sábado, 15 de dezembro de 2007

Xurepa

Todo escritor tem uma palavra que considera especial. Uma palavra símbolo, enigma, uma palavra chave que, às vezes abre, mas mais frequentemente fecha suas portas. Não que a palavra seja necessariamente especial em sua obra, mas de certa forma ela toma contornos místicos, seja por sua hermeticidade ou simbolismos. Clarice teve o ovo, Guimarães Rosa, nonada. Para Joyce, eram ALP e HCE, para Ítalo Calvino, Qwfwq. Os filósofos do impossível usam fnord. Quanto a mim, para meu usufruto e deleite, tomo a singular palavra Xurepa. Mas o que é Xurepa?

Xurepa é uma coisa das rurgs, que puon e espõen a rerks twuturais.Xurepa é a régueque roisti a ongs troloris tworiqui coquais.

Xurepa é a mesa posta para o café da manhã, antes que os braços que se espreguiçam e as bocas que se abrem se dêem conta de que o sonho acabou. Xurepa é o almoço farto, vorazmente devorado de uma marmita enquanto se equilibra na viga a mais de cem metros de altura. Xurepa é o jantar e a ceia que se transmudam em azia e numa noite de rei.

Xurepa é verbo, advérbio e provérbio. É preposição, reposição, deposição. Xurepa é substantivo, transubstantivo, adjetivo e etcetera. Xurepa é o som das palavras borbulhadas debaixo d’água. É a poesia cantada pelos rapsodos e trovadores; a epopéia compilada pelos diascevastas. Xurepa é a palavra e o som, o vernáculo e a gramática; é a prosódia e a dicção, o canto suave e o grito melódico.

Xurepa é uma palavra redonda, circular, esférica: o O que se forma de lábios exalando espanto; o lado escuro do sol e o lado luminoso da lua, invisíveis e inexistentes, somente esperando que alguém os descubra; o número mais singular. Xurepa é uma palavra quadrado, uma palavra cubo: ela rola ladeira abaixo com estardalhaço e má vontade; ela se põe no meio do caminho como uma pedra inconveniente; ela chora pelos cantos as lembranças do passado. Xurepa é triângulo, e triângulo é Xurepa, ambos perfeitos no sagrado e no profano.

Se Xurepa fosse choupo, cepa não seria.

O barulho que o carro faz ao dar partida é Xurepa. O relinchar dos cavalos, o mugir dos bois, os latidos e miados são Xurepa. Os metais, as cordas, a percussão: Xurepa. Xurepa é um número, todos os números. É a música dos deuses, é a música dos anjos, é a música dos demônios. Xurepa é a ilha do tesouro, o mapa da mina, o pote de ouro no fim do arco-íris.

Xurepa é o caminho que trilhamos, a estrada que percorremos, a trilha que traçamos. Xurepa é o regresso, a falha, o fracasso. Xurepa é as pontes, é os jardins, é as torres. Xurepa é os grãos de areia na orla do multiverso. É o verso e a linha, a frase e o parágrafo. O texto, o contexto, o hypertexto e o palimpsesto. Xurepa é o beijo do só, o choro do alegre e o olhar do enamorado.

Xurepa é o pó, o silêncio e a solidão. Xurepa é o rejúbilo, o êxtase e o carnaval.

Xurepa é as estrelas nascendo e morrendo, as cinzas do Universo, os buracos negros e os pilares da Criação. Xurepa é a velocidade da luz, a massa e a energia. Xurepa é as órbitas dos planetas, as rotações e translações, as relações e redações e tribulações, os torvelinhos e redemoinhos e a voragem dos anos-luz.

Xurepa é A e Z, é Alfa e Ômega, é Aleph e Tau.

Xurepa é a realidade e a imaginação, a vigília e o sonho, a causa e o efeito, a ação e a reação, a razão e a emoção. Xurepa é o fim e o começo, o cheio e o vazio, o yin e o yang, o tudo e o nada, o infinito e a eternidade, a vida e o além, o nascimento e a morte.

Xurepa é Xurepa.

3 comentários:

Francisco disse...

XUREPA

Sib disse...

que coisa mais xurepenta, MEO SANTO ANTONIO

Anônimo disse...

OH LAWD

HARD


Keep Xurepin.