quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O Sétimo Selo

“Quando, enfim, abriu o sétimo selo, fez-se silêncio no céu cerca de meia hora. Eu vi os sete Anjos que assistem diante de Deus. Foram-lhes dadas sete trombetas.” Pomposo não? É com essa narração, os dois primeiros versículos do capítulo oitavo do Apocalipse, que se inicia uma das maiores obras-primas do cinema, O Sétimo Selo. Dirigida pelo sueco recentemente falecido Ingmar Bergman, a história do filme se passa na idade média, século XIII, XIV, quando as Cruzadas acabavam, inócuas, e a peste assolava a Europa, entre outros detalhezinhos grotescos.

A partir do começo, com o hino Dies Irae e a narração bíblica, tudo – sons e imagens – é tétrico. Eis o tom do filme, eis a toada da Dança da Morte de Bergman, em um filme apocalíptico e existencialista. Existencialista tio? Sim, pobre criança, apesar de ser hoje um termo meio desgastado, seu sentido é muito simples: trata de coisas que questionam a própria Existência. E voilá! Aí estão os temas do filme sueco: os dois maiores questionamentos da humanidade, que no fundo estão interligados: Deus e a Morte. Sim, pois o protagonista é Antonius Block, cavaleiro que retorna das Cruzadas sem ter conseguido nada a não ser manter a própria vida, e está com a crença em Deus muito abalada. Logo no início, ele dorme na praia, e ao acordar, depara-se com a Morte. Travam um acordo: enquanto ele conseguir segurá-la(o) numa partida de Xadrez, ela(e) o deixará viver.

Feito, e assim se iniciam suas andanças, a dele e de seu escudeiro. No caminho, encontrarão um ferreiro e a esposa que o abandonou, uma pobre sobrevivente da peste e, finalmente, um casal de saltimbancos, artistas itinerantes, e seu bebê. Encontrarão também a Inquisição, bruxas queimadas na fogueira, e o horror da desolação bubônica, além da violência dos cidadãos, que assistem a todo tipo de sordidez alegres e comemorando. Pois é, a leitura do Apocalipse é realmente adequada aqui: não sou único que defende algo bem plausível, na verdade: o mundo já acabou, e foi na Idade Média. Difícil duvidar.

Bergman, contudo, como bom existencialista, não se põe a dar respostas. Quando a Morte termina seu jogo, temos entre os personagens aquele que ainda luta para se apegar a sua crença, o que não crê há muito tempo, o que se ajoelha humilde, etc.: a incerteza é nosso maior trunfo, devemos nos apegar a ela e apregoá-la pelos cantos. Felizmente, Bergman também cede espaço para um certo otimismo. Permeando o filme todo, o alegre casal e seu bebê (Mia, Jof e Mikael, não por acaso) representam nossos outros grandes temas: o Amor e a Arte. Ainda que aqui apareçam bem menos que os outros dois, já é suficiente: são a tal luzinha da esperança que ainda escapa pelas frestas da escuridão.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse filme é cheio de simbolos.
Como esse filme inspirou outros diretores! o__o
A cena do xadrez é clássica! \o/
Eu nunca consegui ver esse filme. Nunca achei!
Ótima crítica!
Continue com elas! xDD

Jeh/JK disse...

Mais um pra minha lista AHUHAuUHAUHUAhHA
gostei bastante da história/crítica desse...
adoro filmes existencialistas... x)
deve ser porque vivo pensando nas mesmas perguntas... xD

Onde eu acho esse filme? o.o

x**

Francisco disse...

sabia que a morte me era familiar.
http://www.rovang.org/wg/pics/zordon-mmpr.jpg