terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A Felicidade Não Se Compra

Muito se discute sobre quais seriam os critérios universais para avaliar a Arte, e o cinema não escapa disso. Sempre se pergunta onde mora a qualidade artística, o que faz de um filme bom e de outro ruim, e por que o gosto subjetivo muitas vezes não tem nada a ver com essa avaliação. Alguns gostam também de procurar um objetivo para o cinema, de saber para que ele serve, se o propósito é divertir, emocionar, refletir, fazer pensar, ou simplesmente existir como objeto de, hmm... apreciação artística.

Pois bem. Dentre os diretores ítalo-americanos a despontar em Hollywood, um dos mais adorados, embora menos conhecido pelo público brasileiro, foi Frank Capra. Capra fez filmes com os grandes atores da sua época, Cary Grant, Gary Cooper, Clark Gable e, especialmente, James Stewart. Não era um estilista, não usava grandes truques de câmera nem fazia tomadas belíssimas, mas na mesa de edição foi insuperável, criando montagens dinâmicas, envolventes e perfeitamente adequadas às suas histórias. Isso fez dele um dos maiores cineastas da história.

Nesse filme, sua obra mais célebre, em plena véspera de Natal um homem, George Bailey, resolve se suicidar, pois acredita valer mais vivo do que morto. Um anjo então é enviado para a terra, com o objetivo de salvá-lo, e a isso segue-se um flashback que toma quase todo o filme, contando a vida de George desde a infância até os eventos que o fizeram desejar a morte. Para tirar de sua cabeça que se ele morresse a vida das pessoas da cidade seria melhor, o anjo “realiza seu desejo”, e mostra a ele como as coisas teriam acontecido se ele não tivesse nascido.

É a obra máxima do otimismo, o que a fez ser colocada na primeira posição entre os filmes mais inspiradores de todos os tempos pelo American Film Institute. Entretanto, não é boba nem piegas, mas sim divertida e emocionante, pois todos os envolvidos com a produção fizeram seu trabalho de maneira esplendorosa. Claro, as coisas como acontecem na história só acontecem mesmo no cinema, isso é inegável, e apesar de descobrir uma lição muito valiosa no final do filme, George desistiu de seus sonhos. Mas quem se apega a esse tipo de coisa está só querendo ser chato, posto que o filme é uma obra do coração, e seus efeitos devem ser sentidos pelo coração, não pela mente, ou corre-se o risco de acontecer algum conflito de linguagens.

Quem, porém, se desligar desse tipo de pensamento (que não costuma acometer muita gente, só mesmo quem quer ver coisas desse tipo) irá descobrir de novo como a vida é simples, como viver vale a pena, e como o amor pelo próximo, em todas as suas formas – fraternal, romântico, caridoso, etc. -, é a maior riqueza do homem. Sim, são coisas que, ditas assim, todo mundo sabe, mas na arte os conceitos triviais se transformam em verdades concretas, em verdades sensíveis, cativantes, catárticas. E é pra isso, afinal, que o cinema serve, para isso que ele foi criado... nos incutir coisas – histórias, sentimentos, idéias. E só por ter servido de veículo a um filme tão especial como A Felicidade Não Se Compra, a sétima arte já cumpriu seu papel nesse mundo. Que venham os lucros!
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Um comentário:

tati fadel disse...

grande desafio da arte em novos tempos: demonstrar que é possível a alegria com profundidade.