Todo escritor tem uma palavra que considera especial. Uma palavra símbolo, enigma, uma palavra chave que, às vezes abre, mas mais frequentemente fecha suas portas. Não que a palavra seja necessariamente especial em sua obra, mas de certa forma ela toma contornos místicos, seja por sua hermeticidade ou simbolismos. Clarice teve o ovo, Guimarães Rosa, nonada. Para Joyce, eram ALP e HCE, para Ítalo Calvino, Qwfwq. Os filósofos do impossível usam fnord. Quanto a mim, para meu usufruto e deleite, tomo a singular palavra Xurepa. Mas o que é Xurepa?
Xurepa é uma coisa das rurgs, que puon e espõen a rerks twuturais.Xurepa é a régueque roisti a ongs troloris tworiqui coquais.
Xurepa é a mesa posta para o café da manhã, antes que os braços que se espreguiçam e as bocas que se abrem se dêem conta de que o sonho acabou. Xurepa é o almoço farto, vorazmente devorado de uma marmita enquanto se equilibra na viga a mais de cem metros de altura. Xurepa é o jantar e a ceia que se transmudam em azia e numa noite de rei.
Xurepa é verbo, advérbio e provérbio. É preposição, reposição, deposição. Xurepa é substantivo, transubstantivo, adjetivo e etcetera. Xurepa é o som das palavras borbulhadas debaixo d’água. É a poesia cantada pelos rapsodos e trovadores; a epopéia compilada pelos diascevastas. Xurepa é a palavra e o som, o vernáculo e a gramática; é a prosódia e a dicção, o canto suave e o grito melódico.
Xurepa é uma palavra redonda, circular, esférica: o O que se forma de lábios exalando espanto; o lado escuro do sol e o lado luminoso da lua, invisíveis e inexistentes, somente esperando que alguém os descubra; o número mais singular. Xurepa é uma palavra quadrado, uma palavra cubo: ela rola ladeira abaixo com estardalhaço e má vontade; ela se põe no meio do caminho como uma pedra inconveniente; ela chora pelos cantos as lembranças do passado. Xurepa é triângulo, e triângulo é Xurepa, ambos perfeitos no sagrado e no profano.
Se Xurepa fosse choupo, cepa não seria.
O barulho que o carro faz ao dar partida é Xurepa. O relinchar dos cavalos, o mugir dos bois, os latidos e miados são Xurepa. Os metais, as cordas, a percussão: Xurepa. Xurepa é um número, todos os números. É a música dos deuses, é a música dos anjos, é a música dos demônios. Xurepa é a ilha do tesouro, o mapa da mina, o pote de ouro no fim do arco-íris.
Xurepa é o caminho que trilhamos, a estrada que percorremos, a trilha que traçamos. Xurepa é o regresso, a falha, o fracasso. Xurepa é as pontes, é os jardins, é as torres. Xurepa é os grãos de areia na orla do multiverso. É o verso e a linha, a frase e o parágrafo. O texto, o contexto, o hypertexto e o palimpsesto. Xurepa é o beijo do só, o choro do alegre e o olhar do enamorado.
Xurepa é o pó, o silêncio e a solidão. Xurepa é o rejúbilo, o êxtase e o carnaval.
Xurepa é as estrelas nascendo e morrendo, as cinzas do Universo, os buracos negros e os pilares da Criação. Xurepa é a velocidade da luz, a massa e a energia. Xurepa é as órbitas dos planetas, as rotações e translações, as relações e redações e tribulações, os torvelinhos e redemoinhos e a voragem dos anos-luz.
Xurepa é A e Z, é Alfa e Ômega, é Aleph e Tau.
Xurepa é a realidade e a imaginação, a vigília e o sonho, a causa e o efeito, a ação e a reação, a razão e a emoção. Xurepa é o fim e o começo, o cheio e o vazio, o yin e o yang, o tudo e o nada, o infinito e a eternidade, a vida e o além, o nascimento e a morte.
Xurepa é Xurepa.
3 comentários:
XUREPA
que coisa mais xurepenta, MEO SANTO ANTONIO
OH LAWD
HARD
Keep Xurepin.
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