sexta-feira, 20 de março de 2009

A Roda #15 - Tratado Universalizante da Xurepa, Parte 1: O Significado da Xurepa - Concepções Xur-Épicas dos Poemas-Mundo


por Lobato Légio

No mundo que nos rodeia, aquele que vemos, que ouvimos, que apreendemos com nossos sentidos; nesse mundo está a Xurepa. Se no capítulo anterior entendemos a manifestação da Xurepa mais próxima a nós, a partir destas letras que se inscrevem diante de vossos olhos passaremos a compreender que nossa percepção das relações xurépicas estão divididas em duas categorias. Para que esse conceito se torne mais claro, no entanto, é necessário um pequeno artifício. Imaginemos que a Xurepa, o relacionamento entre as coisas, seja representado por uma linha ligando essas coisas. Assim, todas as coisas estão ligadas umas às outras por linhas imaginárias (ou invisíveis) que são a manifestação alegórica da Xurepa. Ora, um ser consciente – no nosso caso, humano – que se coloque diante do Mundo e O veja “enxerga”, de maneira indireta, essas linhas. Mas, como já mencionado, existem dois tipos de linha, do ponto de vista do ser consciente: as que saem de si próprio e alcançam os outros entes, e as que não o tocam, mas envolvem as coisas do Mundo que o rodeia. A percepção das linhas do primeiro tipo é chamada pelos estudiosos de Xur-Lírica, enquanto a das linhas do segundo tipo é conhecida por Xur-Épica. Neste capítulo, trataremos de analisar esta última.

Em última análise, todo ser consciente tem, ainda que subconscientemente, uma concepção paranóica da realidade, ou seja: vê relações entre todas as coisas. No entanto, como já sabe quem conhece a Xurepa, todas as coisas estão de fato ligadas umas às outras, e portanto a realidade é, de certa maneira, “paranóica” em si própria. Para o ser consciente comum, não inquisitivo, amortecido talvez pelos anos que o separam do assombramento permanente da infância, somente algumas das relações Xur-Épicas interessam. Há aqueles, porém, que questionam a realidade, desejam conhecer as relações entre cada coisa. São, enfim, seres conscientes ávidos de entendimento Xur-Épico, usualmente conhecidos como cientistas, filósofos, ou simplesmente curiosos. A esses seres, as linhas que ligam as coisas são de suma importância, o conhecimento do que elas representam é essencial, e faz parte da vida entender essas relações.

Como veremos mais detalhadamente adiante, uma das primeiras manifestações da Xurepa, e, mais especificamente, da Xur-Épica, foram os chamados Poemas-Mundo. Nestas obras, desenvolvidas por seitas xurépicas primordiais, buscava-se descrever, pormenorizadamente, as relações das coisas do mundo. Com os olhos livres, os asseclas xurépicos olhavam para o mundo e viam, com clareza e discernimento únicos, as linhas que ligavam as coisas umas às outras, para então, usando da conjunção entre a mente, os sentidos e o espírito, transformar aquele entendimento em linguagem, e imprimir essa linguagem em documentos e obras das quais hoje conhecemos somente alguns exemplares.

Esses asseclas foram os ancestrais do que hoje conhecemos como cientistas ou filósofos, seres conscientes que religiosamente buscavam nas relações entre as coisas respostas para as perguntas que espontaneamente surgiam ao darem-se conta de sua própria existência e da existência das coisas ao seu redor.
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