quarta-feira, 25 de março de 2009

A Roda #16 - O Círculo, a Roda e o Giro


por Lobato Légio

O giro é um movimento fundamental do Universo. Dele todas as coisas se aproveitam, e mesmo nós, mortais conscientes, a ele nos curvamos. Qual não deve ter sido o assombro do primeiro homem que, após vagar maltrapilho por anos observando as formas do mundo e perceber como o arredondado, o círculo, era presente e significativo, pôde se valer de uma roda como instrumento. Nosso ancestral, pela primeira vez capaz de entender o mistério do giro, deve ter sido tomado por um Êxtase sagrado, o espanto fundamental da descoberta, o sentimento de intimidade com os segredos do Universo. Contemplou a obra de suas mãos, e sentiu que ali residia a Verdade do mundo. Baseado no círculo, forma das coisas, fora capaz de construir a roda, um instrumento, e agora poderia se utilizar dela para a prática do movimento que é o único movimento, o espiral, o helicoidal, o elipsoidal, o circular: o giro.

O Círculo. A origem de todas as coisas, a forma do Deus pitagórico, forma perfeita e representação da unidade absoluta, primordial. A forma impossível, oposta em todos os sentidos à limitação da reta, ao único e linear caminho que a reta traça no infinito. A reta se curvou, e Tudo se fez. Do círculo nasceu o Universo, e o Círculo nasceu no Universo. Não por acaso, o útero é antes arredondado que reto, as estrelas são esferas – círculos expandidos – e nossos olhos se constituem dessa mesma forma. O Círculo estava no mundo, e um círculo era o Mundo, e o Homem, tomado pela consciência, percebeu sua maravilha e seu mistério.

A Roda. A primeira ferramenta e o primeiro símbolo. Manifestação, através de mãos humanas, da forma primeva, a forma mãe. O Ancestral tomou a forma em sua mão, tomou a forma em sua mente, tomou a forma em seu espírito e, alinhando-os, reproduziu-a, por seu próprio esforço, a curva que escapa aos olhos e oferece perguntas mais do que respostas. Desde aquele instante de revelação, a eureka inicial, a Roda tem continuado seu translado, levando sobre si, impassível, toda a civilização.

O Giro. O movimento essencial do Universo. O único movimento. É nas revoluções, translações e rodopiar dos átomos que tudo se move, no giro inescapável do tempo e espaço, o movimento que não se esgota. As coisas são porque as coisas giram, e elas giram porque giro é movimento. A estagnação é atribuição do Vazio, e o movimento prerrogativa da existência. É próprio do haver esvair-se, movimentar-se lentamente em direção à anulação, vertiginosamente em direção ao fim. E o movimento utilizado para trilhar esse caminho é o Giro, o rodopiar das coisas, a valsa cósmica ao som da sinfonia silenciosa produzida pelo movimento imperceptível e constante dos elétrons e dos quarks que só pode ter por destino acabar quando os instrumentos pararem de tocar e as luzes se apagarem.

Eis a epítome do Universo: Nascido de Círculo, sendo Círculo, preenchido de Círculo, presencia a sapiência de seres conscientes a ponto de tomar emprestado do que já existia uma forma capaz de servir-lhes e criar uma ferramenta e um símbolo tornado então ubíquo por sua polivalência, a Roda, e sobre essa Roda e esses círculos movimenta-se, girando, na velocidade que lhe cabe, até que os círculos se sobreponham e se aproximem cada vez mais e por fim coincidam, o círculo final, o círculo que não é círculo, o ponto final onde todos os círculos se concentram e giram e rodam para, no instante posterior, após o fim do universo, serem capaz de expandir-se e darem novamente, BANG!, vazão à existência.
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Um comentário:

Anônimo disse...

faça textos falando sobre a diferença da roda para o circulo. tudo segundo a GEOMETRIA.