terça-feira, 12 de agosto de 2008

Um Conto de Duas Pessoas (XV)

Ali, ali, ali ó.
O quê?
Deixa pra lá.
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A Anfitrião deixou-se afastar, então, e ficou parada, ereto, com um dos pés subindo e descendo e batucando levemente no solo. Um de seus braços cruzava a frente do peito, e neste se apoiava outro, em cuja mão subseqüente o Anfitriã deixava o rosto se afundar. Ele fitava Monami com um ar alegre, leve, e sua pele rosada parecia mais viva do que nunca. Logo, porém, uma sombra começou a descer lentamente sobre seu rosto.
Seu sorriso suave se desfez, e ele fez os lábios permanecerem unidos, firmes, e os olhos se desviaram de Mochara e se lançaram ao chão. Suas sobrancelhas se ergueram levemente, quase imperceptivelmente, e então de contraíram, acumulando-se junto a um tanto de pele e sebo sobre o nariz da Anfitrião. Súbito, porém, os olhos saíram do marasmo e adquiriram um novo brilho, que apeteceria mais ao espanto, e se ergueram novamente. Fitaram Meuamigo, por um momento indiferente, e então voltaram à leve expressão habitual.
O que havia se passado pela cabeça dele, e por seus olhos. E quais pensamentos teriam se digladiado, e qual teria vencido, e o que seria dele agora, não se soube nem se adivinhou. Só o que houve foi que o Anfitrião voltou à posição de marcha e ordenou que prosseguissem, pois ainda havia um longo caminho pela frente.
Miamiko teve o impulso de perguntar para onde iam, mas percebeu que, junto com sua forma, muitas outras coisas haviam mudado. A fala que queria se lançar para fora movimentava tão somente suas banhas líquidas interiores, e a vontade de caminhar só fazia sua pele de bolha esticar e doer. Um pouco desesperado, Monami tentou parecer simplesmente parado, e fechou o que chamava de olhos, e ficou alguns segundos meditando. Quando os abriu novamente, e viu que a coluna já ia bem à frente, simplesmente agiu como se continuasse com sua antiga aparência, e seu imenso corpo bolha começou a se mover.

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