sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Todo Dia, V - Histórias

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Faz tempo existia esse condado no final da estrada, um rincão de terra rodeado por uma cerca viva onde bois pastavam o dia todo mugindo alegres para as nuvens brancas passeantes pelo céu azul anil destacado contra os morros do horizonte alargado. A estrada virava viela e a terra ia seguindo numa trilha que cortava a vida verde até uma casa meio escondida entre as árvores, de tijolo de barro, uma casa grande de janelas largas cheia de sombras com poucas luzes entrando pelos umbrais. Mês e outro reuniam-se ali ao lado para comemorar a vida e a luz que ainda vinha, montavam bandeirolas esticavam o fio entre o teto e uns postes, uns paus de madeira colocados longe e embaixo uma fogueira que ardia até as primeiras luzes do esvanecer da madrugada. Fim de festa e todos eles caminhando devagar, o pé se arrastando ao outro, casais e homens sozinhos e pequenas filas familiares caminhando não sei pra onde, um andar vago, somente para tomar distância da casa velha e vazia onde Ele morava. Ele dava a festa e organizava tudo e colocava os paus e os fios e as bandeirolas e a fogueira e mandava trazer comida e doces e violas e ficava olhando as moças dançar sem falar uma única palavra. Os olhos iam se cansando e ele tirava cochilos ali mesmo à janela, em pé, encostado, e as pessoas fingiam não reparar, e continuavam dançando até o quase-amanhecer. Iam embora e fim de festa e ficavam as cinzas e a bruma e aquele cheiro de manhã cansada, e Ele meio acordado meio dormindo voltava pras sombras pra deitar no chão pra fechar os olhos mais uma vez pra ficar ali pra ficar sozinho pra ficar dormindo sozinho deitado nas sombras num depois de fim de festa.
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2 comentários:

João G. Viana/Pudim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sib disse...

leitura muito cansativa, os períodos estão longos demais :/