quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Todo Dia, VII - Divagações

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Não. O silêncio.

Meu corpo estendido na cama cheio de preguiça, o rosto contra o travesseiro, o braço esticado pelo prazer do movimento, o som alto que vem da TV, música e conversas e barulhos em vão. Está escuro no quarto mas ainda há som, o som da TV que entra pela porta aberta da sala iluminada, logo ali, onde ela se senta imóvel olhando para o brilho que brilha mais que a luz e vendo o som que aparece mais que o vento. Meu corpo, estendido na cama, sem nenhum corpo que o estenda de si.

Levanto, venho pelo corredor, aquele mesmo passo molenga, os ombros caídos, a corcunda ali mas sem mãe que diga “Olha a postura” ou qualquer um que comente “Erga os ombros!” Passo molenga e ombros caídos para através da porta de volta para o meu quarto, procurando afazeres para preencher o momento vazio. Amigos de sempre, os livros agora, nesse momento de desejo de movimento, não me agradam, palavras palavras palavras. Tento a poesia, mas também ela vai se arrastando pelos meus olhos até parar e uma canseira vir se abater sobre o coração.
As coisas que eu escrevo, dessas também já cansei, tantas vezes já lidas, raramente terminadas, deixe-as lá que é o lugar delas, paradas sem fim fracassadas por enquanto.

Penso nos meus fracassos, mas afasto esses pensamentos. Há sempre a incapacidade que nos ronda, ela ergue seu porrete e afasta qualquer um que deseje se aproximar. Estou aqui ainda, mas sozinho, não alcanço os que estão à distância de um braço porque... hein? Covardia fraqueza indecisão cansaço preguiça medo ou o quê?

Os dedos no teclado, as letras se escrevem. É noite. Estou aqui ainda, mas já-já vou embora. Passos de volta, passo molenga, a corcunda, ombros caídos. Ela ainda lá, parada, em frente ao brilho. Vou entrando pela porta aberta, no quarto escuro, mas sem silêncio. “Ei, criança, o que você tem?”

Não, nada.
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3 comentários:

João G. Viana/Pudim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Paula Brasil disse...

legal! :)

Unknown disse...

Há, eu amoooo..."Todo dia" foi um presente que seu subconsciente criou pra mim...rs

AmooooOO

Teresa Brasil

P.S. Ana Paula Brasil, vc é minha parente??