quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Pílulas Cinematográficas, Edição 11: Especial Steven Spielberg

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De todos os cineastas de sua geração, Steven Spielberg é com certeza o mais popular e eclético. Falando somente de seus pares mais próximos, George Lucas ganhou e continua ganhando bilhões com Star Wars, mas seus outros filmes são bem mais anônimos, e Martin Scorsese e Francis Ford Coppola fazem um cinema mais adulto, com menos apelo junto às massas. Já Spielberg fez filmes de todos os tipos, para todas as idades, com as mais diversas qualidades e defeitos. Nessa edição das pílulas, falarei de três. Dois deles fazem parte dos dramas épicos sérios de Spielberg, e tem em comum pelo menos a longa duração. O outro é um filme diferente dos outros dois, mas talvez ainda mais emblemático que eles na carreira do cineasta.
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A Lista de Schindler (Schindler’s List, 1993): Baseado no romance de Thomas Keneally sobre o empresário alemão que salvou milhares de judeus do holocausto, esse longa deu a Spielberg o Oscar e é considerado por muitos sua obra-prima. Longo, belo e dramático, o filme é uma daquelas obras quase unânimes, realmente únicas. Não chorar ou ao menos se emocionar em alguns momentos, especialmente no final, é sinal de que não se tem muito apreço pelo ser humano. A Lista de Schindler permanece como um dos filmes mais importantes sobre o Holocausto, embora nunca se possa falar em registros “definitivos” desse episódio negro da história da humanidade. O que se pode dizer é que, além de drama histórico tocante e humano, o filme é um grito, um apelo pela identificação com o sofrimento alheio e pela postura ativa em defesa da vida, pois aquele que salva uma vida, salva todo o mundo.
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Contatos Imediatos do Terceiro Grau (Close Encounters of the Third Kind, 1977): Diferente dos outros filmes dessa lista, Contatos não é a adaptação de um romance. Por isso, é um projeto mais pessoal de Spielberg, e apresenta algumas idéias muito caras ao diretor. Longas em que os alienígenas são seres amistosos, buscando comunicação, e não predadores interestelares sedentos de sangue, eram uma raridade, mas Contatos entrou para a história como um desses filmes. Spielberg põe em prática aqui suas especialidades: pessoas comuns em situações extraordinárias, dramas familiares, e a utilização consciente dos efeitos especiais, que servem somente de escada para o verdadeiro encanto do filme. À medida que Roy fica mais obcecado por sua visão, Claude Lacombe descobre mais coisas sobre os avistamentos de OVNI’s e Gillian chega mais perto de encontrar seu filho, a tensão cresce, até culminar no espetacular e emocionante final, uma dessas cenas atemporais e cheias de significado e magia que fazem a sétima arte valer a pena.
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A Cor Púrpura (The Color Purple, 1985): Apaixonante. Difícil definir de outra forma essa outra obra-prima de Spielberg, e também o filme que eu mais gostei desses três das Pílulas. Como disse o crítico Roger Ebert, “não existe uma cena que não reflita o amor dessas pessoas por este filme”, e de fato, cada frame do longa pulsa, tamanho o sentimento que diretor, roteiristas, elenco, e o compositor da trilha sonora, Quincy Jones, depositaram nesta obra. Baseado no romance epistolar de Alice Walker, A Cor Púrpura retrata a vida de uma pessoa que era definida por todos os adjetivos ligados ao “elo fraco” da sociedade. Como diz um personagem do filme, Celie, a protagonista, é “preta, pobre e mulher”, e portanto não tem como se dar bem na vida. As passagens em que o filme retrata a opressão contra quem possui essas características são uma denúncia contundente contra os malditos machistas e racistas, e se encaixariam perfeitamente em qualquer filme denúncia. Porém, esse não é o caso aqui, A Cor Púrpura é uma história de seres humanos, e não de massas rotuladas. Ao contrário do que o começo do filme pode dar a entender, o enredo não conta uma seqüência de tragédias, mas sim a vida de alguém que, embora sofra muito, persiste sempre. As cenas finais do longa - desde a ceia de Ação de Graças, passando pelo coro da igreja, até chegar ao reencontro – são todas catárticas, e dão aquele aperto no coração que só quem conhece muito bem a alma humana, como Spielberg, pode proporcionar.
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3 comentários:

Juka disse...

Ah, 'A Lista de Schindler', que belo filme. Outra grande obra que fui forçada a conhecer pela escola -na aula de filosofia- e me apaixonei.
Devido ao meu grande amor à Filosofia, 'A Lista de Schindler' é um dos meus Spielberganos favoritos.
Lembro me até que meu aniversário de 15 anos foi inspirado em uma cena deste filme.
Tudo em volta, até as roupas dos convidados, era em branco e preto.
E eu estava, um pouco destacada, em vermelho.
Isso me remete à minha cena preferida do filme, da Dama em Vermelho. Mas acho que isso nao vinha ao caso :x

E 'A Cor Púrpura' me foi indicado por um amigo, quando eu comecei a ser muito pessimista, mas meu orgulho nao me permitiu ver.
Será que teria me ajudado? O que você acha?

Já 'Contatos Imediatos do Terceiro Grau' eu nunca tinha ouvido falar, lembro vagamente do nome, mas nenhum comentário. Tudo o que você disse me fez imaginar como um filme típico do Spielberg MESMO.

-estou encontrando, aqui no Amortescimento, uma utilidade pr'aquele pacote que temos na locadora... *-*-

voltarei sempre, obrigada. :D

Juka disse...

-pq meus comentários são sempre enormes?-

Diego Rodrigues disse...

Não sou fãzaço de A Cor Púrpura, mas é um bom filme e é um dos únicos que realmente mostrou o amadurecimento de Spielberg; já A Lista de Schindler é emocionante, o melhor trabalho na sua cadeira de diretor; enquanto Contatos Imediatos é um dos melhores filmes sobre o assunto já feitos.