O mundo é muito mais complexo do que supõem os idealismos, e está regido por forças às vezes imperceptíveis que não conhecemos. Assim nos ensina Michael Mann em um de seus grandes filmes, O Informante. O épico de quase três horas sobre o cientista demitido que tem informações importantes sobre a indústria do cigarro e o jornalista que luta para veicular essas informações é soberbo, um fantástico filme com tudo que o tema pode oferecer.O Informante é, pois, ultradiversificado, no sentido em que não se detém em um determinado aspecto do enredo, mas expande suas aspirações e, mais importante, as preenche por completo. O longa é dividido em duas partes. A primeira é focada em Jeffrey Wigand (Russel Crowe), o cientista que trabalhava para uma empresa de tabaco, e seus conflitos sobre se deve ou não contar o que sabe, a despeito das conseqüências. A segunda é focada em Lowell Bergman (Al Pacino), respeitado produtor do programa 60 Minutes, e na sua luta para que a entrevista de Wigand, após ser gravada, vá ao ar.
O enredo é cheio de acontecimentos e detalhes, mas a mão de Mann impede que o filme se torne confuso ou chato. Ao imprimir a dramaticidade e o ritmo certos para cada cena, ele constrói um thriller, uma obra em que a tensão fica nas alturas a maior parte do tempo. No entanto, o talento do diretor e dos roteiristas (Eric Roth, de Forrest Gump, e o próprio Mann) impede que O Informante se resuma a isso, a um thriller. Sem perder o elemento da tensão, temos várias passagens em que o psicológico dos personagens é aprofundado, e acompanhamos de perto os conflitos, medos e erros tanto de Wigand quanto de Bergman. O cientista, por exemplo, só resolve contar tudo após ser demitido. O jornalista, por sua vez, embora crie a ilusão de que a decisão de tudo está nas mãos de Wigand, manipula as emoções e valores do cientista para que ele fale. Desse modo, mesmo os “heróis” da vez são vistos não como santos, mas como pessoas reais, que nem sempre fazem a coisa certa pelo motivo mais louvável, ou da maneira mais correta.
Além disso, há a velha história das verdadeiras forças que movem o mundo. Ou da verdadeira força que o faz, desde sempre, e que todos nós com certeza conhecemos muito bem. Sem recair nas armadilhas do vilanismo ou do preto-e-branco, O Informante expõe os mecanismos, cuja matéria prima é o dinheiro, que impedem as informações de vir à público, que tolhem a justiça, que fazem mesmo os mais valorosos e audaciosos jornalistas pensar duas vezes antes de embarcar em um desafio a uma grande corporação. Não se trata de suborno e corrupção, e sim das armas que alguém abastado possui para se proteger e atacar os menos providos que o desafiarem.
Denso e eletrizante, O Informante é uma obra moderna, e essencial para compreender o “mundo em que vivemos”.
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Um comentário:
Adorei este filme!!!
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