terça-feira, 30 de setembro de 2008

Music seems to help the Pain #2 - O dia em que o rock morreu






por Rodrigo Ciampi

Travis Baker, ex-baterista do mundialmente conhecido Blink 182, e atual Plus 44++, partiu por volta das 18h40 de um aeroporto na Carolina do Sul, Califórnia, na noite de sexta-feira. Com ele, viajavam DJ AM, Chris Baker, assistente de Travis, seu segurança, Charles Still, a piloto e o co-piloto do vôo, Sarah Lemmon e James Bland. Com exceção de Baker e AM, todos morreram na hora. O estado de saúde dos dois é gravíssimo, todavia, a assessoria de imprensa informou com a junta médica nesta tarde que os dois sobreviveram, porém não informou o local onde sofreram queimaduras, e qual será o tratamento para a recuperação dos dois amigos. DJ AM pediu que sua equipe viajasse na sexta-feira, pois sua mulher entraria em trabalho de parto no dia seguinte. E, de fato, no sábado, a mulher de DJ deu à luz.

Após a noticia, cá estou, a fim de iniciar mais uma de minhas tentativas de iniciar mais uma de minhas colunas semanais. As dúvidas sobre o tema do meu post surgiram logo na quarta feira que seguiu-se ao primeiro post. Entretanto, um caso incomum como este de Travis não pode ser simplesmente ignorado, apenas por não agradar-me musicalmente. Nesse caso, decidi contar-lhes o pouco que conheço sobre acidentes aéreos que culminaram com o trágico fim de astros do rock .

Muitos foram os acidentes que marcaram com pesar a música internacional, especialmente o Rock’n’Roll. Tentarei traçar um parâmetro histórico dos maiores e mais chamativos acidentes aéreos que modificaram a história de algum modo.

Buddy Holly, dito por muitos como um dos precursores da música agitada, o rock, após um histórico show de sua turnê, partiu em viagem no dia 2 de fevereiro de 1959. Seria a última vez que pisaria em solo americano com vida. Seu avião sofreu uma queda, e foi destroçado, levando, muito cedo, um gênio da música. Com ele, Ritchie Vallens, o legítimo compositor do hino clássico “La Bamba” (o mesmo que depois foi regravado na década de 80, pelo grupo americano Los Lobos). Este fato inspirou Don McLean, expoente cantor da música folk, a criar a obra “American Pie”, em 1971, uma póstuma homenagem a Buddy Holly, que concretizou o dia 3 de Fevereiro como “O dia que o rock morreu”.

Prosseguindo na funesta linha do tempo deste post, chegamos à catástrofe com os membros do Lynyrd Skynyrd. Em 20 de Outubro de 1977, após um intervalo da turnê de shows junto ao Nazareth, 26 pessoa, dentre elas os músicos, voaram com destino à Louisiana, para um descanso após tantos shows. Falhas mecânicas causaram a queda do avião em uma floresta no Mississipi. Ronnie Van Zant e Stevie Gaines, fundadores da banda, morreram na hora. Cassie Gaines, uma das back vocals da banda, e irmã de Stevie, sofreu um pouco mais. Agonizou por horas com a garganta perfurada, deitada sobre o colo dos dois amigos, apenas esperando seu fim. Manny Charlton, ex-guitarrista do Nazareth, banda que na época fazia turnê junto ao Lynyrd Skynyrd, declarou: "Por pouco não fizemos parte dos passageiros daquele avião que caiu. 'Venham conosco, vamos fazer uma festa, um churrasco etc', e nós respondemos 'não, não podemos ir, temos compromissos a cumprir', pois havíamos agendado um show durante aquele intervalo, daí dissemos que teríamos que deixar para uma próxima oportunidade. Por Deus, poderíamos estar nele, saca? Estivemos bem próximo disto. Se tivéssemos tirado um dia de folga estaríamos lá. Muito assustador pensar nisto !"

Menos de 10 anos depois, precisamente em 31 de dezembro de 1985, Rick Nelson, compositor e cantor com influências da folk music e rockbabilly, junto com sua mulher, Helen, e seu amigo, Andrew Chapin (que tinha realizado trabalhos há pouco tempo com Steppenwolf), morreram em um acidente de avião no Texas. O motivo do acidente supostamente teria sido a tentativa falha de Rick de acender um cigarro de maconha com cocaína (“freebase”) enquanto pilotava o avião. Assim morreu mais um ídolo, aos 45 anos de idade.

É no mesmo Texas que, 5 anos depois, nasce o nosso próximo finado astro. O virtuoso, imortal gênio das guitarras, Stevie Ray Vaughan, faleceu, não de avião, mas em um helicóptero, a 27 de Agosto de 1990, com 37 anos de idade. SRV estava a caminho de mais uma de suas fantásticas apresentações, com Robert Cray, Buddy Guy, seu irmão, Jimmie, e nada mais nada menos que Eric Clapton, amicíssimo de Stevie. Clapton também estaria no vôo, porém o destino levou apenas Stevie, e a equipe de Clapton. O céu estava nublado, e havia uma forte névoa, que já chorava pelo que estava por vir. Não houve sobreviventes no vôo.

Uma das mais tristes perdas para o nosso país, hei de afirmar sem dúvidas, foi a morte dos Mamonas Assasinas, a banda dos meninos de Guarulhos, que estavam no auge máximo de sua carreira, com as divertidas letras, que agradavam o país inteiro. Não havia ninguém que não soubesse cantar a empolgante “Pelados em Santos”, ou ainda a clássica "Sabão Crá-Crá" . E foi na serra da Cantareira que os garotos com um futuro promissor morreram. Não houve nenhum sobrevivente. O Brasil chorou na época, instituiu-se luto nacional, 1 minuto de silêncio nos jogos de futebol, e todas as dignas homenagens que poderiam ser dadas aos músicos.

Enfim, como sói no curso da história, os bons vão sendo derrubados pelo caminho, e sobram outros. Talvez Travis não seja o maior músico que sofreu um acidente de avião, mas ele sobreviveu, o que já é muito. Lamentemos, então, pelos que caíram, neste último acidente e em todos os outros, e relembremos a música desses gênios vitimados que, após explodirem no ar, viram sua arte ecoar pelo espaço, infinitamente presente.
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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Leituras: Setembro de 2008

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Excepcionalmente, estou publicando as Leituras do Mês não na primeira quarta-feira, mas na última segunda, devido a um conflito de programação com a coluna quinzenal A Roda, de Lobato Légio. Nos próximos vezes, porém, as Leituras continuarão aparecendo de quarta-feira. Nesse mês, li muito menos do que eu queria, mas também, não era pra menos: viajei, tive um monte de compromissos e, como se não bastasse, isso ainda coincidiu com uma não-fase de leitura para mim. Enfim: acabei lendo pouco, mas, pelo menos, lendo bem: meus minutos passados em frente aos livros foram para apreciar a poesia de um dos maiores gênios da língua portuguesa, Fernando Pessoa. O poeta que era uma peça de teatro, o poeta que, como um Dom Sebastião surgido em meio à névoa formada pelo vapor das máquinas e pela fumaça das bombas do início do século XX buscou resgatar a soberania do povo português, não sobre o mar, sobre a terra ou sobre os homens, mas uma soberania espiritual, uma glória da alma. Talvez sua maior obra, a única publicada em vida em português, e uma das que ele-mesmo, ortônimo, assinou, Mensagem trata exatamente disso: do passado glorioso de Portugal e de seu futuro luminoso. Já O Guardador de Rebanhos, a outra obra por mim lida, é totalmente diferente: longe de falar sobre história, mitologia ou as glórias da alma, se agarra na satisfação dessa alma, na satisfação da matéria que existe, sabe que existe, e portanto é feliz.

Mensagem, por Fernando Pessoa: A epopéia Mensagem tem muitas fontes. Foi composta como uma epopéia nacionalista, e inscrita no Prêmio Antero de Quental. Não ganhou, mas por uma razão demasiado trivial, digna de qualquer premiação que busque quantificar valor literário: era pequena demais. Pequena, contudo, tão somente em tamanho, posto que o alcance de suas idéias e de sua forma eram (e ainda são) enormes, sem fim. O título deriva da frase latina (e verso de Virgílio) mens agitat molem, o espírito move a matéria, e se encaixa plenamente no conceito do poema. Logo de cara, somos confrontados com um texto antológico, que serve de introdução. Pessoa cita os navegadores antigos, "Navegar é preciso; viver não é preciso.", e toma para si o espírito dessa frase. Ele quer que sua vida seja grande, luminosa, nem que seu corpo e sua alma tenham de ser a lenha desse fogo. Ele quer tornar sua vida de toda a humanidade, nem que tenha de perdê-la como dele. Depois, em outro texto, esse propriamente de Mensagem, ele analisa as qualidades necessárias para a interpretação dos símbolos, e então, sem perdão, começa a jogar símbolos na nossa cara, paulatinamente, de uma maneira que só um gênio da poesia poderia fazer. Difícil escolher as poesias mais marcantes, Padrão e Mar Portuguez com certeza possuem uma posição de destaque (ao menos para mim), mas outras, como O Monstrengo e Nevoeiro também me marcaram muito. Ao final, ficamos com a sensação de que aquilo é inesgotável. Ainda que sempre nos diga a mesma coisa (e não irá dizer), temos a certeza de que nunca nos cansaremos de ouvir as palavras de Fernando Pessoa.

O Guardador de Rebanhos, por Alberto Caeiro: Apenas mais uma das facetas da genialidade de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro foi o poeta pastor, o camponês ignorante das erudições humanas, mas extremamente consciente de sua condição enquanto ser vivo pertencente à natureza. Adepto da máxima simplicidade, escrevia sem firulas, sem rodeios: era direto, era simples, era claro, límpido como um riacho de águas diáfanas. Talvez aí residisse seu grande trunfo: seus versos transpiram uma sabedoria que parece estar além do nosso alcance. Como um buda que já toca com as pontas dos dedos o nirvana, Caeiro deixa-se estar, e conhece, sem se preocupar, a única verdade: a de que ele, e todas as coisas ao seu redor, existem, e isso lhe basta, e deveria, também, bastar aos outros.
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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Citação de Sexta:


"Toda palavra é uma mácula desnecessária no silêncio e no nada."

-Samuel Beckett
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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O Encouraçado Potemkin

Um filme é um filme é um filme. Mas o que um filme de fato é deve muito a um certo cara russo, que no pós-revolução-comunista da Rússia do início do século XX, fez e pensou o cinema de uma maneira que nunca fora vista. Pode-se dizer, de fato, que Sergei Eisenstein foi o primeiro grande pensador da Sétima Arte. Antes dele, os Irmãos Lumiére e George Meliés haviam criado e desenvolvido a técnica cinematográfica. Um pouco depois, D. W. Griffith provou que era possível contar uma longa história no celulóide. Mas foi Eisenstein quem primeiro refletiu sobre a prática cinematográfica, e quem introduziu uma variedade de métodos narrativos que são utilizados até hoje.

O Encouraçado Potemkin narra o acontecimento histórico da rebelião dos tripulantes do navio de guerra russo de mesmo nome, no fim da era czarista, considerado um dos acontecimentos que precederam a Revolução Russa em 1917. Obviamente, como era de praxe no governo comunista, alguns fatos foram alterados, mas, para além das panfletagens ideológicas, o filme constitui, de fato, um libelo contra a opressão, os maus tratos, o totalitarismo, e a violência. A arte de Eisenstein era grande o suficiente para ir além de alegorias políticas.

Tecnicamente, o filme é um êxtase para os cinéfilos. A montagem inovadora imprime ao filme um ritmo muito ágil (embora hoje ele possa até ser considerado muito parado), e apresenta novas maneiras de contar uma história: imagens sobrepostas, cortes rápidos, sombras, planos diferentes. A cena das Escadarias de Odessa, em especial, é tão antológica que é impossível falar de cinema sem falar dela. É de chorar. Mesmo. Vejam e comprovem o que eu estou dizendo...
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quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Radical, no sentido radical e contraditório do radicalismo

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Existe todo tipo de radical. Existem os radicais do ambientalismo e os da poluição, os radicais religiosos e os ateus – Richard Dawkins é tão ruim quanto um Aiatolá Khomeini -, os radicais da palavra e os do silêncio.

O radicalismo é ruim, porque ele nos leva a extremos. Extremos tão longínquos que não conseguimos sair de lá, não podemos, não queremos. Ele nos faz pensar as coisas unilateralmente, maniqueisticamente, quase inumanamente. As coisas têm de ser “assim” pra produzirem certos efeitos. O radicalismo é uma ideologia prática.

O radicalismo é bom, porque ele nos leva a extremos, e, assim, nos faz descobrir coisas novas sobre o mundo e sobre nós mesmos. Mas deve ser passageiro, transitório, como um ápice que se atinge e após o qual vai-se ladeira abaixo.

Não seja morno, que eu te vomito, são as palavras, mas não seja também radical, nem anti-radical tampouco. Encontre o equilíbrio. Tente um extremo, tente o outro, descubra o caminho do meio, a estrada, em linha reta, que está entre os dois, e que leva, de fato, ao destino.

Contradição, contradições, o homem é feito delas, o mundo é. Não pergunte.
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terça-feira, 23 de setembro de 2008

Desolation Row

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"Praise be to Nero's Neptune

The Titanic sails at dawn
And everybody's shouting
"Which Side Are You On?"
And Ezra Pound and T. S. Eliot
Fighting in the captain's tower
While calypso singers laugh at them
And fishermen hold flowers
Between the windows of the sea
Where lovely mermaids flow
And nobody has to think too much
About Desolation Row"
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segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Os 10 melhores discos de rock progressivo

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Quando faço as listas aqui no blog, obviamente não falo com autoridade de especialista. Até porque não sou um - nem em música, nem em literatura, nem em cinema, nem em nada, aliás, não sou especialista nem em mim mesmo, quanto mais nas coisas alheias -, mas principalmente porque faço as listas com um propósito lúdico. Então, se em alguma delas, alguém encontrar algo que não concorde, lembre-se que isso é tão somente minha opinião, e que o espaço dos comentários é livre para quem quiser discordar.

Dito isso, faço agora a minha lista de discos preferidos do rock progressivo, gênero esse que está entre os meus prediletos. Se houver algum lugar comum aqui, não temam: como eu já disse, é só minha opinião. Eu ouço o disco, e do que eu gostar muito, com certeza coloco aqui. Acho que eles não estão na ordem, vou enumerá-los só pra organizar mesmo. E uma última coisa: Pink Floyd fica de fora, porque merece um top só pra ele...

1. Thick as a Brick, Jethro Tull, (1972): Uma lenda do gênero, Thick as a Brick é frequentemente citado como o melhor álbum de rock progressivo de todos os tempos. Com apenas uma música, homônima ao álbum, de pouco mais de quarenta minutos, a banda construiu uma peça musical extraordinária, cheia de nuances e que, a bem da verdade, não cansa nunca.

2. Close to the Edge, Yes, (1972): Concebida em forma de sonata, a música que dá título ao álbum é a mais bem acabada de toda a carreira do Yes. Como o rock progressivo sinfônico de qualidade em geral, mas com o selo extra de obra-prima, Close to the Edge eleva a música pop a um patamar mais elevado, mais próximo das composições clássicas e eruditas.

3. In the Court of the Crimson King, King Crimson, (1969): Com esse disco, comecei a descobrir o terreno das bandas de progressivo um pouco menos conhecidas no mainstream, mas com qualidade equiparável a qualquer uma das mais famosas. King Crimson é uma das minhas bandas preferidas, e muito disso se deve ao assombro que esse primeiro álbum causou em mim.

4. Depois do Fim, Bacamarte, (1983): Primeiro álbum brasileiro da lista, Depois do Fim, da desconhecidíssima banda Bacamarte, é reconhecido fora do Brasil como uma das obras-primas do progressivo. Para aqueles que desconhecem o rico cenário progressivo brasileiro, é um disco surpreendente. Para os que conhecem, é extasiante.

5. O A e o Z, Os Mutantes, (1973/1992): Outro tupiniquim, desta vez de uma banda ilustre, O A e o Z é o primeiro dos álbuns integralmente progressivos dos Mutantes. Fiquei em dúvida entre esse e Tudo Foi Feito Pelo Sol, igualmente sensacional, mas escolhi este, pois aqui Arnaldo Bapstista ainda não saíra da banda.

6. Selling England by the Pound, Genesis, (1973): Outro álbum que me causou assombro, Selling England by the Pound é um choque para os ouvidos incautos: ele vai lentamente se infiltrando em nossa mente, sem percebermos, até que de repente só o que conseguimos fazer é escutá-lo. Algo sobrenatural.

7. Trilogy, Emerson, Lake & Palmer, (1972): Como já devem ter percebido, 1972 foi um ano muito prolífico para o rock progressivo. Quatro dos álbuns são daquele ano, e outros são ainda de 73 e 74, até 75. Foi a era de ouro do rock progressivo, muito bem representada, nesse caso, por uma das lendas do gênero, a banda Emerson, Lake & Palmer, naquele que talvez seja seu melhor disco.

8. Birds of Fire, Mahavishnu Orchestra, (1972): Exemplo perfeito do chamado jazz fusion, a Mahavishnu Orchestra, banda do lendário John McLaughlin, ou Mahavishnu, produziu em Birds of Fire outra dessas obras sobrenaturais que o progressivo vez ou outra gera. Ouvi-lo uma vez é querer ouvir de novo, e de novo, e de novo, até que o corpo canse e adormeça, deixando os ouvidos chateados por não poderem ouvir mais uma vez...

9. Crime of the Century, Supertramp, (1974): O Supertramp foi uma das grandes bandas de rock de todos os tempos, embora não tenham alcançado o mesmo prestígio de outras, como Beatles e Stones. O valor de sua música, porém, não muda devido a isso, e nesse disco somos apresentados ao talento de Roger Hodgson e Rick Davies em sua melhor forma.

10. Criaturas da Noite, O Terço, (1975): Pra terminar, mais um álbum brasileiro, desta vez dos mineiros de O Terço, que nos presenteiam nesse disco com aquele que é talvez o maior épico do progressivo brasileiro, a música 1974.
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sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Citação de Sexta: The Doors

"If the doors of perception were cleansed every thing would appear to man as it is, infinite. For man has closed himself up, till he sees all things through narrow chinks of his cavern."

-William Blake, The Marritage of Heaven and Hell
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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

M.A.S.H.

Maldito exército! Com a mesma alcunha que Asterix batizou os romanos, o diretor Robert Altman cognomina em M.A.S.H. os soldados e a instituição que transformaram os EUA na maior potência do planeta. E lança mão também de um artifício que René Goscinny já utilizava nos quadrinhos, para satirizar a potência dominante: transformando em pusilânimes os oficiais cheios de brio, e em patéticos seus soldados mais dedicados.

M.A.S.H. é um das obras-primas de Robert Altman, e provavelmente seu filme mais famoso. A comédia sobre a unidade médica do Exército Americano durante a Guerra da Coréia tem o tom exato dos anos 70 em plena Guerra do Vietnã (o filme é de 1970): humor ácido, um pouco de nonsense, e críticas a tudo e a todos. A metralhadora giratória de Altman dispara para literalmente todos os lados, não deixando nenhuma instituição dos EUA em pé.

O trabalho dos atores é primoroso, todos os personagens são sensacionais, e de quebra o filme apresenta algumas inovações, como o ostensivo uso de close-ups no lugar do corte. Como se não bastasse, ainda tem o mais importante: é absurdamente engraçado. Não perca M.A.S.H. por nada: delicie-se com seu politicamente incorreto, aprenda um pouco de história “freak” e ainda se esbalde de dar risada. Maldito exército!
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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A Roda #1 - Panorama do Vale de Legium, parte 1






por Lobato Légio

Eu não sou Lobato Légio. Nunca fui, nunca serei, não posso querer sê-lo. À parte isso, tenho em mim todos os Lobatos Légios do mundo.

O quanto de ser Lobato Légio me apetece é aquele tanto em cuja consciência mora a paz, a calmaria de um oceano equanimemente profundo do qual as ondas não encontram terra.

Mas, não sendo Lobato Légio, não encontro essa paz, em lugar algum, senão nas consciências alheias, múltiplas, que não me pertencem.

Só o que tenho é a angústia, o sentimento de necessidade e falta que me impede de ir longe do lugar onde meu coração habita, que limita meus horizontes e, portanto, me define.

Contudo quando, na noite silenciosa, ouço o bater de poderosas asas, acordo ofegante, e começo a correr pelos sonhos frágeis como quem foge da morte, e as cores dos mundos padecentes além das muralhas da minha terra espocam em círculos no ar, atraindo, irresistivelmente, o curso dos meus passos.

E então, desperto, arrasto meu coração, levando-o sobre os ombros a um lugar qualquer que o caminho alcance.

Nessa jornada, só o que anseio é descobrir, saber, ver, com os olhos bem abertos, as coisas intensamente. A curiosidade me move, a loucura me guia, e só o que permanece é o caos, a cacofonia de vozes, a confusão de imagens que escorrem, e vazam, e inundam todas as coisas.

Os sábios me dizem, os anciãos me ouvem, os calmos me abraçam e me levam pelos dedos. Todas essas paragens onde vive o conhecimento, por elas eu caminho, cajado nas mãos, conduzindo o rebanho meus pensamentos em cadenciada marcha, até encontrar um Sol que a Tudo ilumine.

No fim, torno à minha casa, ao meu refúgio no cimo da colina, e meu coração repousa. Deixo meu corpo descansar na cadeira, e recuperar na memória todas as sensações daquele lugar. Os cheiros, os frios e os calores, os duros e os macios.

E Aquele que vem morar na minha cabeça é o que tem a paz na consciência. E, cansado, deito para adormecer, mas não adormeço.

Os sussurros voltam, e um arrepio toca com as pontas frias dos dedos todo o meu corpo, as palavras que me entram pelos ouvidos vão se formando lentamente no salão de espelhos encobertos da minha mente, até que uma luz se acende e, mais uma vez, eu posso ver.

E sinto Lobato Légio correr em mim como um rio por seu leito, e lá fora um grande silêncio como um deus que grita.
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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Music seems to help the Pain #1 - Oi!






por Rodrigo Ciampi

Talvez seja esta a qüinquagésima nona oratória que inicio sem obter sucesso, ou ao menos um desfecho digno. E tenho motivos dignos para tal. Afinal, não redijo em lugar nenhum. Minha tarefa é para com os leitores de um blog que exige muito do escritor em questão, dedicação integral a retórica (ao menos se você for o Tuma). Além do mais, sou brasileiro e, agindo como um caridoso patriota, honro a tradição de fazer o que se pode fazer hoje sempre amanhã. E por esse motivo, não hesitei em deixar para o último dia, às 11h15 da manhã, em meio de uma importantíssima aula de Geopolítica, (de fato, não sei mentir) a feitura desse texto.

Enfim, cá estou. Conjeturei, refleti, arquitetei demasiadamente a forma de meu primeiro post; todavia, a única conclusão concreta que cheguei foi que, como de costume entre pessoas que não se conhecem, devo me apresentar. Estou registrado como Rodrigo Kenji Kuroki Ciampi, e contaram-me que este é meu nome; resolvi acreditar; e é de meus submissos e obscuros vocábulos que se beneficiarão as terças-feiras deste blog. Logo vos adianto: o mais simplório texto do Tuma ou da ( Sib) está muito além em horizontalidade do meu humilde léxico. Entretanto, o meu intuito é justamente este, aproximar-me do leitor com minha linguagem mais básica e trivial. Antes que me torne fastidioso,vamos realmente ao que interessa: A música. Quando solicitei este espaço semanal para o Tuma, não tinha em mente ainda nenhuma pretensão em qualquer assunto. Entretanto, chegamos à conclusão que o único tópico onde talvez hei de me destacar perante a tantos outros textos que serão postados por ele durante a semana, seria a música. Seria inviável argumentar, por exemplo, sobre outras artes, como cinema ou literatura. Finalmente, que os leitores, a MTV, e eu mesmo me perdoem por isto, mas “Então tá, vamos falar de musica”. No meu espaço semanal, irei falar sobre tudo o que abrange a música, e ceder o pouco que conheço sobre música, crítica de CDs novos, avisos de shows, histórias propriamente ditas, e “outras coisitas mais”.

Acredito piamente ser de suma importância no dia de minha apresentação narrar-lhes pelo menos um mínimo de forma sucinta minha trajetória perante a música. Tomei a liberdade de transformar a minha história em uma epopéia emocionante.

Primeira lembrança: Logo aos 10 anos, o franzino Rodrigo, pequerrucho do cabelo espetado, por um colapso do destino, caiu de pára-quedas, e acabou por contemplar o show de uma banda cover de escola que tocava Iron Maiden. Ninguém ali sabia, muito menos ele, que extasiado pelo poder de “Fear of the Dark”, sua vida transformaria-se naquele momento, para sempre. Dali pra frente, por si, ele busca informações sobre o que seria aquilo que tinha hipnotizado-o, e que há dias não saía de sua cabeça. Tudo aquilo que já tinha ouvido agora fazia sentido, crescer ouvindo o LP dos Beatles agora tomava o seu devido lugar na história, aquilo era bom, e ele sabia disso, aquilo era Rock’n’Roll. Os anos, por conseguinte, abririam o leque de tudo aquilo que se relacionava ao rock’n’roll, do estudo do violão e canto, a cada biografia dos gênios perpétuos da musica. Os dois anos que agora vêm são os anos decisivos, no estilo e comportamento do garoto. Era a fase do metal para ele: do black ao heavy, do power ao progressivo.

Maiden, Saxon, Sabath (ainda que não entendesse a banda de Ozzy como metal propriamente dito), Angra, Shaaman, Avantasia, Blind, Iced Earth, Vader, Marduk, Dream Theather, Tuatha de Dannan, e tantas outras marcaram esta fase, e agregaram à infinita gama da playlist de Rodrigo. Sem nenhuma data pré-definida ou algum acontecimento marcante, veio à tona o chamado rock clássico, e com ele, a música clássica (que vem a ser chamada de erudita por ele), e o J-Rock. Talvez resquícios da infância, onde havia o clássico do pai, e o oriental da mãe, acompanhada do clássico dos estudos de violão. Beatles, Stones, Led, Deep Purple, X Japan, Gackt, Miyavi, Asian Kung Fu, e ainda: Tchaikovsky, Vivaldi, Mozart, Carlos Gomes, Villa Lobos, Beethoven são nomes fortes dessa fase.

Os Estudos musicais intensificam-se ainda mais, porém, infelizmente, o violão, após 4 anos , é deixado de lado, por motivos de força maior. Shows de Angra, Shaaman, ensaios de banda, e muitos outros vieram, porém não foram páreos para um dos melhores dias de sua vida, o delírio de ir ao G3, um evento onde a guitarra é cultuada, onde três guitarristas virtuosos se encontram, para tocar suas próprias músicas e, após isto, se reúunirem ao fim do show para o ápice da beleza, onde o deus Jimi Hendrix é homenageado. Acompanhar três monstros das cordas vangloriando aquele que se não foi um dos maiores gênios da guitarra, foi um grande concorrente, não é para qualquer um. A imagem de Joe Satriani contorcendo-se como uma cobra, Petrucci, num show alucinante, e Eric Johnson, com seu jeitão particular, nunca sairá de sua mente. Foi ali que ele realmente descobriu, a música é a maior aproximação da perfeição que o ser humano pode chegar, é a arte divina do ser humano.

Estamos em 2006, e o indie rock é apresentado a quem para os olhos de muitos é só mais um adolescente rebelde. Os ainda desconhecidos no Brasil Arctic Monkeys, The Strokes, Franz Ferdinand e The Killers (mesmo com o estouro do “hit” Somebody Told Me) são os novos amigos da “eclética” pasta de arquivos musicais.

Foram esses amigos novos que proporcionaram ao garoto, nos dias 28 e 29 de outubro de 2007, o melhor dia de sua vida, o Tim Festival. Evento que contou com as presenças de Killers, Arctic Monkeys, Bjork, Hot Chip, Spank Rock, Juliette and the Licks, além de todas as aventuras. Todavia, esta é uma história pra outro capitulo.

Muitas foram as bandas que se agregaram até o presente momento à vida de Rodrigo, que não pára de estudar, e que toda semana conhece mais e mais, e sabe que tem muito mais a conhecer. Mas uma coisa ele já tem certeza: ele é um apaixonado por música, um fissurado por rock’n’roll.

Nota: Presto minha sincera condolência a toda a nação admiradora de Pink Floyd, pela perda de Rick Wright, que com seus teclados levou o Pink Floyd aos ares. Para os leigos, nesta segunda-feira, vitima de câncer, aos 65 anos, Richard Wright faleceu, após uma curta batalha contra o câncer. Rick sempre foi citado como coadjuvante da banda, mas a presença de seus teclados no som do Pink Floyd é sem duvida importantíssima. Wish You Were Here, por exemplo, teve seus toques se sutileza, e sem eles a música não teria sido tão bem sucedida. Segundo David Gilmour, o guitarrista do Pink Floyd, em seu site oficial: "Ninguém pode substituir Richard Wright. Ele era meu amigo e parceiro musical. A gigantesca contribuição do Rick foi constantemente esquecida.
Ele era amável, modesto e reservado, mas sua voz e modo de tocar comoventes eram essenciais, componentes mágicos do som mais identificável do Pink Floyd.”

Fica então o luto no fim do post, até semana que vem!
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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

As 10 melhores músicas de Bob Dylan


Robert Zimmerman, vulgo Bob Dylan (em homenagem ao poeta inglês Dylan Thomas), foi o bardo do século XX. O cantor, instrumentista e compositor criou coisas que são referência até hoje, e influenciou inúmeras bandas e artistas, de modos muito diferentes. Isso porque ele tinha a certamente rara característica de se reinventar, mas se reinventar profundamente, sem medo de perder completamente os seus fãs antigos por aderir a um tipo de música diferente, oposto. Fez música folk de protesto, rock elétrico, blues, gospel, e até trilhas sonoras. Suas músicas receberam versões de bandas tão diferentes (meeesmo), quanto Rolling Stones, Guns'n'Roses, U2 e My Chemichal Romance, e de cantores também muito diferentes, como Jimi Hendrix e Avril Lavigne. Essa pluralidade, que torna difícil definir a personalidade de Dylan (para além do fato de ele ser indefinido) foi magnificamente retratada no filme Não Estou Lá, do qual já falei nesse blog. Por tudo isso, resolvi fazer hoje um ranking com minhas músicas preferidas do bardo moderno. Dentro dos parênteses, o álbum e o ano em que cada música apareceu.

1. All Along the Watchtower (John Wesley Harding, 1967)
2. Desolation Row (Highway 61 Revisited, 1965)
3. Mr. Tambourine Man (Bringing It All Back Home, 1965)
4. Jokerman (Infidels, 1983)
5. Hurricane (Desire, 1976)
6. Like a Rolling Stone (Highway 61 Revisited, 1961)
7. Blind Willie MacTell (The Bootleg Series Volumes 1-3 [Rare & Unreleased], 1983)
8. Tangled Up In Blue (Blood on the Tracks, 1975)
9. A Hard Rain's a-Gonna Fall (The Freewheelin' Bob Dylan, 1963)
10. Just Like a Woman (Blonde on Blonde, 1966)

Ouçam!
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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Citação de Sexta: The road goes on and on...


"Ele costumava sempre dizer que só havia uma Estrada, que se assemelhava a um grande rio: suas nascentes estavam em todas as portas, e todos os caminhos eram seus afluentes. 'É perigoso sair porta afora, Frodo', ele costumava dizer. 'Você pisa na Estrada, e, se não controlar seus pés, não há como saber até onde você pode ser levado.'"

-J.R.R. Tolkien, O Senhor dos Anéis
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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A Regra do Jogo

O tema da decadência da aristocracia é um dos preferidos dos cineastas europeus. Tanto que nas duas últimas semanas as críticas postadas aqui são de filmes famosíssimos que envolvem esses temas. Em cada um, porém, ele aparece de maneira diferente. Em O Leopardo, o que temos é uma narrativa lenta, silenciosa, melancólica, os últimos suspiros monótonos da classe nobre. Em A Doce Vida, a aristocracia é retratada sob uma ótica surreal, em que seus integrantes são sempre caricaturas de si mesmos, imagens distorcidas de seres humanos.

Já em A Regra do Jogo, obra-prima do francês Jean Renoir, a abordagem é, ao mesmo tempo, um pouco mais humana e um pouco mais alegre, embora não deixe de ser ácida e dramática. Pois o filme de Renoir é justamente isso: um drama alegre, em que os medos e o sofrimento dos personagens é mostrado de forma natural e divertida, embora não menos contundente.

Filmada poucos meses antes da Segunda Guerra, a obra faz referências veladas à violência que se instaurava na Europa, e acabaria de vez com a longa vida da classe aristocrática. A principal delas é a cena – um tanto perturbadora – em que os nobres, curtindo a vida na mansão de verão de um deles, caçam coelhos e faisões para o jantar. O guarda-caça e os funcionários da propriedade libertam os animais criados em cativeiro, e os direcionam para um terreno aberto, onde as carabinas dos nobres aguardam para começar a matança. Sem pudores, Renoir mostra os bichos sendo alvejados, e a total indiferença dos nobres para com o acontecido.

A figura principal do filme, porém, é outra, é a tal regra do jogo que o título menciona: a mentira, o jogo de aparências, a dissimulação. Christine, a personagem principal, é uma austríaca, mulher de um aristocrata francês. Ela é espontânea, sorridente, amável. Mas suas atitudes carinhosas despertam muitas paixões, que ela não retribui, em princípio, pois é casada.

Com seu marido, então, vai para a casa de campo, onde começa a conviver mais intensamente com outros aristocratas e a classe plebéia que trabalha na mansão. A partir desse momento, Renoir retrata também o conflito de classes da Europa do entre-guerras (tema que também deu as caras no recente Desejo e Reparação), mostrando plebeus e aristocratas como pessoas muito parecidas, que têm os mesmos desejos e medos.

Do choque entre o sentimento e as aparências, a aristocracia e a plebe, a riqueza aparente e a decadência, Renoir extrai um filme magnífico, frequentemente citado como um dos melhores de todos os tempos, e cujo enredo culmina em uma pequena tragédia, mas muito exemplar: um dos amados de Christine é morto por engano, e outra das jovens aristocratas presentes começa a chorar, desesperada, em frente aos outros. Christine, já experimentada, permanece fria, e conduz a jovem, dizendo ao pé do ouvido: "Controle-se, os outros estão olhando." Com isso, encerra-se o filme. Com isso, coloca-se a última pedra no túmulo da aristocracia, deixando para trás somente duas coisas: a sentença sobre o que a aristocracia significava, emitida por Christine na última fala do filme; e as sombras, que lentamente vão saindo de cena, para não mais voltar.
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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Post 100, ou Uma Visão do Futuro

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É isso. Com este, o blog Amortescimento chega ao seu centésimo post em quase noves meses de vida. Durante esse tempo, falei aqui, diretamente, de 16 livros e 41 filmes, além de ter postado 14 textos/contos diferentes, sendo que um deles, uma colaboração com minha amiga do Tudo e Nada, Le a.k.a. Sib, ainda está acontecendo, lentamente, mas está. Além disso, foram ao ar 6 citações e 6 listas. Além de outros textos, reflexões e coisas do gênero.

Aqueles que frequentam esse espaço devem ter percebido que, nas últimas semanas, tenho postado quase todo dia. Pois bem: a partir da semana que vem, todo "dia útil" (de segunda a sexta) terá coisa nova por aqui. Mas não qualquer coisa nova! Cada dia tem sua programação especial, que vou explicar rapidamente a seguir:

Segunda-Feira: A minha idéia é, toda segunda, publicar um lista sobre alguma coisa, relacionada a Cinema, Música ou Literatura. Infelizmente, é um pouco árduo criar listas novas e criativas toda semana. Por isso, é provável que, ocasionalmente, as listas sejam substituídas por algum outro tipo de texto.

Terça-Feira: Primeira grande novidade. Às terças, haverá por aqui a coluna de um cara que não sou eu, meu amigo, Rodrigo Ciampi. Ele vai escrever sobre música, música, e outras cositas más. Semana que vem, dia 16, ele começa. Não percam.

Quarta-Feira: As quartas estão reservadas para textos maiores, de temas mais genéricos, e até com outros colunistas. Em primeiro lugar, - o retorno da lenda - Lobato Légio, que há muito tempo não dá as caras, terá coluna própria, quinzenal, sobre o que lhe vier à telha. Nas outras quartas, entro eu, com textos de tipos bem variados: às vezes falando sobre livros, às vezes falando sobre temas variados, e às vezes com contos meus, entre outras coisas.

Quinta-Feira: Quinta é dia de cinema: pílulas e críticas espocarão por aqui semanalmente nesse dia, indicando os melhores filmes para você ver, ao menos na minha humilde opinião.

Sexta-Feira: Finalmente, no último dia da semana, continuarei colocando citações de grande (ou não) homens e mulheres, preferencialmente aquelas advindas da matéria literária, mas podendo passar por filmes, cultura geral, popular, etc. E é claro, sempre acompanhando da melhor imagem relacionada à frase que eu conseguir achar no Google.

Enfim, é isso. Espero conseguir levar toda essa carga tranquilamente, e espero que vocês continuem prestigiando, que comentem mais, para eu saber se estou no caminho certo, e também divulguem, de modo que este blog possa satisfazer plenamente o seu intento: o de ser lido.
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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Top 10 - Filmes vistos por esse blog

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Num certo clima de retrospectiva, faço aqui o ranking dos 10 filmes já analisados por mim no blog prediletos. As três primeiras posições são mesmos os filmes que eu mais adoro. Quanto aos outros, não sei dizer com certeza: a minha lista de filmes mais amados só é aumentada quando eu realmente tenho certeza do que estou fazendo. Não vou tecer comentários a respeito de cada filme: as críticas devem falar por si próprias. Dito isso, vamos a elas.

1. Apocalypse Now
2. Cinema Paradiso
3. 8 e 1/2
4. Asas do Desejo
5. O Sétimo Selo
6. Um Homem Com Uma Câmera
7. O Anjo Exterminador
8. Sangue Negro
9. Rocco e Seus Irmãos
10. WALL-E
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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Citação de Sexta: Pálido reflexo das profundezas...

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"Tão logo expressamos uma coisa com palavras, e estranhamente ela como que se desvaloriza. Pensamos ter mergulhado no mais fundo dos abismos, e, quando retornamos à superfície, a gota d'água que trazemos nas pálidas pontas de nossos dedos já não se parece com o mar de onde veio. Imaginamos haver descoberto uma mina de tesouros inestimáveis, e a luz do dia só nos mostra pedras falsas e cacos de vidro. Mas o tesouro continua a brilhar, inalterado, no fundo escuro."

-Maurice Maeterlinck
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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A Doce Vida

Que A Doce Vida é um filme de transição na carreira de Federico Fellini, onde ele sai do neo-realismo que seguira até então e abraça o simbolismo, já é notório. Menos notório, porém, é que essa transição, bem longe de ser simplesmente uma nota biográfica, um fato histórico, acontece diante de nossos olhos, à medida que o filme se desenrola. Quando se torna impossível mostrar a vida real de maneira nua e crua, Fellini se entrega à linguagem dos sonhos e começa sua jornada pelo caminho que o tornaria célebre.

A “Doce Vida” que dá título ao filme é, grosso modo, o lifestyle dos ricos e famosos italianos que freqüentam a Via Veneto para se divertirem, se embebedarem e depois, se possível for, terminar a noite em algum tipo de exaltação luxuriosa à vida. Acompanhando tudo isso, está Marcello Rubini (Marcello Mastroianni), jornalista da imprensa marrom e galã que passa os dias e as noites a bisbilhotar a vida da alta-sociedade para fazer a notícia do dia seguinte.

Uma das características mais marcantes do filme é o fato de ele ser episódico. De modo geral, os episódios são quatro, mas pode-se aprofundar a análise até alcançar o número mágico de sete episódios, mais um prólogo, um epílogo, e uma cena “enxerida” que, entretanto, tem imensa importância para o filme. A transição entre os episódios é súbita, porém. Sempre parece que algo foi deixado para trás, que a história que se desenrolava até então não foi completa, num fascinante reflexo estilístico da própria vida de Marcello: abrupta, circunstancial, incompleta.

O primeiro episódio nos apresenta o jornalista: um homem elegante, que está sempre rondando os bares e restaurantes chiques, subornando os funcionários para saber dos detalhes mais pueris da vida daqueles que freqüentam estes locais. Em um desses restaurantes, ele encontra Madalena, uma antiga conhecida com quem, percebe-se logo, tem uma espécie de caso. Os dois andam de carro pela cidade, e acabam encontrando uma prostituta, que sem motivo aparente é levada pelos dois até sua casa, onde têm (Marcello e Madalena, fique claro) uma noite de amor. Entranhado nesses acontecimentos, percebemos uma possível justificativa para o comportamento de Madalena (Marcello, é claro, só a estava acompanhando): seu pai é um homem severo, que a persegue, a oprime. Além disso, ela encara a vida com o famoso ar blasé daqueles que não tem nada a perder, mas já experimentaram de tudo. Fazer amor no apartamento inundado, sujo e vazio de uma prostituta no subúrbio, por que não?

Antes que comece o segundo episódio, Marcello chega em casa e encontra a namorada, Emma, caída no chão, apoiando-se débil contra a parede. Tomara muitos remédios, desconsolada com o abandono dele, passando a noite fora com outras mulheres. Ele a leva até o hospital, mas faz de tudo para manter a discrição, e evitar que a notícia de uma mulher quase envenenada saia da sala onde ela foi tratada.

Logo, porém, quase que por mágica, somos jogados no aeroporto, onde a estrela de cinema Sylvia acaba de chegar, e é recebida por uma multidão de fotógrafos, jornalistas, e até mesmo seus produtores, que levam até ela uma pizza, para dar-lhe boas vindas. A rotina de estrela segue: entrevista coletiva no quarto de hotel, visita a um ponto turístico do país visitado (no caso, o Vaticano)... enquanto isso, Marcello começa a aproximar-se dela, a fascinar-se por sua imagem. Essa fascinação irá culminar em uma pequena festa particular num bar em estilo romano, onde eles dançarão, e Marcello declarará seu amor por ela, mas em vão, visto que a pobre coitada não entende italiano. Uma briga com seu namorado, um outro ator célebre, fará Sylvia fugir dali, e Marcello logo irá em seu encalço. Juntos, rodarão a cidade durante a noite, mas as tentativas de aproximação de Marcello não surtirão nenhum efeito, até que, já com o dia a raiar, Sylvia entrará na Fontana di Trevi para se banhar, de roupa e tudo, na cena que se tornou a mais famosa do filme, e uma das mais lembradas em toda a história do cinema. Ali, finalmente Marcello conseguirá algo dela, um beijo, um abraço, o que seja. Mas, ao levá-la para casa, encontrará o namorado ator bêbado e furioso, e acabará levando um soco dele.

E então, num piscar de olhos, já estamos em outro episódio, o terceiro, e Sylvia sumiu da vida de Marcello, e das nossas. Momentos mais calmos nos esperam: Marcello encontra um conhecido, Steiner, que viu pouquíssimas vezes. Na conversa dos dois, descobrimos que o jornalista tem o intuito de escrever um livro, algo sério, e sair da vida de fofocas e escândalos da imprensa marrom. Steiner, simpaticíssimo, apóia Marcello com algumas idéias, e o convida para uma festa. Junto com Emma, ele chega na casa do amigo, onde encontra outras pessoas, também simpaticíssimas, e inteligentes, e viajadas, além dos lindinhos e fofinhos filhos de Steiner, crianças de não mais que cinco anos, um menino e uma menina. É um cenário de idílio. Steiner, porém, não se sente tão em paz. Ele comenta com Marcello sua angústia: “Não seja como eu. A salvação não está dentro de quatro paredes. Sou muito sério para ser um amador e muito amador para ser um profissional. Até a vida mais miserável é melhor que uma existência lacrada em uma sociedade organizada onde tudo é calculado e perfeito.” Marcello não entende totalmente as conseqüências disso naquele momento, mas o futuro revelará a tragédia escondida nessas palavras.

Surge então um episódio curto, um pouco misterioso, e talvez até deslocado. Duas crianças afirmam, num pequeno lugar fora de Roma, terem visto a Virgem Maria. Marcello, assim como toda a imprensa, corre para lá. E não estão sozinhos. Toda uma estrutura é montada no local onde supostamente ocorreu o avistamento, com luzes, andaimes e policiais. Uma multidão de pessoas quer ver as crianças, e pedir graças para a Virgem. Quando, no começo da noite, elas finalmente são liberadas (pelas autoridades), podemos, vendo de fora, perceber seu nervosismo, mas a falsidade da visão delas é somente sugerida. Começa a chover, as crianças vão embora, e a multidão se dispersa, não sem antes, porém, destroçarem a árvore onde a Virgem fora supostamente avistada, e levar cada um um pedaço para suas casas.

O quinto episódio traz um novo e interessante personagem: o pai de Marcello. Mais tarde, ficamos sabendo que Marcello quase não o conhece, pois ele fora caixeiro viajante quando o jornalista era criança. Logo de início, porém, podemos identificá-lo como alguém alegre, fanfarrão, que deseja aproveitar ao máximo sua última noite em Roma, antes de voltar para casa. Vão a um bar/cabaré, onde encontram uma dançarina, velha conhecida do jornalista, que logo cai de amores pelo pai. O velho, empolgado, pede para irem dar uma volta, e depois levar a mulher, e outras amigas, para casa (a delas). O pai vai em um carro com a dançarina, enquanto Marcello e um amigo fotógrafo, Paparazzo (sim, desse filme veio o termo usado para designar os fotógrafos xeretas), vão em outro. Quando chegam no prédio da primeira porém, a encontram na rua, dizendo que o pai de Marcello passara mal, e este logo sobe para encontrá-lo.

Neste momento, a câmera toma certa distância, enquanto acompanha Marcello se aproximando lentamente do pai, que está sentado, abatido, à janela. Marcello tenta descobrir o que o houve, mas o pai é monossilábico. Só o que fala é que quer ir embora logo, pegar o próximo trem e voltar para casa e para a mulher. Marcello tenta fazê-lo esperar, ir até um médico, mas o velho está irredutível: quer ir embora, e logo. Levanta-se, mas antes de sair, vai até a cama, ainda há pouco desarrumada, e ajeita os lençóis. Aí se revela uma pista para o que aconteceu: talvez o pai tenha querido ir além dos beijinhos com a dançarina, mas percebeu que já estava velho demais, fraco demais. Por isso, deseja ir embora, abandonar a cidade, deixar para trás esse lugar incômodo que o lembra a todo instante de que ele já não é mais jovem, que seu lugar na Terra já foi ocupado por outra pessoa...

Começa, então, o episódio que representa a virada total de Fellini para o simbolismo. Na Via Veneto, Marcello é abordado por Nico (sim, a modelo e atriz queridinha de Andy Warhol que cantou com o Velvet Underground), amiga sua que está indo para uma festa em um castelo nos arredores da cidade. Começa aí a viagem sensorial, surreal e silenciosa do jornalista pelo mundo pálido da aristocracia. Quando chega no castelo, pouco a pouco vai conhecendo seus moradores, pessoas bizarras, como o filho mais novo dos barões, a avó, a filha suicida, a amiga pintora, e até mesmo Madalena está por ali. Esta faz uma declaração de amor para Marcello, mas é na verdade uma espécie de confissão de sua própria libertinagem. Depois, o grupo todo vai até uma casa abandonada na propriedade, onde tentam invocar um espírito para responder perguntas. Após isso, as coisas se tornam desconexas, esfumaçadas, representadas pela fumaça das velas que o filho mais novo segura. Uma sucessão rápida de cenas e falas passadas na casa, mas não diretamente ligadas a nenhum acontecimento, até o ápice de uma misteriosa cena de sedução da amiga pintora e de Marcello, onde, por fim, desaparecem na escuridão. O dia surge então de repente, e os vê a todos voltando da construção abandonada e encontrando a matriarca da família se dirigindo à missa matinal, escrupulosamente impassível. Os filhos se apressam a unirem-se ao cortejo, e o episódio acaba.

Em toda a seqüência, está entranhada a simbologia da aristocracia decadente, tão cara aos cineastas europeus: festas com a presença de plebeus, propriedades abandonadas e falta de dinheiro, e uma entrega ao misticismo ao mesmo tempo em que se busca preservar o passado. Cada aristocrata é pusilânime à sua maneira: ou por ser subserviente, ou por ser arrogante, ou por ser anacrônico, ou por ser maluco. E as pessoas com que eles se associam não o são menos: soturnas, amalucadas, pomposas e, em última estância, patéticas.

Logo em seguida, vemos Marcello e Emma dentro de um carro, na estrada, onde começam a discutir. Emma reclama da infidelidade de Marcello, e Marcello esbraveja contra o amor doentio de Emma, que lhe tira toda a liberdade e espontaneidade. Por fim, ele acaba expulsando-a do carro, e deixando-a sozinha na estrada no meio da noite. Ela fica ali, solitária, até a aurora, quando vemos o carro do jornalista voltando e a acolhendo: fizeram as pazes, finalmente. Após serem levados até o extremo, conseguem equilibrar seus sentimentos e voltam a se amar. Um corte rápido mostra os dois abraçados, dormindo, na cama. Um toque de telefone, porém, interrompe o idílio dos dois, e de maneira irrevogável.

Sobrevêm então a segunda parte do episódio de Steiner. Marcello é chamado até o apartamento do amigo, onde descobre uma multidão de curiosos e policiais. Os acontecimentos são tão simples quanto estarrecedores: o bom Steiner, pai de uma família e esposo feliz, matou os dois filhos pequenos e depois se suicidou. Marcello fica horrorizado, não consegue entender o que houve. Na vitrola de Steiner, o policial roda uma gravação feita no dia da festa que Marcello fora. Uma das convidadas diz que Steiner é tão primitivo quanto uma agulha gótica, que ele está (ou se colocou) tão alto que sequer pode ouvir as vozes dos que estão aqui embaixo. Mas ele responde que seu tamanho real é sua altura, e assim fica, até a gravação de um trovão interromper o diálogo. Marcello e um policial vão, então, receber a mulher de Steiner, que estava viajando. Quando ela chega, tentam despistar os montes de fotógrafos que os rodeiam, a colocam num carro, e vão embora.

A cena acaba, mas suas conseqüências serão logo vistas. Desconsolado com o acontecimento, com seu modelo a ser seguido tendo cometido tal crime, Marcello entrega os ponto. No último episódio, ele e vários amigos que até então não eram conhecidos do espectador invadem a casa de um conhecido para promover uma espécie de orgia tímida, em comemoração ao divórcio de uma das mulheres do grupo. Apesar do clima sexual e libertino, porém, eles se mostram resistentes a realmente participar de algum tipo de orgia, e Marcello fica tentando animá-los a fazer algo de fato o tempo inteiro. O dono da casa, contudo, chega, e em pouco tempo os coloca para fora. O grupo de quase-libertinos vai então até a praia, conversando sussurrantes por entre as árvores.

Em algum momento durante esses episódios, Marcello estava em um bar na praia, tentando escrever algo para seu livro, e encontra uma adorável garota, que trabalha de atendente no estabelecimento. Eles conversam um pouco, ela fala de alguns de seus desejos e sonhos, e a cena logo acaba. Na cena final, todavia, ela irá reaparecer.

Os semi-libertinos chegaram à praia, onde encontram um bando de pescadores, que capturou um monstro marinho em suas redes, e o trouxeram para a praia. Os companheiros de Marcello observam admirados a criatura desconhecida e monstruosa, mas ao mesmo tempo se divertem fazendo comentários sobre comprar o bicho dos pescadores. A câmara segue lentamente Marcello, que talvez por estar bêbado ou talvez por sentir um certo nojo daquela situação, se afasta lentamente do grupo, e caminha até o córrego que vai dar no mar. Do outro lado, a garota do bar acena sorridente e tenta lhe dizer alguma coisa. Marcello responde dizendo que não entendeu, mas igualmente não é ouvido. Ficam assim os dois, separados pelo córrego e pelo fracasso em se comunicarem. Uma amiga de Marcello o puxa para irem embora, e ele volta o rosto, com olhar de lamento, para trás. A garota, por sua vez, sorri, um pouco desapontada. A tela escurece, e aparecem os créditos.

Frequentemente, descobrem-se temas muito parecidos na filmografia de diretores, ou mesmo em filmes específicos. Michelangelo Antonioni, um dos maiores diretores de todos os tempos, criou sua trilogia da incomunicabilidade. Com A Doce Vida, Fellini também fez seu filme sobre o tema, embora tenha ido além, no sentido em que tocou em praticamente todos os aspectos da vida social italiana. Duas cenas são as chaves para entender o filme. Na primeira, vemos ruínas de um aqueduto romano, e dois helicópteros se aproximam, trazendo uma estátua de Jesus Cristo. Logo, porém, os helicópteros entram na cidade, cheia de prédios modernos. Ao passar por um desses prédios, um dos helicópteros – aquele em que está Marcello – pára, pois algumas mulheres estão tomando sol no terraço. Marcello tenta falar com elas, pedir o telefone, mas é difícil, pois as hélices são muito barulhentas. Com muito custo, elas entendem o que ele diz, mas se recusam a dar o telefone. Na última, cena, por sua vez, Marcello e seus quase-libertinos encontram um monstro marinho na praia, mas aquilo não atrai realmente a atenção do jornalista. A garota angelical que encontrara algum tempo antes reaparece, mas dessa vez eles não conseguem conversar. O vento e a distância impedem que se entendam, e eles acabam se separando. Na primeira cena, o velho (as ruínas romanas) convive com o novo (os prédios), o religioso (a estátua de Jesus) convive com o mundano (as mulheres tomando banho de sol), e as pessoas não conseguem se comunicar. Na última, o banal (amigos andando na praia) convive com o surreal (um monstro marinho), o trabalho (os pescadores) convive com a doce-vida (os amigos de Marcello), e as pessoas não conseguem se comunicar.

As situações são diferentes, mas o resultado é o mesmo. Madalena não consegue dizer para seu pai que quer mais liberdade, nem consegue ser totalmente sincera com Marcello, pois só o que conhece é a entrega completa a qualquer homem. O pai do jornalista não consegue expressar seu fracasso no ato sexual, assim como não consegue pedir ajuda. Marcello declara sua veneração por Sylvia, mas ela não entende, pois fala outra língua, e Sylvia e seu namorado não se entendem, e brigam, pois um está bêbado e a outra, num estado amortecido da mente, em que tudo é completa felicidade. Steiner não pode expressar seu descontentamento em relação à sua vida, e acaba externando isso da pior maneira possível. Marcello tenta escrever seu livro, mas fracassa. Os quase-libertinos querem se abrir totalmente a um grupo de pessoas, mostrarem-se como de fato são, mas não conseguem nem isso, nem se despirem e participarem de uma orgia. Marcello e Emma não conversam sobre seus problemas realmente até a hora em que tudo explode e eles acabam brigando, quando finalmente se entendem. Mas, depois, advém a tragédia e tudo se torna inútil, nulo.

Nesse filme, Fellini não fala só sobre a doce-vida dos ricos e famosos, aliás, muito pelo contrário. Ele fala da Itália, e das pessoas que lá vivem, surdas, mudas e cegas. Por, quando são aristocratas, não enxergarem sua própria decadência, e isolarem-se totalmente dentro de si. Por, quando são religiosos, não ouvirem um chamado verdadeiro de fé, e não verem quando um suposto milagre simplesmente é uma invenção da cabeça de crianças. Por, quando são pessoas, simplesmente, não conseguirem dizer ao outro uma coisa que seja verdadeira, que não seja manipulada, redundante, óbvia.

A Doce Vida é o filme da incomunicabilidade, mas também é o filme do absurdo, dos seres humanos que se acabam no “grito horrível chamado silêncio” da vida contemporânea. Ainda que, com muito esforço, possa-se ver um sorriso sincero, de esperança, não se ouve o que ele diz.
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quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Leituras: Agosto de 2008

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Esse mês, eu pretendia ter lido mais, mas um monte de coisas acabou reduzindo meu tempo - entre elas, o próprio blog, que tem tido posts quase todos os dias e... bem, esperem que logo haverá novidades - e eu acabei lendo só dois livros. Um deles, ainda no finzinho das férias/começo das aulas, e o outro durante umas duas semanas depois. Além disso, fiquei só na quase-leitura. Mas enfim, sou assim mesmo: tem épocas em que leio freneticamente, e épocas em que mal consigo tocar num livro. De qualquer modo, os comentários sobre os dois livros que eu li no último mês precisam estar aqui. E aqui estão.
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O General do Exército Morto, de Ismail Kadaré
A Segunda Guerra é o tipo de tema que as pessoas vão explorar até o fim dos tempos. Se há uma “Lei” que diz que, quanto mais se prolonga uma discussão, maiores as chances de alguém citar o nazismo, deveria haver uma também que pregasse o fato de a curtos períodos sempre aparecer uma obra de arte, entretenimento ou informação que tem a Segunda Guerra como tema ou pano de fundo. Pois esta guerra é o grande cenário trágico de nossa era, de modo que, seja em filmes sobre os soldados negros (próximo filme de Spike Lee) ou criminosos (próximo filme de Tarantino) na Europa durante a guerra, seja sobre os “heróis” americanos de volta pra casa ou sobre os “mártires” japoneses resistindo e morrendo numa ilha de areias negras (A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood), ou em tantos, tantos outros, inumeráveis, filmes, haverá sempre espaço para uma outra abordagem, uma nova visão. Na literatura, também, o tema se multiplica. E, em pelo menos um caso especial, ela revela essa “chaga indelével”, que permanece em nossos corações e mentes, e ainda mais nos daqueles que sofreram de perto as agruras da guerra. É o caso de O General do Exército Morto, de Ismail Kadaré, ilustre autor albanês. No livro, um general italiano, acompanhado de um padre, retorna à Albânia, mais de 20 anos após o término da guerra, para recolher os restos mortais dos soldados italianos que ficaram enterrados no solo daquele país após o fim da guerra. Numa narrativa sombria e melancólica, Kadaré acompanha seus personagens, esmagados entre a súplica das mães e famílias na Itália, as dificuldades logísticas de levar o intento a um termo, e a opressão da presença de tantos mortos, de tantas histórias, de tantas lembranças. O padre e o general chegam recebidos pelo inverno e, dois anos depois, partem enxotados por ele, com muitas cinzas presentes mas muitas faltando, e a sensação de que o fracasso era inevitável, e sempre o será, na contagem dos corpos de uma guerra.

O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald
Pouco antes da Segunda Guerra, e logo após a Primeira, os Estados Unidos da América entravam em um período conhecido como Grande Depressão. Um pouco antes do crack da bolsa de Nova York em 1929, porém, os cidadãos americanos, ou, mais especificamente, aqueles pertencentes às classes mais altas, já viviam permanentemente na melancolia. E F. Scott Fitzgerald retratou como ninguém a solidão e a tristeza dessa geração perdida, que viveu na Era do Jazz em meio ao florescimento do sonho americano e às lembranças dos horrores da Grande Guerra. Em O Grande Gatsby, especificamente, Fitzgerald conta a história de Jay Gatsby, homem riquíssimo envolvido com o tráfico de bebidas, e de seu amor por Daisy, mulher rica casada com um homem ainda mais rico. E, no meio deles, o narrador, Nick, que acaba levado pelos humores e anseios de seus amigos. O final é, paradoxalmente, ao mesmo tempo trágico e indiferente, como se os próprios personagens sobre os quais a tragédia recai não se importassem muito com o que lhes acontecera. Com isso, Fitzgerald buscava mostrar o esvaziamento moral dessa classe rica e isolada, ao mesmo tempo em que retratava, com precisão literária milimétrica, a que vales escuros o sonho americano levara aquelas pessoas.
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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

5 blogs preferidos - Blog Day 2008


Ontem, dia 31 de Agosto, foi o Blog Day, comemorado todos os anos justamente nessa data porque, segundo o inventor da efeméride, 31/08 (isso é mais visível no logo) se parece com a palavra blog. Enfim, para comemorar, os blogueiros all over the world (ou não), resolveram postar nesse dia uma lista com seus cinco blogs prediletos. Eu, então, como bom blogueiro que sou (ou não), aproveito a oportunidade para contar a vocês (mesmo que vocês não queiram saber), quais são meus blogs preferidos.

O Jovem Nerd
: Simplesmente o blog com um dos conteúdos mais amplos da internet brasileira, e ainda tendo como tema o Universo Nerd, que nunca foi visitado por mim aqui, mas quem sabe um dia. Como se não fosse o bastante, ainda possui o ótimo agravante de ser a casa daquele que é o melhor podcast do mundo (mesmo, iBest e Best of Blogs confirmam), o Nerdcast!

Pensar Enlouquece: Escrito por um dos caras mais inteligentes da blogosfera, Alexandre Inagaki, o Pensar Enlouquece (pense nisso) trata dos mais variados temas, desde cinema (ocasionalmente) até as matérias mais vexaminosas do folclore nacional (freqüentemente). Infelizmente, está meio largado, mas torço para que o Inagaki volte a postar com freqüência.

Pulse: O melhor blog sobre quadrinhos que eu conheço. Esqueça o Blog dos Quadrinhos, que tem muita notícia e pouca análise, ou o Blog do Universo HQ, que é interessante mas tem muitos poucos posts, e muitas vezes minúsculos. Neste Pulse, mesmo que ele também não poste muito, há sempre análises contundentes sobre o momento geral dos quadrinhos ou sobre séries e edições específicas.

Filmes do Chico: Blog de cinema que eu aprendi a admirar, e tornou-se uma espécie de referência para mim nessa matéria. O Chico tem sempre coisas interessantes a dizer sobre os filmes que estão passando, e vez ou outra relembra de coisas do passado e indica algumas pérolas da Sétima Arte.

Ex-Vertebrum
: Arquitetura da informação? Usabilidade? É aqui mesmo, o Ex-Vertebrum é um prato cheio para quem se interessa por esses temas, e, além de tudo, ainda possui o expediente de publicar, vez ou outra, resenhas de livros dos mais diversos temas, desde aqueles relacionados ao site até aqueles diametralmente opostos.
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