposto de forma simples e potente, usando a “Jornada do Herói” e outros que tais como um canal para atingir o cara com os óculos engraçados sentado na poltrona.

E mais importante: aberto esse Canal, Cameron usa-o para transmitir mensagens e conceitos cruciais, essenciais mesmo para o mundo em que vivemos. É ótimo que um filme em última instância pacifista (os humanos não são derrotados pelos guerreiros Na’Vi, mas pela natureza), que faz uma defesa maravilhosa da liberdade e apresenta uma mensagem ecológica tão forte esteja em vias de se tornar o mais visto da história (já chegou a 1 bilhão e 700 milhões de dólares em arrecadação, faltando pouco mais de 150 para ultrapassar Titanic) [Quando o texto foi escrito estava nesse patamar. Hoje o filme já ultrapassou Titanic e é o de maior arrecadação da história, embora em número de ingressos o campeão ainda seja E o Vento Levou].

Aliás, esse elemento ecológico, o mais forte do filme, nos leva a mais uma das qualidades de Avatar: a coadunação de forma e conteúdo, ou melhor, a forma como caminho expressivo e potencializador do conteúdo, o que afinal é um elemento definidor da Arte. A tecnologia do filme, com suas imagens geradas por computador quase fotorrealísticas e seu 3D impactante, mais do que somente instigar diversão e assombro, verdadeiramente nos coloca em Pandora. Um dos comentários mais ubíquos sobre o filme é o dos espectadores que ficam com saudades de Pandora, que são tomados por um desejo enorme de voltar para lá, de estar lá, de viver a liberdade que Jake Sully vive. E num filme sobre preservação da natureza, comunhão com a natureza, liberdade, quer maior realização que levar o espectador a desejar estar “lá”, a se apaixonar pelo mundo natural, a fazê-lo sentir-se plenamente identificado com aquilo que é preciso defender?

Provavelmente não, e por isso eu digo que Avatar é um exemplo perfeito de técnica usada em função da arte, de forma usada em função do conteúdo. É um filme sobre a preservação do simples (vida natural), feita com a tecnologia mais avançada que existe (3D, computação gráfica). Assim como na história a salvação dessa mesma vida simples (Pandora, Na'Vi) é alcançada graças a uma tecnologia avançadíssima (os avatares). Talvez esse último elemento não estivesse nos pensamentos de Cameron quando ele realizou o filme. Mas é esse tipo de discussão que o filme provoca, e é por isso que ainda agora, um mês após o lançamento, ele provoca tanta discussão, e continuará provocando, discussões profundas e amplas que, essas sim, poderão constituir a revolução prometida.
.

2 comentários:

Senna disse...

Seu texto foi fantástico! Ótimo argumentos que mudaram minha opinião.
Parabéns.

GOZZO disse...

Olá Tuma, parabéns pelo texto... Estou aqui através da indicação do Pudim. Eu gostaria de tentar entender os objetivos do Sr.Cameron. Me parece que a obviedade do enredo teria sido proposital como parte da criação do munod, do conceito! Avatar é um conto-de-fadas, visto que já foi comparado a Pocahontas. A intenção, creio, foi criar uma lenda a partir da qual se desenvolverá todo o universo Avatar. Porque, se você observar dentro da ficção científica de superproduções cinematográficas, quais são as revoluções? No meu ver: Star Wars, Matrix e agora Avatar. James Cameron já está negociando a continuação! Abraço.

P.S.: James Cameron não parece nome de pirata? "Cap. James Camarão"!