quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Entre Dois Amores

A África é, provavelmente, o maior “problema” que a civilização globalizada tem em mãos. Esse continente destroçado – em primeiro lugar pela colonização e escravidão impostas pela Europa durante cinco séculos, e depois por todos os males decorrentes desse processo... miséria, guerra, violência étnica, epidemias... -, ainda que riquíssimo em vários aspectos, precisa de uma solução. Talvez esta seja deixá-los em paz, talvez seja ajudá-los, talvez seja voltar no tempo e desfazer todos os erros que levaram o continente até onde está hoje... espera-se que ela seja descoberta a tempo.

Mas, desde muito tempo, a África foi cenário, personagem ou objeto de muitas obras de arte "ocidentais", desde os romances de Kipling e Verne até filmes como Hotel Ruanda ou Senhor das Armas, extremamente contundentes e críticos sobre a situação da terra que é a origem da humanidade. Algumas obras, porém, são mais sutis, preferindo usar a África como pano de fundo para uma história, mas sem deixar, claro, de fazer algum comentário sobre o que foi feito dela... é o caso de Entre Dois Amores (Out of Africa, no original), filme de Sidney Pollack com Meryl Streep e Robert Redford que venceu o Oscar em 1986 (concorrendo com A Cor Púrpura – que eu acho melhor).

Streep é Karen Blixen, dinamarquesa com algum dinheiro que se casa com Bror Von Blixen, um barão, para receber um título de nobreza. Os dois se mudam então para África, onde pretendem ter uma fazendo de leite. Bror porém logo muda os planos e planta café, o que deixa Karen nervosa a princípio. Apesar das constantes ausências de Bror, que sai para caçar, uma paixão se desenvolve no meio do casamento de conveniência dos dois, até que Karen pega sífilis do marido infiel. Depois desse episódio, a relação dos dois fica estremecida, e Bror acaba se mudando da fazenda e indo morar na cidade. A partir daí, Karen terá uma longa paixão com o aventureiro inglês Denys Finch-Hatton (Redford), ao mesmo tempo que administrará a fazenda e sua relação com os empregados, nativos da tribo dos quicuios. Com o tempo, o idílico equilíbrio que se estabelece entre essas coisas começa pouco a pouco a ceder, e tudo culminará num final trágico que forçará Karen a voltar, mais uma vez solitária, para sua terra, onde se tornará uma renomada escritora...

Essa história é real, e o filme é uma adaptação da biografia da escritora Karen Blixen. Com calma, e muito bem apoiado nas interpretações de seus protagonistas, Pollack constrói um belo melodrama, versando sobre a solidão e sobre como as relações humanas se desenvolvem dentro de um jogo entre liberdades e compromissos individuais. Ao mesmo tempo, sem colocar a África no centro dos acontecimentos, Pollack aproveita para mostrar a postura dos colonizadores em relação ao continente, e como seus desígnios se davam, sendo Karen e Denys, de maneiras diferentes, duas das únicas vozes solitárias que se erguiam para defender os nativos e seus modos de vida. Assim, unindo drama e crítica, o filme nos entrega duas horas e quarenta que, se não passam voando, são muito bem aproveitadas.
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