segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Meus 10 romances preferidos

Hoje, seguindo a "tradição" das listas de segundas, trago aquela que indica os romances que mais me marcaram. Eles são, em sua totalidade, romances modernos, no século XX, mas isso não foi nenhuma escolha premeditada. É que, por um lado, não li muitos romances mais antigos, do século XIX ou anterior, e por outro, é possível que eu me identifique mais com uma linguagem mais próxima de mim, mesmo que só cronologicamente. Enfim: mistério, mistério, mistério... Leiam a lista, leiam os livros nela contida, e também façam as suas próprias e postem aqui! Estarei esperando.
_________________

1. Ulisses, de James Joyce: O melhor e mais importante livro do século XX é também aquele que marcou o ponto de virada na minha vida de leitor. Antes dele, dedicava-me quase que somente a épicos de fantasia e ficção científica. Depois dele, o mundo da literatura descortinou-se diante dos meus olhos, e eu descobri o prazer da forma e do estilo. Já falei um bocado sobre Ulisses aqui neste blog, inclusive menos de dois meses atrás, quando foi comemorado o Bloomsday. Portanto, me abstenho de tecer maiores comentários a respeito deste monumento: o que nos cabe é lê-lo, e multiplicar assim seu alcance.

2. Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa: Outra obra transcendental, extremamente marcante para mim. Guimarães Rosa é, de longe, meu escritor brasileiro preferido (não à toa, ele é considerado o Joyce tupiniquim). O estilo místico, mítico e poético de Rosa, misturado ao valor que ele dá à linguagem, fazem de Grande Sertão uma referência, um motivo, como eu li em algum lugar, para que, daqui a alguns séculos, quando talvez o português for uma língua morta, as pessoas aprenderem-no somente para ler a obra. E, além disso, há o lado humano, universal, que trata dos nossos grandes temas, e o coloca ao lado de Dom Quixote, de Fausto, do Ulisses supracitado... Grande Sertão: Veredas é um triunfo, e precisa ser lido e celebrado.

3. O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien: Embora seja menosprezado por muitos dos ditos intelectuais, pela inteligentsia que o vê como uma obra infanto-juvenil, O Senhor dos Anéis é talvez o épico definitivo. Ele resgata os arquétipos e valores da infância da humanidade, quando obras como Beowulf, a Ilíada, a Odisséia, o Kalevala e outros poemas épicos surgiram,e os condensa em um único romance, cuidadosamente trabalhado e concebido. Já li O Senhor dos Anéis seis vezes, e a cada vez ele se me apresenta melhor, mais divertido, mais gostoso de ler. Marcou a minha vida de leitor, foi o meu "grande início", e por isso me é tão caro.

4. No Caminho de Swann, de Marcel Proust: Único livro de Em Busca do Tempo Perdido que eu li até agora, é também o primeiro volume. Atualmente, espero a sequência de publicação das ótimas edições da Globo para retomar (do início) a leitura, e então ir até o final. De qualquer modo, No Caminho de Swann já é, por si só, uma obra prima. O estilo lento e rebuscado do autor serve de instrumento para imergir totalmente o leitor em sua prosa. E o último páragrafo do livro, que remete cataforicamente ao final da série, é uma pérola que guardo permanentemente em minha lista de citações.

5. Lolita, de Vladimir Nabokov: O livro mais conhecido de Nabokov é, o que é injusto com a obra, conhecido principalmente por seu conteúdo polêmico. A história do professor que gosta de garotinhas, e empreende com uma delas uma viagem pela América escandalizou a sociedade da época, embora não contenha passagens explicitamente eróticas, como outro clássico polêmico, O amante de Lady Chatterley (do qual tratarei quarta-feira). Os grandes triunfos do livro são, em primeiro lugar, o fato de ser narrado pelo próprio professor pedófilo, o que exige do leitor uma atenção e uma concentração imensas em relação ao que é dito, caso contrário ele pode se ver enredado pelo discurso de Humber Humbert, tornando-se simpático a ele; e em segundo lugar pelo seu estilo, rebuscado, milimétrico e extremamente divertido.

6. O Processo, de Franz Kafka: Kafka, quando em vida, foi um completo fracasso. Mas seu legado, garantido ao mundo pela traição do amigo Max Brod, o colocou entre os melhores e mais importantes romancistas do século XX. Diferente de Proust ou Nabokov, o estilo de Kafka é seco, e diferente do de Joyce ou Rosa, direto. Ainda assim, ele opera verdadeiros milagres, com contruções hipnóticas e capítulos impossíveis de largar. Neste livro, Kafka antecipa a onda de regimes autoritários que assomaria a Europa após sua morte, com a história não terminada de um homem, Josef K., que é acusado de algum crime que desconhece, e acaba conhecendo as engrenagens de uma máquina escrupulosamente lógica, ainda que irracional e inumana. Assim como Flaubert em Bouvard e Pécuchet, Musil em Um Homem Sem Qualidades, e alguns outros gênios, Kafka chegou talvez em O Processo tão perto da Verdade que foi obrigado a parar.

7. Se um viajante numa noite de inverno, de Italo Calvino: Calvino tinha ligações com a corrente literária OuLiPo (Ouvroir de Littérature Potentiel, algo como oficina de literatura em potencial), e por isso gostava de experimentações em seus livros. Também gostava de escrever histórias curtas, contos formando um todo, como aparece em As Cidades Invisíveis e O Castelo dos Destinos Cruzados. Ambas as características estão presentes nesse Seu viajante... um dos livros mais originais da história da literatura. Pra começar, ele é o único livro narrado em segunda pessoa que eu conheço. Isso mesmo: Você, o Leitor, é o personagem principal, e a história começa justamente com Você lendo Se um viajante numa noite de inverno, o novo romance de Italo Calvino. Entretanto, Você logo percebe que há um problema de impressão no seu exemplar, e com isso um outro livro começa. Sucessivamente, Você vai percorrendo diversos romances, tentando ler cada um até o fim, inutilmente. Por meio desse recurso, Calvino exercita sua escrita em diversos estilos, e faz uma reflexão fascinante sobre a leitura, a literatura, e a maneira de contar histórias.

8. Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez: A saga dos Buendía na mitológica Macondo é um ao mesmo tempo melancólico e encantador romance. Os cem anos de solidão que a estirpe vive sobre a terra são o pano de fundo para diversos acontecimentos em que Márquez desenha lugares e personagens extraordinários, pessoas que têm suas vidas entremeadas com uma matéria onírica, que ao mesmo tempo é capaz de proporcionar alegrias e conquistas fora do comum, e caminhadas até o mais profundo vale de sombras. O estilo de Márquez é particularmente notável, um registro que, pela "indiferença", é capaz de encantar muito mais que alguns palavrórios desconjuntados.

9. Um Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce: Primeiro livro de Joyce que eu li de cabo a rabo, após o retumbante fracasso com a primeira tentativa de leitura de Dublinenses, O Retrato do Artista Quando Jovem já foi alvo da análise deste blog. Atualmente, empreendo a leitura no original em inglês, para poder sentir de maneira mais imediata a força que o som e as palavras têm nesse livro, característica que só faria aumentar nas obras subsequentes do escritor.

10. Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley: Outro livro que já foi objeto de resenha do Amortescimento, Admirável Mundo Novo é uma deveras admirável construção que mistura ficção científica, totalitarismo, Shakespeare e até um certo misticismo para retratar um mundo onde a felicidade e a satisfação são imperativos, e o conceito "humanidade" é algo tão puramente científico e racional que se torna inócuo. Assustador e, ao mesmo tempo, revelador, como todas as distopias devem ser, Admirável Mundo Novo é uma obra que mistura uma linguagem poética e sutil com um pesado conteúdo, mistura que dá muito mais do que certo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, meu caro, td bem? Passando para retribuir a visita ao meu blog.
Como vão as coisas?
Seu site está bem bacana, coisas boas, parabéns!
Bem, nao tenho aparecido aqui nem escrito no meu blog pois passo por um momento de total insipidez criativa, tudo aliado a problemas pessoais que me impedem de escrever.
Bem, espero retomar o ritmo em breve.
E que possamos trocar idéias, temos muitas figurinhas para trocar. Será um imenso prazer, amigo.

Grande abraço e tudo de bom.

Até mais!


elienai