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Vencemos! Por todo o planeta, ouviram-se essas palavras, durante os 16 dias (18, na verdade) em que os Jogos Olímpicos de Verão deste ano, sediados em Pequim, tiveram seu curso. Cada país, de modo geral, vibrou, comemorou e torceu junto a seus atletas, lamentando as derrotas e comemorando as vitórias. Contudo, é cabível perguntar: qual o sentido do nacionalismo nos esportes? O que faz um país inteiro se identificar com algumas pessoas que buscam, tão somente, a realização pessoal?
Não pretendo, fique claro, entrar no tema da propaganda, do peso que ser uma potência olímpica tem para os governantes, ou do dinheiro investido para levar alguns atletas a ganhar uma medalha que, apesar de ser de ouro, não vai pagar a viagem. Quero, antes de tudo, pensar se é justificável que uma nação tome para si as conquistas de um de seus cidadãos, ainda que não tenha contribuído em nada para que ele chegasse lá.
Falemos, mais especificamente, do Brasil. É notório que nosso país tem muitas deficiências, e a principal delas, para o propósito desse texto, é a falta de incentivo ao esporte. Uma recomendação da Organização Mundial da Saúde diz que, para cada um dólar investido no incentivo aos esportes, três são economizados no setor da saúde. Ora, por que isso não é uma realidade? Talvez as forças políticas prefiram apostar em investimentos mais seguros, que dão um retorno político mais garantido, a investir aleatoriamente em esportes e torcer para que, da massa de praticantes, surjam medalhistas olímpicos dispostos a serem exibidos como um troféu ufanista.
Porém, se o Ministério dos Esportes e o Estado não fazem investimentos desse tipo, nem tampouco dão apoio a atletas brasileiros com grande capacidade, que direito têm eles de comemorar as vitórias de atletas, como César Cielo, que treinam fora do Brasil, com dinheiro de fora daqui? Nenhum direito, evidentemente. Só o que eles deveriam fazer é ir atrás de atletas para dar apoio financeiro e logístico a eles, e, assim, ter o direito de comemorar suas vitórias como se fossem “do Brasil”.
Mas, voltando ao ponto principal: ainda que o Estado investisse e apoiasse o atleta, o que leva as pessoas a comemorar uma vitória desses atletas tão intensamente? Claro, manchetes como as que apareceram por aí, dizendo que a chegada de Cielo ao Brasil “parou São Paulo” ou coisas do tipo são exageradas, mas é claro que muita gente torceu por ele, e vibrou ou até se emocionou com sua vitória.
No meu caso, o que me deixou emocionado, e me levou a escrever esse texto, foi a vitória de Maurren Maggi. No momento em que assistia, eu praticamente desconhecia todos os problemas pelos quais ela havia passado, mas a alegria dela com a vitória foi algo contagiante. E, depois, quando ela pegou as bandeiras de Brasil e China e começou a correr pelo Estádio Olímpico, fiquei verdadeiramente emocionado, por um motivo que é difícil explicar.
Naquele momento, pensava na capacidade de superação do ser humano, e na força que nós, apesar de tudo, temos para enfrentar as adversidades. Não quero passar por um romântico simplório, mas acredito que, para cada situação, há uma verdade válida: não, de fato, o Brasil inteiro não estava representado em Maurren Maggi, nem na seleção feminina de vôlei, nem em César Cielo, nem nos atletas que conquistaram medalhas de ouro e prata. Contudo, ver a emoção daqueles seres humanos - sim, pois antes de atletas, cidadãos ou brasileiros, eles são seres humanos – no momento da vitória é algo que, imediatamente, desperta em nós algum sentido adormecido, alguma espécie de reconhecimento que nos deixa alegres, bobamente alegres, por estar presenciando aquele instante de vitória.
Precisamos, sim, valorizar também os vencidos, não só nos esportes, mas em qualquer situação. Entretanto, isso não impede a Vitória de ser algo extremamente edificante e encorajador. É algo inato ao ser humano. Músicas como os temas de Carruagens de Fogo e Rocky, por exemplo, são tão marcantes justamente porque, de forma abstrata, resgatam em nós aquele sentimento de superação, aquela força subjacente que, a despeito do que vier, estará sempre lá, pronta a ser acordada e, ainda que depois advenha a derrota, só o que deixará para trás será um sorriso.
Pois, quando Filípedes percorreu a Grécia durante as Guerras Médicas, não imaginava que sua lenda sobreviveria por milênios. Mas, após percorrer duzentos quiilômetros a pé para convocar Esparta, mais quarenta e dois de Maratona até Athenas e, ao adentrar a cidade, gritar “Nenikékamen! Vencemos!”, caiu morto, com certeza, com o rosto rasgado por um misterioso sorriso de satisfação, feliz, simplesmente, na última hora, com a missão cumprida.
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2 comentários:
Ver aqueles rostos vitoriosos é mesmo emocionante, a alegria boba(como vc msm disse),paira no ar. Acho que é por isso que nós assistimos as olímpiadas, muito mais do que disputas entre nações, é a superação do ser humano por trás de toda a propaganda.
bjooooooo
da sua amiga, que te admira e quer continuar lendo seus textos ^^!!
Acho que o mérito de Cesar Cielo é dele e da equipe dele, SÓ.[E da família, que bancou.]
Maurren Maggi, a mesma coisa.
mas já um país que incentiva, que dá um apoio, e tudo mais, daí acho que até seria válida uma comemoração em massa, sabe, difícil de explicar...
Comemoramos apenas pois quem está lá no pódio, EM TESE, é apenas mais um brasileiro como nós, e nos identificamos com ele.
A família do cesar cielo, por exemplo, é de Sousas, haha.
abraço.
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