quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A Roda #3 - Panorama do Vale de Legium, parte 2






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por Lobato Légio

Tecem-se as impressões sobre o monólito vivo: fulgura já o sol alto no céu, mas ele ainda permanece à sombra. É O Que Foge do Zênite, o para o dia obscuro. Mas, posta a estrela maior, a refulgência de fogo, em seu nadir, ou, antes mesmo, nos limites da visão, caminhante do ocaso, aí sai o monólito de sua caverna e caminha no lusco-fusco, e espera surgir Vésper, e brilha com as estrelas.

E na chuva delas se molha, e se banha, e resplandece, solitário e único, vidrocristal que verte do areal sem fim. O deserto ressoa de eco e silêncio, toca os ângulos e as impressões do monólito vivo. De bem longe vêm surgindo sombras, que caminham em sua direção e por ele passam, antes mesmo que se entenda o que elas eram.

Deitado de braços abertos, engolido pelo céu negro sarapintado de estrelas, sou eu o monólito vivo, erguendo-me da areia, tão pesado quanto o mundo, somente o sol por testemunha. Sem pestanejar caminho, e pulo, e alcanço.

A estrada que corta o deserto, é ela que me alcança, com suas curvas insidiosas, animais invasores, e retas que perpassam o coração das areias como uma lança. O asfalto quente expele um bafo de ilusão, e o caminho que se posta à frente se torna difuso e sem contornos.

Na névoa, porém, vejo aparecer algo sólido, real. Quatro paredes e meia, pilastras, uma bomba de gasolina. Dentro do posto, um homem gordo e barbudo não levanta os olhos quando eu entro, fica a anotar riscos mortos em sua caderneta.

Somente quando toco no balcão, ele sai de sua posição, e vira os olhos para mim, e sua língua, e pergunta, de pronto, sem mesmo piscar: “Mister...?”, ao que respondo, após um único e leve respirar: “Suzano – from Alabama.”
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