domingo, 8 de março de 2009

Citação de Sexta: Sombras elétricas


“Quando a derradeira e trêmula imagem de uma sequência de cenas se desvanecia e se fazia luz na sala, exibindo à multidão o campo das visões em forma de uma tela vazia, faltava até uma oportunidade para bater palmas. Não estava presente ninguém que se pudesse aplaudir e admirar, graças à arte por ele demonstrada. Os artistas que se haviam reunido para dar o espetáculo que o público acabava de desfrutar, fazia muito que se tinham dispersado. O que se vira eram apenas as sombras das suas façanhas, milhões de imagens, brevíssimos instantâneos, em que se dissecara a sua atividade durante o processo fotográfico, para que fosse possível restituí-la ao elemento do tempo, cada vez que se quisesse, num curso tremeluzente de tanta rapidez. O silêncio da assistência após o fim da ilusão tinha qualquer coisa de inerte e repugnante. As mãos jaziam impotentes em face do nada. As pessoas esfregavam os olhos, miravam fixamente o ar, tinham vergonha da claridade e desejavam voltar à escuridão, para tornarem a contemplar, para novamente verem, como se desenrolavam, transplantadas para tempo fresco e arrebicadas pela música, aquelas cenas pertencentes a um outro tempo.”

- Thomas Mann, A Montanha Mágica

* O capítulo de hoje do Tratado Universalizante da Xurepa não será publicado por problemas técnicos. Mas semana que vem ele entra na sexta-feira, normalmente.
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