quarta-feira, 1 de outubro de 2008
A Roda #2 - Considerações Iniciais
por Lobato Légio
Considerei, quando fui convidado pelo insigne Tuma para escrever neste diário-de-rede, que espécie de compromisso teria de assumir para colocar, a cada quinze dias, minhas palavras à disposição dos outros.
Ponderei, muito calmamente, os dois aspectos mais imediatos dessa abertura. Por um lado, escrever numa coluna permitiria-me expôr algumas idéias que considero essenciais. Mas por outro, demandaria que eu me expusesse muito amplamente, e saísse da cômoda situação em que me encontrava.
De fato, quando Tuma me procurou, encontrou-me em uma espécie de idílio, um exílio auto-imposto a que me submetera para descansar a mente e relaxar o corpo, após tantas jornadas. As situações específicas que levaram a tal exílio não são matéria para esse texto, e portanto ficarão rigorosamente excluídas de seu entrecho.
Basta saber que vivia eu isolado da civilização e dos homens quando, num dia ameno, em que a luz do sol aparece mais branda, tingindo de ouro os campos, e as nuvens se agrupam em largas ilhas de brancura nos ares, e os animais ficam em silêncio para ouvir a própria respiração, apareceu Tuma caminhando calmamente colina acima, acompanhado de um velho da aldeia, que indicou-lhe o caminho e o deixou galgá-lo sozinho.
Já o observava há muitos minutos da janela quando ele alcançou a porta de minha cabana e bateu, três vezes. Curioso, mas calmo, desci vagarosamente as escadas e abri a porta, deixando a luz invadir minha sala e a silhueta de Tuma acertar em cheio meus olhos.
Nos conhecíamos de uma outra visita que ele me fizera, quando eu estava em Veneza, trabalhando no último volume de Crítica e Comentários à Produção Literária Humana e aproveitando o ar do Adriático. Queria autorização para utilizar alguns trechos de minhas obras, a qual dei de bom grado.
Depois, não havíamos nos falado novamente por um bom tempo, até que, no começo desse ano, ele me procurou em minha cabana, no alto daquela colina velha donde se via todas as cercanias.
Apresentou logo o motivo de sua visita: queria que eu cedesse minha “ilustre presença transubstanciada em palavra” (termos dele) para seu recém-criado diário-de-rede, a cada quinze dias. Fui breve, também, em minha resposta: não estava interessado. O resultado das considerações citadas no início deste texto foram os seguintes: a chance de escrever em um diário-de-rede novo e mal visitado não compensava o fato de eu ter de abandonar meu pequeno paraíso.
Assim, Tuma agradeceu por eu haver lhe ouvido, e partiu. Tudo teria permanecido desse modo, e hoje eu não estaria aqui escrevendo este texto, se alguns eventos momentosos não houvessem retirado-me de meu idílio e obrigado-me a vir para o Brasil.
Uma vez com os pés e a alma devidamente postos em terras tupiniquins, logo pensei em entrar em contato com Tuma, mas não foi necessário: ele me procurou no hotel onde estava momentaneamente hospedado e fez, mais uma vez, a mesma proposta.
Neste tempo, porém, não pude recusar: fazendo uma mudança inesperada para um país a respeito do qual só conheço a língua e a cultura? Por que não, afinal, escrever e, assim, tornar-me mais conhecido entre os nativos?
Desse modo, pus-me logo a trabalhar, e Tuma só tem agradecido minha diligência. Eu, porém, é que aproveito o ensejo para agradecê-lo pela oportunidade de estar aqui, enquanto “presença transubstanciada em palavra”, e para avisar a todos de que o que está por vir não foi previsto, ou anunciado, mas será digno das profecias.
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